04 DE DEZEMBRO DE 2018
CARREIRA
Cuidadores em expansão no país
TRABALHO COM IDOSOS cresceu 547% na última década, mas ofício ainda é prejudicado pela falta de regulamentação própria
Fernanda Gomes Laureano, 25 anos, descobriu na atenção aos idosos o seu ofício. Depois de anos trabalhando como empregada doméstica, passou a ajudar uma vizinha que cuidava de um homem em idade avançada e tomou gosto pela atividade. Neste ano, começou a fazer um curso para ampliar seu conhecimento em controle de medicação, troca de fraldas e abordagem psicológica.
- Quero obter o certificado para conseguir fazer meu trabalho ainda melhor - afirma.
Fernanda reveza com sua prima Jaciara Laureano Monteiro, 28 anos, os cuidados com Oscar Fontoura, 93, na casa dele, no bairro Moinhos de Vento, na Capital. Ele morava sozinho até o início deste ano, mas passou a ter dificuldade para realizar as tarefas do dia a dia. Jaciara cuida de idosos há 10 anos e vê potencial para que o ofício avance com velocidade:
- A expectativa de vida dos brasileiros é cada vez maior. Ao mesmo tempo, os filhos nem sempre conseguem estar ao lado dos pais para dar suporte. Nosso trabalho será cada vez mais necessário.
ATIVIDADE É CONSIDERADA UMA DAS MAIS PROMISSORAS
Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), reforça a percepção de Jaciara. O estudo mostra que o número de pessoas que trabalham como cuidadores de idosos passou de 5.263, em 2007, para 34.051, em 2017, alta de 547% - tornando a ocupação a que mais cresceu no país na última década. A atividade também é apontada por consultores de recursos humanos como uma das mais promissoras no Brasil.
- O mercado está em expansão e se tornou uma opção profissional tanto para quem tem alguma experiência na área da saúde quanto para quem busca o primeiro emprego - explica Gicele Melo, coordenadora e diretora da ONG Projeto Surfar, que oferece cursos gratuitos para cuidadores de idosos em Porto Alegre.
Por muito tempo, as famílias chamavam parentes distantes, vizinhos ou buscavam indicações pessoais para designar um acompanhante aos idosos. Às vezes, os próprios familiares faziam este papel. Nos últimos anos, isso mudou. Os profissionais passaram a ser escolhidos com mais cautela junto a agências especializadas ou por indicação de enfermeiros ou técnicos de enfermagem.
Em um mercado mais especializado, a qualificação se tornou fundamental, explica Fernanda Rodrigues, professora dos cursos de Cuidadores de Idosos do Senac Saúde em Porto Alegre:
- Ser cuidador é inerente ao ser humano, mas é preciso se qualificar para exercer esta atividade da maneira mais profissional e eficiente possível, inclusive de forma a ampliar, com qualidade, a expectativa de vida do idoso.
Uma barreira para a ocupação ainda é a falta de regulamentação. Em fevereiro, a comissão de assuntos sociais do Senado aprovou a regulamentação da profissão de cuidador de idosos, pessoas com deficiência e doenças raras. Mas o projeto ainda não foi ao plenário.
Como a profissão ainda não tem regras próprias de jornada de trabalho, qualificação mínima ou designação de tarefas, por exemplo, nos trabalhos a domicílio, muitas vezes, a carteira é assinada como "doméstico", compartilhando dos mesmos direitos trabalhistas.
Também é possível trabalhar em agências, que contratam os cuidadores e fornecem serviço para famílias. Nesse caso, a responsabilidade jurídica é da empresa, e cabe aos familiares pagarem o valor estabelecido. Outra opção é se tornar microempreendedor individual (MEI) e prestar serviços para clínicas especializadas ou casas geriátricas, já que a atividade pode ser enquadrada no MEI.
ERIK FARINA
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