24 DE FEVEREIRO DE 2018
PIANGERS
Alguém tem que fazer
Desde garoto, minha mãe me ensinou a realizar atividades domésticas. Ensinou é um substituto elegante para obrigou. Louça, cama, chão, banheiro, lixo, almoço, cuidar da minha irmã. Não tínhamos empregada nem babá. Lembro de detestar tirar o pó da casa, o pano molhado ia ficando preto, uma desgraça. Minha mãe era linha dura, chegava do trabalho e estava tudo brilhando. Hoje em dia as crianças nos chamam depois de fazer cocô até os trinta anos. Paiê! Manhê!
Acabei desenvolvendo predileções. Atualmente, minhas atividades domésticas favoritas são lavar a louça, ferver água e distribuir entre as garrafas da geladeira, ir catando os sapatos e brinquedos espalhados pela casa e ir realocando para seus devidos aposentos e arrumar as camas. Nada mais bonito do que uma cama arrumada. Meus ofícios menos favoritos são tirar a roupa lavada da máquina e estender, recolher os lixos do banheiro e da cozinha (lixo seco sou de boa) e limpar o chão da cozinha.
Limpar o chão da cozinha é um negócio desmoralizante. Você passa a vassoura, depois pega um pano e fica de quatro, arrastando o pano de um lado pro outro, tentando tirar os farelos presos no chão esfregando com o polegar, joelhos no azulejo frio, o pano solta mais sujeira do que absorve. Existem aqueles esfregões modernos, mas me arrisco dizer que só uma boa esfregada de pano enrolado no polegar tira todos os farelos de comida grudados no chão.
Tem aquela técnica também de ir com os dois pés em cima do pano, cheng chong cheng chong, os passos pequenos arrastando o pano pela cozinha, parece que você é um pinguim. Me recuso. Se for pra limpar o chão da cozinha eu me submeto, é um trabalho desmoralizante, mas alguém tem que fazer. Melhor eu que outra pessoa. Ainda mais se a outra pessoa faz o passo do pinguim.
Tem aquela técnica também de ir com os dois pés em cima do pano, cheng chong cheng chong, os passos pequenos arrastando o pano pela cozinha, parece que você é um pinguim. Me recuso. Se for pra limpar o chão da cozinha eu me submeto, é um trabalho desmoralizante, mas alguém tem que fazer. Melhor eu que outra pessoa. Ainda mais se a outra pessoa faz o passo do pinguim.
O lixo dos banheiros tenho nojo. Recolho apenas quando a tampa já não fecha. Sou daqueles que tira a sacola de supermercado cheia de papel higiênico usado e mantêm longe do corpo, segurando na ponta dos dedos, dando o nozinho com os braços esticados. O lixo da cozinha é um terror, porque sempre que você vai tirar ele está todo arregaçado, boca de bêbado dormindo, uma parte do lixo está dentro do saco e a outra caiu pra dentro da lata. Tem que pegar com a mão aquelas cascas de banana, aquela gordura da picanha, aquela borda de pizza que sua filha não come, colocar tudo no saco bonitinho, dar o nozinho com os braços esticados, colocar os sacos no corredor, na frente da porta do apartamento.
Que coisa infame colocar sacola de lixo na frente da porta pra descer depois. Mas eu faço. O pior é quando alguém come melancia, joga no lixo e forma uma aguinha no saco, quando você vai tirar o lixo sai pingando tudo pela casa. Se não percebe, forma uma poça na frente da porta do apartamento. Aí, então, você tem que pegar um pano molhado e ficar de quatro limpando bem aquela sujeira toda. Que seu filho não pode fazer porque está cansado de tanto ficar no celular.
PIANGERS
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