24 DE OUTUBRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
A CAMPANHA E A REALIDADE
A distância entre promessas e a dura vida de administrar um orçamento limitado e repleto de demandas é a grande responsável por frustrações que se tornaram frequentes entre o eleitorado
A campanha presidencial encaminha-se para o final sem que os dois candidatos em disputa pelo Planalto no segundo turno tenham deixado claro o fato de o país estar diante de uma das maiores crises do setor público na história recente. As dificuldades, geradas pelo uso irresponsável de dinheiro dos contribuintes ao longo de sucessivas administrações, se chocam com muitos compromissos assumidos perante os eleitores, com o objetivo unicamente de atrair votos. Não há previsão orçamentária para atendê-las, pelo menos em 2019, quando a prioridade será justamente o enfrentamento do déficit, assegurando ao país um horizonte de equilíbrio nas contas públicas.
Prometer, principalmente em períodos nos quais os candidatos precisam de apoio, sempre foi fácil. Fazer aparecer o dinheiro capaz de permitir a transformação de propostas eleitorais em realidade é que se mostra o verdadeiro desafio. É compreensível que nenhum político, por mais franco que seja, se disponha a dar más notícias e a anunciar sacrifícios durante a campanha. Por mais que a situação do país seja difícil, quem se propõe a disputar um cargo como gestor público evita passar a ideia de pessimismo, o que é compreensível.
Ainda assim, a distância entre promessas e a dura vida de administrar um orçamento limitado e repleto de demandas é a grande responsável por frustrações que se tornaram frequentes entre o eleitorado. No calor da disputa, por exemplo, ambos os candidatos se comprometeram em favorecer os beneficiários do Bolsa Família, preocupados em conquistar o maior número de votos nessa faixa do eleitorado.
Por mais que faltem detalhes, promessas assistencialistas geram expectativas e tendem a ser cobradas depois. Esse tipo de aceno, portanto, deveria ser feito sempre com base na realidade dos números do caixa do setor público, que, neste momento, não oferecem margem para medidas dependentes de receitas extras, sejam quais forem os interesses em jogo.
Os candidatos também não se dão conta de que administram muitas vezes interesses conflitantes - o benefício a uma camada ou setor da sociedade, geralmente, é correspondido pela perda subsequente de vantagens de outras parcelas da população. Neste cenário de voluntarismo e baixa disposição para mostrar a realidade das contas públicas, como se bastasse um desejo para materializar boas novas, a decepção é o único fator com certo grau de previsibilidade no horizonte político brasileiro.
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