26 DE FEVEREIRO DE 2018
ENTREVISTA
"Me arrependo de não ter fechado mais escolas"
RONALD KRUMMENAUER - Secretário estadual da Educação
Segundo o secretário estadual de Educação, Ronald Krummenauer, a diminuição no número de alunos nos últimos anos - fruto, também, da queda na taxa de natalidade - deve inevitavelmente levar ao fechamento de mais escolas da rede. No ano passado, 2 mil turmas foram fechadas em todo o Rio Grande do Sul. Confira, a seguir, trechos da entrevista concedida na última quarta-feira na sede da secretaria.
A queda no número de matrículas na educação básica deve significar o fechamento de mais escolas?
O fato é que diminuiu barbaramente o número de alunos. Vou confessar uma coisa: me arrependo de não ter fechado mais escolas nesse primeiro momento. Não porque eu gosto ou porque acho correto, mas porque você tem uma possibilidade de utilizar aqueles professores em uma outra escola, onde está faltando. Às vezes, é um deslocamento muito pequeno. Sem falar naquelas escolas que eu acabei não fechando porque sociedade, deputados, veículos de comunicação (se opuseram).
Foi possível dar início a discussões sobre o plano de carreira dos professores, como o senhor pretendia?
Não vejo alternativa para um dia o Rio Grande do Sul pagar o piso nacional sem se trabalhar o plano de carreira, que é de 1974. Você tem um orçamento de R$ 9 bilhões na Secretaria de Educação, R$ 2 bilhões a mais do que toda a prefeitura de Porto Alegre, e quase R$ 8,1 bilhões são da folha de pagamento. Se dermos R$ 500 de aumento, entre ativos e inativos, vamos acrescentar R$ 1,3 bilhão no orçamento do Estado. E mesmo assim não pagaríamos o piso.
Há ainda outras coisas: o sistema educacional, que é da década de 1960. O difícil acesso, que foi atualizado pela última vez em 1992 e que deveria ser atualizado todos os anos. Mas não acho que essas coisas têm que ser tratadas isoladamente. O sistema educacional é que precisa ser revisto. Porque, isoladamente, parece que você está querendo punir. Essa discussão vai ser colocada ainda em 2018.
O senhor já disse que considera a palavra "meritocracia" muito vinculada à iniciativa privada. Mas cogita aplicar algum tipo de remuneração aplicada ao desempenho nas escolas?
Acho absolutamente injusto considerar todo mundo, em qualquer área, inclusive na educacional, como se tivessem desempenhos equivalentes, ou esforços equivalentes. Se você é um professor dedicado de matemática, que busca alternativas, suas avaliações são ótimas, seus alunos têm um aprendizado bom, têm um ótimo resultado, passam de ano e vão muito bem no ano seguinte, você ganha (por exemplo) R$ 1 mil. Um professor de matemática também no mesmo nível que você, em termos escolares, mas que não tem um desempenho tão bom, não está muito preocupado, ele também ganha os R$ 1 mil. Na minha avaliação, você está financiando ele. Porque talvez ele tivesse de ganhar R$ 700 e você, R$ 1,3 mil, desses mesmos R$ 2 mil. Isso não é uma coisa fácil de ser feita. O momento político para fazer isso vai ter de ser decidido pelo governo.
Como o senhor avalia a iniciativa de convocar o trabalho de professores voluntários nas escolas da rede pública?
Em nenhum momento pensei naquilo como voluntário substituindo professor. Minha intenção era abrir a possibilidade de se poder regulamentar o trabalho voluntário na educação. Pode ser uma aula que não esteja sendo dada de história que a gente vá preencher, um trabalho a ser feito na própria escola, uma atividade de esportes no contraturno. Acho que nós nos explicamos mal. Até porque era durante a greve, o que talvez tenha colaborado para isso. O que estamos fazendo para retomar (o projeto): temos uma parceria com a ONG Parceiros Voluntários, que vai nos ensinar a trabalhar com voluntários. Agora vamos ver como o voluntariado pode funcionar.
guilherme.justino@zerohora.com.br - GUILHERME JUSTINO
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