quarta-feira, 3 de outubro de 2018



03 DE OUTUBRO DE 2018
ARTIGO

FAKE NEWS, UMA ARMADILHA

Uma das grandes armadilhas das eleições de outubro são as fake news. Boatos, mentiras e armações que são propagados como se fossem verdades. Montagens estruturadas com textos, fotos, números, logotipos e outros itens usados para confundir as pessoas. Através de redes sociais, esses materiais, sem qualquer veracidade, são repassados dezenas, centenas e, em alguns casos, milhares de vezes. É um estrago sem tamanho.

O eleitor brasileiro, na ânsia de ver seu candidato sendo bem falado ou na tentativa de desqualificar o adversário, não checa nem apura o que recebe. Simplesmente repassa o material. Vira uma terra sem lei, onde difamar, caluniar ou mentir é regra sem constrangimento.

O repasse de fake news significa que o eleitor vai construindo a própria armadilha da qual será a vítima. Quem perde com tanta falta de credibilidade é a sociedade. A instabilidade afeta a todos indiscriminadamente. Ali na frente, você poderá ser vítima de uma fake news. No seu trabalho, com a sua família ou numa questão pessoal.

E as pessoas vão repassar, pois você também repassou sem pesquisar, sem apurar, sem fazer duas perguntas básicas: isso é verdade mesmo? E, se fosse o meu nome e a minha foto, eu iria repassar sem apurar a veracidade?

Em 2018, a OAB/RS está envolvida numa grande campanha denominada Vote Consciente.

Uma das principais bandeiras da campanha é a do combate às fake news. Procuramos mobilizar os cerca de 100 mil advogados gaúchos para não se tornarem participantes dessa prática nada salutar de difundir mentiras e montagens falsas.

Mais do que isso, recomendamos que apurem, junto a veículos de comunicação de credibilidade e a jornalistas sérios, a veracidade de materiais que gerem dúvidas. Temos profissionais de comunicação zelosos e éticos com a informação. Eles, sim, são fontes a serem consultadas, e cada cidadão pode escolher aqueles jornalistas com quem mais se identifica.

Não às fake news. Não às mentiras. Não construa a sua própria armadilha.

O BRASILEIRO VOTA MAL?

MARCELO GRIEBELER, Professor de Economia da UFRGS - marcelo.griebeler@ufrgs.br

É comum ouvirmos que o brasileiro escolhe mal seus políticos. De fato, a qualidade de nossos eleitos, em termos de competência e honestidade, parece ser muito baixa e inferior à dos de outros países. Mas, se votamos mal, quais são as razões? As possibilidades sugeridas pelo senso comum e pela academia se concentram em três. 

A primeira é a de que somos pouco informados ou pouco instruídos, tal que votamos sem ter acesso a toda a informação relevante. A segunda argumenta que seríamos irracionais, não aprendendo com os erros do passado (brasileiro não tem memória). Por fim, talvez sejamos simplesmente tolerantes à corrupção (a ideia do “rouba, mas faz”).

Todas essas hipóteses foram investigadas e refutadas pela literatura em Economia Política. De fato, ao pensarmos quem eram as outras opções nas eleições passadas, concluímos que os não eleitos não eram melhores do que os eleitos. O que acontece com o Brasil é que nossa “oferta de candidatos” é composta quase que totalmente por políticos de baixa qualidade (competência e honestidade), o que restringe as escolhas dos eleitores. 

As razões para a dominância desse tipo de político também são estudadas na literatura. Primeiro, os cidadãos de alta competência possuem uma vantagem comparativa no que diz respeito ao salário na iniciativa privada, de forma que a atratividade financeira da política precisa ser maior para esse tipo de cidadão. Além disso, políticos ruins criam uma imagem ruim para toda a classe, o que faz com que competentes e honestos não aceitem ingressar em um grupo visto como incompetente e desonesto. 

O efeito mais perverso, contudo, ocorre porque os fatores que podem atrair bons candidatos (remuneração, ausência de corrupção etc.) estão sob o controle daqueles já eleitos, os quais não têm interesse em mudar. O resultado é uma perpetuação não apenas de maus políticos, mas principalmente de maus candidatos.

Votamos mal? Talvez. Mas o que precisamos corrigir urgentementesão nossas instituições políticas e econômicas, de modo que haja incentivo para cidadãos honestos e competentes se interessarem  pela política.

Advogado e presidente da OAB/RS gabinetedapresidencia@oabrs.org.br
RICARDO BREIER

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