10 DE FEVEREIRO DE 2018
DUAS VISÕES
TEMPO PARA AQUIETAR A MENTE
Existe um ensinamento do meu professor Lama Samten de que todos e todas nós temos uma natureza livre. Essa lembrança nos coloca numa perspectiva ampla. Isso quer dizer que a liberdade é a nossa natureza e que estar em retiro de silêncio ou em festa com marchinhas e samba no pé não retira esse potencial de liberdade que nós naturalmente temos. Isso nos (me) libera do esforço e do conflito de pensar que um lugar ou uma condição é melhor do que a outra.
Ainda assim, só lembrar dessa liberdade não é o suficiente e aí a prática formal, a parada diária para silenciar a mente e aquietar o corpo, pode ser necessária. Podemos dizer que temos vidas nas quais alguma entidade nos cobra prazos, resultados e não podemos dizer "não" para essa roda incessante. Mas também podemos perceber que essa roda é construída, que nós temos o potencial de parar esse ciclo. E aí os momentos de pausa podem ser a chave, quando olhamos de forma mais ampla para o que estamos fazendo de forma automatizada.
O budismo dispõe de um sem-número de pedagogias para nos ajudar a ver essa natureza livre e incessante que está operando neste exato momento. Essas abordagens nem mesmo budistas são. Nós podemos, no meio de uma festa, de uma música, de um sonho, de uma conversa casual com o/a namorado/a, de uma bronca do pai ou da mãe, entender que somos livres em essência. Aí pode ser que nosso olho brilhe para a possibilidade de estabilizar esse insight. Então, acessamos os meios que o budismo oferece, como a meditação silenciosa, e o fazemos como se fossem barcos que nos levam à margem da liberação. Depois que usamos o barco, podemos abandoná-lo, dizia o próprio Buda Sakyamuni, há 2.600 anos.
Em momentos como este feriado prolongado, temos a oportunidade de estabilizar esse insight, parando em silêncio por mais tempo, investigando a mente, compreendendo a construção da roda que estamos operando e, com o tempo, construindo em direções mais favoráveis, que produzam mais benefício para nós e para o entorno.
É provável que um tempo maior de pausa, como um fim de semana, nos inspire a voltar para o dia a dia e praticar. É provável também que sintamos a frustração de não conseguirmos permanecer o tanto que imaginávamos - e, mesmo que experimentemos, há poucos dias durante o período mais longo. Então, lidamos com essa frustração, olhamos de frente para ela, a iluminamos. E seguimos com o tempo que for possível, temperando o dia com pequenas pausas.
Um minuto.
Cinco minutos.
Quinze minutos.
Como for possível e confortável para cada um(a). Lidamos com tudo o que surge. Não tem meditação perfeita! Não tem lugar perfeito aonde ir no feriadão. O lugar perfeito está exatamente sob nossos pés agora, diz um mestre do budismo Zen. Aqui é onde podemos praticar, com as alegrias, medos, tristezas e regozijos que possam surgir.
JOSÉ BENETTI Professor de teatro e aluno do Lama Samten desde 2007 zezebenetti@gmail.com
DUAS VISÕES
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