03 DE MARÇO DE 2018
CARPINEJAR
Ritual de permanência
Os adolescentes sofrem pressão para perder a virgindade. Como se fosse uma espinha que tivesse que desaparecer do meio da testa diante dos colegas.
A coerção social leva a experiências vazias de sentido, abruptas, mecânicas, violentas. Se a vida sexual inicia com a indiferença, isso pode bloquear a emoção dos próximos relacionamentos. A rapidez, a falta de carinho e de cuidado geram traumas que não serão resolvidos facilmente. O risco é criar uma aversão a uma dinâmica que deveria ser feita com ternura. Quantas pessoas odeiam sexo pois foram atropeladas no primeiro encontro?
A precocidade faz com que o jovem se sinta num açougue, como mero objeto sexual. A pegação necessita ser envolvida de conversa e suspense, degustação e envolvimento, acima do laboratório químico do corpo. O sim cresce com o não, o desejo aprende a se respeitar com a resistência. O enamoramento é lenta aceitação, requer a solução de inúmeras dúvidas. Estar pronto é entender o que está acontecendo e ter um motivo, maior do que a obrigação, para justificar a entrega.
Por que não trocar a virgindade por afeto? Daí não se perde nada.
Cada um tem seu ritmo e seu tempo, não há pressa nem data de vencimento. Sexo não é experiência, só o amor dá experiência, o amor é a verdadeira iniciação.
Melhor esperar alguém com confiança para perguntar, recuar e depois vencer o medo.
Melhor esperar alguém com amizade frequente e ligação plena de afinidades para não ficar com a ilhada sensação de ser usado.
Melhor esperar alguém para admirar, partilhar a lembrança e perdurar o encanto.
Melhor esperar alguém para experimentar a conchinha, dormir junto e acordar querendo preparar café da manhã.
Melhor esperar alguém para rir do que deu errado e tentar novamente com graça e compreensão.
Melhor esperar alguém para não morrer de culpa e solidão e agradecer que o enlace foi uma escolha, sonhada e assumida com antecedência.
Não existe cedo ou tarde para o sentimento. Quem busca se livrar logo da virgindade estará desperdiçando um referencial de seu ciclo biológico, um marco da história de pele.
Não é para ser um ritual de passagem, mas de permanência do que somos e do que seremos, um degrau prazeroso do nosso caráter e da nossa responsabilidade.
CARPINEJAR
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