sábado, 8 de dezembro de 2018


08 DE DEZEMBRO DE 2018
MÁRIO CORSO

Dê um presente para seu futuro filho


É difícil quando alguém em terapia diz que não gosta do nome que recebeu. Embora nosso prenome seja o que temos de mais íntimo, ao mesmo tempo é o mais alheio. Nos nomeia, mas não diz de nós, e sim dos nossos pais. Somos a bandeira aberta daquela escolha fundadora. Com essa queixa, abre-se a gramática de outros lamentos.

Às vezes, não é drama psicológico, é estético mesmo. O filho pergunta-se por que razão obscura escolheram para ele um nome entre o impronunciável e o exótico - quando não esdrúxulo.

Vivi isso na minha família. Não bastasse meu avô chamar-se Ubaldino, casou-se com a Erzelina. Nomearam suas filhas de Nazi e Zinah, respectivamente minhas tia e mãe. Dos traumas da separação dos seus pais, minha progenitora lamentava o que julgava uma particular injustiça.

Casado novamente, meu avô seguiu atraído por nomes raros, apaixonou-se pela Avlisa. Já os filhos dessa união foram batizados de Jorge e Maria da Graça. A partilha desigual, que destinou as esquisitices às primeiras filhas e nomes normais aos seguintes, deixou minha mãe chateada.

Ter um filho é um presente do destino. O impulso de mostrar ao mundo essa singularidade mágica move os pais a batizá-los com suas mais altas esperanças. É por querer o melhor para eles, e dar-lhes uma imparidade, que os pais inventam nomes peculiares. Isso é tanto mais forte quanto menos os pais acreditarem na força do sobrenome que legam.

Com o que aprendi com a Zinah, aliado ao que escuto em consultório, eu os aconselho: não inventem. Deem aos seus filhos a dádiva de um nome comum. Esses fáceis de escrever e pronunciar. Lembre-se, ele vai arrastar e soletrar vida afora a ideia "genial" que vocês tiveram.

Peguem o caminho da simplicidade. Aqui, menos é mais. Nada de Y, W e K, letras que saíram do nosso alfabeto, que servem apenas para simular um falso estrangeirismo. Quanto mais supostamente cosmopolita, mais jeca. O mesmo vale para dobrar consoante: os Pabllos e Luciannes atestam provincianismo.

Quando a Uysquiane e o Ygorelthon disputarem com a Ana e o Lucas uma vaga, e o currículo equivaler, o empregador preferirá um nome simples associado a si e não os "originais". Sim, é preconceito, mas o mundo ainda é assim. Melhor evitar o que der.

Em alguns países, proíbem a criatividade paterna. Existe uma lista de nomes possíveis a escolher. Pensem na parte prática. Sempre haverá um funcionário relapso que esquecerá do H, desses que são inseridos entre quaisquer letras. Imaginem o pobre Thiago rebolando para provar para a burocracia que ele é ele.

Mas já pus um nome desses no meu filho, o que faço? Abrace a Cytrhianne e diga que ela é única! Apesar de tudo, essa poé- tica criativa do prenome exótico embute um gesto de carinho: a expectativa imensa de um destino melhor do que o dos pais.

MÁRIO CORSO

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