26 DE MARÇO DE 2018
EDITORIAL
LUZES E SOMBRAS DE UMA CELEBRAÇÃO
Porto Alegre chega aos 246 anos com muitos desafios relevantes: recuperar sua autoestima, superar a crise financeira que degrada a olhos vistos os serviços públicos, estancar a evasão de cérebros e talentos, atrair e facilitar investimentos e abrir novas perspectivas econômicas que gerem emprego e renda. A capital dos gaúchos celebra seu aniversário em um misto de orgulho e temores. Esse sentimento dúbio e aparentemente contraditório representa, na verdade, uma oportunidade de evolução. Pesquisas revelam, por exemplo, que a segurança está no topo das preocupações dos habitantes da cidade, um alerta fundamental para dar paz à população e, com isso, favorecer todas as atividades inerentes a uma metrópole, entre elas a convivência e o prazer da descoberta da própria cidade.
As cidades se desenvolvem a partir da identificação e do investimento em vocações naturais, mas Porto Alegre ainda extrai pouco proveito de suas inclinações para as áreas da saúde, da educação, a cultura e, também, o futebol. Reconhecer a excelência nessas áreas não significa ignorar os problemas, mas sim apontar a necessidade de uma ação coordenada que acelere o desenvolvimento e a geração de renda das vocações, de modo que os benefícios se espalhem para todos os campos da Capital.
É justamente esse contraste que muitas vezes turva a visão de futuro. É difícil aceitar que uma cidade com medicina de ponta tenha tanta gente desassistida e que uma região com algumas das melhores universidades do país ostente índices capengas na educação. A boa notícia é que as soluções não estão necessariamente distantes. Cabe aos porto- alegrenses, e a suas lideranças, saber alargar o alcance desses avanços, em favor de todos.
Alguns sinais claros já se materializam e dão alento para a volta da autoestima, como o início das obras de modernização e ampliação do aeroporto Salgado Filho. Na mesma sintonia, Porto Alegre assistirá, neste sábado, à inauguração da Sala da Ospa, um projeto bem menos ambicioso do que o inacabado espaço nas margens do Guaíba, mas nem por isso menos eficiente na sua proposta de valorizar a cultura.
Outra notícia particularmente promissora a ser comemorada neste aniversário é o encaminhamento positivo das obras do Cais Mauá, região nevrálgica e até agora abandonada da cidade. Os novos investidores vêm dando sinais de respeito à cidade e aos seus moradores, abrindo o diálogo com grupos impactados por uma mudança que pode mudar a face desleixada de uma cidade que não soube cuidar de si mesma.
Mas tudo isso será insuficiente se Porto Alegre não encaminhar saídas para problemas fundamentais, como a aparência de abandono de locais públicos, a violência, a burocracia que desestimula negócios, entre tantos outros temas. Nem todas as soluções estão ao alcance dos entes municipais, mas eles são os agentes fundamentais não só para a melhora da sensação de bem-estar de seus habitantes nos espaços públicos e privados, mas também para a atração e retenção de empresas e talentos.
Porto Alegre não é obra de um homem só ou de um só governo. Os açorianos que aqui chegaram há 246 anos não imaginavam o tamanho e a complexidade do projeto que começavam a erguer. Um emaranhado de ruas, praças, pessoas de todas as origens e credos, prédios, memórias, problemas e soluções. Tudo isso tem um futuro em comum. Acreditar nele e trabalhar por ele é o maior presente que a cidade poderia receber.
EDITORIAL
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