sábado, 10 de fevereiro de 2018


10 DE FEVEREIRO DE 2018
PIANGERS

Virei o que sempre condenei


Não vou dizer aqui que sempre fui o homem mais festeiro do Carnaval florianopolitano mas, vejam bem, eu tive os meus momentos. Já desfilei na avenida e me vesti de mulher em bloco sujo, com certo desconforto, é verdade, e sempre mais influenciado pelos amigos do que gostando exatamente do que estava acontecendo. Houve uma vez que eu até deixei, na sexta de Carnaval, um recado na mesa da cozinha dizendo apenas: Mãe, fugi e fui com três amigos para a praia em uma busca adolescente frustrada por encontros casuais com o sexo feminino e porres homéricos, falhando miseravelmente no primeiro e tendo algum sucesso no segundo.

Digo tudo isso para deixar claro que não é um sentimento que me acompanha desde sempre mas que agora, aparentemente, eu odeio o Carnaval. Só queria informar. Me tornei aquilo que sempre odiei, aqueles senhores que reclamam que o supermercado está cheio durante as festas de Carnaval, que as marchinhas são irritantes e o pessoal está se passando na bebida. Que acha um saco a sujeira na rua. Que olha os vídeos da multidão em Salvador e sente claustrofobia só de se supor lá, imagina se dá vontade de fazer xixi ali no meio. Que, quando ouve de amigos que estão indo para um Carnaval de rua, avisa pra não levar o celular. Que é muito perigoso. Me tornei minha mãe.

Ainda não sou aquele senhor assistindo aos desfiles pela televisão e acompanhando as notas na quarta-feira, mas também não julgo que um dia eu chego lá. Porque me encaminho pra isso, estou cada vez mais interessado em ficar na beira da praia com a família sem muita coisa pra fazer e, não vou negar, uma caipirinha sempre ajuda a deixar as coisas melhores. Só me falta uma casa de praia, que no momento afirmo que jamais terei, mas nunca se sabe e talvez eu vire um desses caras que pega estrada na sexta de manhã, junto com todos os outros seres humanos do mundo, e fique parado horas no trânsito. Talvez eu me torne um desses que tem o dinheiro do pedágio separadinho no carro. Que guarda o recibo.

Não vou dizer que sempre fui o mais festeiro da turma mas posso tranquilamente afirmar que, na atual conjuntura, estou mais pra ficar em casa dormindo e vendo Netflix do que pra encher a cara de cerveja barata. Celebro o feriadão na esperança de ver os filmes indicados ao Oscar. Fico avaliando a fotografia dos filmes indicados na categoria de melhor estrangeiro. Vejo documentários sobre corais e me emociono.

Meu deus. Virei meu vô!

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