sábado, 29 de dezembro de 2018


29 DE DEZEMBRO DE 2018
INDICADORES - Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS

Que 2019 não seja um ano velho



Tenho lido analistas de mercado sugerirem que o governo Temer acaba relativamente bem, tendo feito algum dever de casa, com reformas importantes. De acordo com estas análises, a PEC do Teto dos Gastos, a reforma trabalhista e a política de juros foram importantes ações para promover a retomada da economia. Bem, não me parece ter funcionado tão bem até aqui. Esperava-se que encerraríamos 2018 em situação bastante melhor - o que incluiria uma condição fiscal um pouco mais confortável, maior crescimento econômico, menor desemprego e inflação controlada.

A inflação, de fato, está sob controle, por mérito da acertada política monetária conduzida pelo Banco Central e também da crise. Mas, é só. A situação fiscal complexa, herdada do governo Dilma, ignorou a "pedagogia" do teto de gastos - inclusive com ações bastante emblemáticas como o aumento do salário dos ministros, sancionado pelo presidente Michel Temer sem constrangimento. Alguns dizem que o teto moraliza o gasto, pois seria possível aumentar o investimento em saúde, por exemplo, desde que se mova recursos de outras áreas em benefício desta. Será ingenuidade?

Já a reforma trabalhista foi aprovada com a promessa de melhorar o ambiente de contratação de funcionários, o que aumentaria o emprego. Não aumentou e encerramos o ano com mais de 12 milhões de desempregados. Nenhuma regulação trabalhista é capaz de gerar emprego, mas pode ser um estímulo positivo adicional, reduzindo insegurança jurídica. Nisso, acredito que a reforma tenha atuado. Mas, não sem transferir boa parte do custo para o trabalhador. É ele que, agora, ganhando salário por hora intermitente, poderá ter de pagar perícia técnica no caso de uma insalubridade duvidosa, por exemplo.

Para 2019, então, eu desejo que o desenvolvimentismo ultrapassado que se desenha não prospere. As políticas já em curso precisarão ser complementadas por outras, de modo a organizar de verdade a estrutura econômica do país, levando em conta também os custos envolvidos e a sua distribuição.

Crescimento econômico e emprego são os fundamentos de uma economia dinâmica. Mas, eles precisam significar a melhoria de vida de todas as pessoas. Neste sentido, o aprofundamento das desigualdades não pode ser desconsiderado, como foi no passado. Enfim, entre otimismo e pessimismo para 2019, fico com o realismo: temos muito trabalho pela frente.

Ely José de Mattos escreve aos fins de semana, a cada 15 dias - ELY JOSÉ DE MATTOS

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