quarta-feira, 7 de março de 2018


07 DE MARÇO DE 2018
MÁRIO CORSO
Samba do internauta sem noção

Lévi-Strauss foi um antropólogo que viveu muitos anos entre os índios, especialmente no Brasil. Ele tem uma obra maravilhosa dedicada ao pensamento aborígine. Mas dona Sara, sua mãe, vivia dizendo: esse negócio de índio não dá dinheiro. Pensa em uma lojinha para ti. Olha o exemplo do teu tio Moishe, que ficou rico vendendo roupas.

Vocês pensam que ele ouviu? Que nada, teimou e seguiu com a carreira universitária. Um dia, já sem dinheiro, lembrou de sua sábia mãe. Usou a experiência de viver na floresta para produzir uma calça que aguentasse o tranco. Assim surgiram as calças jeans de Lévi-Strauss. Ele ganhou muito dinheiro e a dona Sara mesmo assim não ficou feliz. Pois ele perdeu muito tempo antes de fazer algo sério. Moral da história: esses intelectuais só mostram seu valor na vida prática.

Pablo Picasso foi um entusiasta da revolução cubana. Sua fase cubista é um apoio artístico a Fidel Castro. Mas, inteligente que era, se deu conta de que aquela experiência se transformaria em uma ditadura marxista e rompeu com a revolução, ainda na década de 1940. Por isso que a arte moderna é tão comunista, o cubismo está na origem dessas obras que andam por aí. Mas o que eles não lembram é que o próprio Picasso renegou essa fase de sua obra. Depois disso, esqueceu a fase vermelha e inaugurou a fase azul, que é a marca de seu gênio.

O casal mais popular, e ao mesmo tempo a grande fofoca do fim do Império, excetuando a família real, eram Capitu e Bentinho. Casal modelo, diria que eram o William Bonner e a Fátima Bernardes da época. Porém, uma suspeita assolava o marido: Capitu era fiel? Por que seu filho Ezequiel era tão parecido com seu amigo Escobar? Agora desvendou-se o segredo. Capitu realmente traiu Bentinho: exame de DNA dos restos mortais prova que o filho não era dele. A família impede divulgação da verdade para proteger a pérfida antepassada.

Não, caro leitor, não tive um surto psicótico. Esses disparates acima são um exercício mental. Ajustei meu cérebro para a profundidade, seriedade e sabedoria dos comentaristas da internet. Dei corpo a tolices que eu encontrei na rede. Todas essa bobagens foram em algum momento referidas como sérias pela intelligentsia da web. Apenas emprestei vida e trama a mal-entendidos proferidos. Confusão entre duas personalidades históricas distintas, alucinações semânticas em torno da palavra cubismo e confundir personagens literários de Machado com pessoas reais são apenas uma ponta das mil possibilidades.

Deveria haver um concurso para as besteiras mais relevantes. Mas, sinceramente, não acho graça, vivo-as como se fossem minhas. Tenho vergonha por quem não a tem, decididamente isso não me faz bem. Assim são os humanos, sem retorno para a enormidade de sua ignorância. Fico pensando em qual será a minha.

*O colunista David Coimbra está em férias. - MÁRIO CORSO

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