06 DE DEZEMBRO DE 2018
DIÁRIOS DO MUNDO
MACRON EN MARCHE ARRIÈRE
A proposta de aumento nos combustíveis pelo governo francês é de 6,50 centavos de euro (R$ 0,28) por litro no preço do diesel e de 2,90 (R$ 0,12) no da gasolina. Mas, como diriam os manifestantes das jornadas de junho de 2013 no Brasil, não é só por cinquenta centavos que os chamados coletes amarelos (gilets jaunes) incendiaram Paris e boa parte do país nos últimos três sábados (nas fotos, imagens do dia 1º).
As barricadas que colocaram o governo de Emmanuel Macron de joelhos são espelho dos problemas franceses - tão amplos que fica difícil reuni-los em uma só pauta. Os manifestantes até tentaram. Para negociar com ministros, o movimento, que não tem liderança unificada ou mediação de partidos e sindicados - mais semelhanças com o Brasil de 2013 -, juntou 42 itens, que vão de tirar os sem-teto das ruas, passam pela exigência de estacionamento gratuito no centro das cidades e chegam, enfim, ao preço dos combustíveis.
Macron aproveitou-se de seu capital eleitoral para colocar literalmente En Marche, o sugestivo nome de seu partido, as reformas que visam a modernização do Estado e a dinamização da economia - a mais polêmica delas, a reforma trabalhista. Abusou da autoconfiança e pisou na bola ao acreditar que poderia mexer nas estruturas da República sem negociar com oposição e sindicatos. Como mostram as barricadas de Paris 2018, Macron tocou no limite da paciência da classe média.
A França tem tradição de greves e protestos, mas desta vez o movimento surgiu de forma espontânea, pelas redes sociais - ó, 2013 de novo aí - em cidades do interior, com déficit de transporte público e onde trabalhadores são mais afetados pelo aumento do diesel e da gasolina.
Macron se orgulhava de não se deixar intimidar pelo clamor das ruas e de não retroceder em suas promessas de campanha - e, por isso, é criticado por certo estilo autoritário -, foi obrigado a dar marche arrière. Queria se diferenciar de François Hollande e Jacques Chirac, que cederam à opinião pública. Não deu.
Há dois efeitos imediatos do recuo. O primeiro: cedeu uma vez, pode ceder de novo. O segundo efeito é internacional. Elevar o preço dos combustíveis visava desestimular o uso de fontes de energia poluentes. É estratégico na luta contra o aquecimento global, tema caro no país palco do Acordo de Paris. A marcha a ré envia um péssimo sinal ao mundo - e dá munição aos críticos do tratado, como Donald Trump -, em meio à conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que ocorre em Katowice, na Polônia.
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