01 DE OUTUBRO DE 2018
L. F. VERISSIMO
Respire fundo
Existir é muito melhor do que não existir, acho que nisso estamos de acordo. Há quem diga que não existir tem suas vantagens - não se paga mais imposto, por exemplo -, mas são poucos. A maioria prefere ficar viva nem que seja para não perder o fim da novela. E ninguém ainda voltou do "outro lado" para nos dizer como é não estar vivo. Eu não tenho a menor curiosidade para saber como é a alternativa para existir.
Há casos em que a alternativa para o que existe é conhecida. Já passamos pela alternativa para a democracia e sabemos muito bem como ela é, num país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder mais alto e armado. Tivemos vinte anos desta alternativa e quem tem saudade dela precisa ser constantemente lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não havia era investigação para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia perseguição política e tortura, enquanto a presidência do país passava de general para general.
Ao contrário da morte, de uma experiência totalitária se volta, de preferência com uma lição aprendida. Piores do que uma geração sem idade para se lembrar como foi são os que sabem como foi aquele tempo e querem repeti-lo. O entusiasmo até de quem menos se espera por um "governo de força" surpreende. Vamos ver o que vai dar. Até tudo se definir nas urnas, respire fundo.
NA CAPA
(Da série "Poesia numa hora dessas?!")
Deus, vaidoso como todo artista,
Quis, em forma de revista,
Publicar um catálogo do seu labor
Da primeira ameba à última flor.
Faltou decidir o que iria na capa
Uma eleição que quase acabou em tapa.
A aurora borealis? Uma noite de luar?
Nada disso, disse Deus. Sai a Patricia Pillar.
TCHAU
Vou tirar férias. Volto no dia 5 de novembro. Vê lá o que vocês vão fazer.
L. F. VERISSIMO
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