06 DE OUTUBRO DE 2018
PAULO GERMANO
VAMOS DEIXÁ-LO GOVERNAR, PACIÊNCIA
Se você fosse católico,não podia aceitar umrei protestante e, sefosse protestante, não podia aceitar um rei católico.Era assim na França do século 16, quando uma sucessão de guerras civis praticamente inviabilizouo Estado francês. Foi feia a coisa.
Porque, quando a sociedade atinge esse nível de divisão, quando ela é claramente repartida em duas, o primeiro reflexo é o princípio da autoridade se esfarelar. Uma das partes sempre dirá que a autoridade fala em nome da outra parte, e não em nome de todos.
O receio maior, claro, é de que essa autoridade submeta a nação inteira a uma ideologia que metade odeia. Foi exatamente o que motivou as sangrentas guerras entre católicos e protestantes, com centenas de milhares de mortos se amontoando nas ruas da França.
Quase cinco séculos depois, no Brasil de 2015, o princípio da autoridade também se desmanchava - surgiam os panelaços toda vez que Dilma abria a boca. Acabava ali a vontade até de questionar, de contestar a autoridade: os descontentes agora não viam sentido sequer em escutar o que ela dizia. Mal reconheciam sua existência, não enxergavam nela legitimidade alguma.
Porque entendiam, claro, que ela falava em nome da outra parte, e não em nome de todos.
Agora, bem, a situação piorou um pouquinho. Depois de um impeachment, de uma série de protestos, de um líder sendo preso e de outro líder crescendo, a divisão entre nossos católicos e protestantes se aprofundou mais. E parecem todos fardados para a guerra santa.
Não há dúvida de que é fundamental na democracia respeitar o resultado das urnas: quem a maioria eleger será o nosso presidente e acabou, paciência. Já disse, o ideal seria que nem um nem outro vencesse, melhor seria um caminho do meio, mas, pelo jeito, não é o que o povo quer - e, se não é o que o povo quer, vamos respeitar.
Mas e o rei? Ao assumir o trono, coroado por uma das partes, estará disposto a governar em nome de todos, ou vai governar em nome da sua parte? Os indícios não são lá dos melhores. O candidato do PT, na semana que passou, atribuiu o crescimento de sua rejeição ao "fortalecimento do fascismo" na elite brasileira. Quer dizer: a culpa, de novo, é da outra parte, nunca dele.
Já o candidato do PSL, durante a campanha, deu inúmeros sinais de que só sabe lidar com agitação social na bala - ora, se existe uma certeza sobre o futuro do país, é que a parte derrotada, não importa qual, vai ficar meio braba. E nenhum dos candidatos parece muito afeito à ideia de lutar pela paz.
Quando há uma divisão maniqueísta entre fanáticos que só confiam em sua própria doutrina, ideia, igreja ou partido - deixando de lado a prudência e até a democracia -, não é nenhum absurdo pensar no pior. Para não ficar lá na França do século 16, peguemos a Venezuela de agora: houve enfrentamentos civis aqui do lado.
Não quero soar alarmista, longe de mim. Mas acho bom o futuro reizinho já ir descendo do salto. E nós aqui, por favor, seja católico ou protestante, que a gente aceite que a voz do povo é a voz de Deus.
PAULO GERMANO
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