terça-feira, 2 de outubro de 2018


02 DE OUTUBRO DE 2018
RECORTES DE VIAGEM

Monumento à tolerância


Há lugares, mundo afora, que deveríamos ser obrigados a visitar. Pensei nisso ao conhecer os campos de concentração da II Guerra na Polônia, anos atrás. E tive uma sensação parecida ao chegar ao Museu do Nosso Senhor no Sótão (Our Lord in the Attic), no centro de Amsterdã. Não se trata apenas de uma casa-museu nem de uma igreja qualquer. A casa-museu e a igreja recontam a história de um tempo e estão ali a nos dizer que não deveríamos repeti-lo.

Há uma palavra que permeia toda a visita - que pode ser bem tranquila e demorada, já que não é dos lugares concorridos como a Casa de Anne Frank, por exemplo, não muito longe dali. A palavra a que me refiro é tolerância. Ela estava na minha cabeça muito antes de ser lida no piso de uma das salas do museu em dezenas de idiomas diferentes.

Construída entre 1661 e 1663, na chamada Era de Ouro holandesa, a igreja é obra do alemão Jan Hartman, um rico comerciante católico. Ele a erigiu com riqueza de detalhes e de forma clandestina. Nos andares mais baixos, ficava a residência da família e os aposentos do padre responsável pelas cerimônias religiosas. O templo ganhou os andares mais altos dos três edifícios de propriedade do comerciante, à margem de um dos muitos canais da capital holandesa. Ele não o fez por excentricidade. 

A Nosso Senhor do Sótão é uma das chamadas "igrejas escondidas" de Amsterdã, onde se reuniam fiéis de religiões cuja fé não poderia ser professada publicamente naquele tempo pós-Reforma, quando outros credos foram proibidos. Não que as autoridades locais não soubessem de sua existência. Até sabiam, mas a toleravam. E, por isso, virou um símbolo nacional da liberdade religiosa.

O espaço restrito levou os construtores a artimanhas como o púlpito móvel encaixado atrás do altar e ao uso de materiais mais leves para que a estrutura os suportasse. Mas você esquecerá que essa não é uma igreja comum, tamanha a perfeição dos detalhes. Restaurada inúmeras vezes, foi mantida sempre muito perto de sua forma original, incluindo as cores. O prédio todo, da lojinha ao café moderno, é um convite a uma visita diferente e agradável, mas, ao mesmo tempo, instigante.

ROSANE TREMEA

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