19 DE MARÇO DE 2018
EDITORIAL
IRREALISMO NA PREVIDÊNCIA
Quando for retomada, a discussão sobre a reforma previdenciária precisará levar em conta a necessidade de um discurso mais claro sobre a importância das mudanças
Suspensa no atual governo, por falta de apoio no Congresso, a reforma da Previdência precisará obrigatoriamente ser enfrentada pelo próximo presidente da República, e o tema não terá como ficar de fora da campanha eleitoral. Quanto mais o debate for adiado, porém, mais a situação financeira do sistema previdenciá- rio tende a se agravar e mais se ampliam as resistências às mudanças por parte da população de maneira geral.
Mesmo com a intensificação dos debates sobre a urgência de mudanças nessa área, pesquisa Datafolha mostra que os jovens brasileiros seguem apostando majoritariamente na possibilidade de se aposentarem antes dos 60 anos. Essa é uma situação que dificilmente tende a ser preservada com a reforma e precisa ficar clara para a sociedade de maneira geral.
No texto em discussão, que acabou sendo deixado de lado pelo Congresso, a idade mínima para aposentadoria será de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens daqui a 20 anos. A proposta de emenda à Constituição, porém, prevê que a idade mínima se eleve toda vez que a expectativa de vida da população aumentar um ano, fato possível de ocorrer no período de uma década. Tudo indica, portanto, que a exigência poderá ser ainda superior à prevista agora.
Em grande parte, a manutenção da expectativa de aposentadoria precoce se deve à desinformação, e não apenas entre os jovens, para os quais a manutenção financeira na terceira idade ainda não constitui preocupação. Mesmo entre os trabalhadores hoje com mais de 60 anos e ainda na ativa, mais de um terço sequer sabe quando vai se aposentar.
Na prática, o sistema de seguridade social, da forma como funciona hoje, favorece mais quem tem renda maior. Brasileiros de maiores ganhos e mais escolarizados são justamente os que se aposentam em maior percentual com menos de 60 anos, contribuindo com isso para agravar as desigualdades. Um dado relevante para reforçar a imperiosidade da reforma é que a aposentadoria pública é a fonte de renda mais comum dos idosos. Só 11% na faixa de idade mais elevada afirmam ter ganhos de previdência privada.
Quando for retomada, a discussão sobre a reforma previdenciária precisará levar em conta a necessidade de um discurso mais claro sobre a importância das mudanças. Foi justamente o que não ocorreu na frustrada tentativa deste início de ano, dando margem a um custo que será bancado por todos os brasileiros.
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