sábado, 6 de maio de 2017



mariliz pereira jorge
06/05/2017  02h18
Pesquisa Datafolha mostra que o orgulho de ser brasileiro acabou

A pouco mais de um ano da Copa da Rússia talvez seja bom que alguém apareça com outro grito de guerra para a torcida. Aquele do "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" parece estar bastante comprometido, como mostra a pesquisa do Datafolha que cravou 34% de pessoas com vergonha do país.

Motivos, a gente sabe, não faltam. Diante do cenário econômico e político é até pouco, o que nos leva a perceber que "brasileiro não desiste nunca", como se diz popularmente.

Fato é que apesar de ter virado um hino para os torcedores recentemente, o famoso grito foi criado em 1949, pelo musicista Nelson Biasoli, professor de uma escola em Ribeirão Preto.

A música, no entanto, nada tinha a ver com o cenário do país naquela década, serviria apenas de reforço para o colégio de Biasoli, que enfrentaria outro de origem alemã em um campeonato estudantil.

A música demorou 30 anos para ser liberada pela censura, em 1979, mas só na última década ela acabou virando um hino extraoficial entre os torcedores, não apenas do futebol, mas de outros esportes, e não raramente é entoada em manifestações políticas.

O Datafolha mostrou que os escândalos da Lava Jato e o alto índice de insatisfação fizeram crescer também a opinião de que o Brasil é um lugar ruim, péssimo ou apenas regular para se viver, para quase metade da população. É difícil mesmo ter orgulho de algo com uma avaliação tão decepcionante.

Um bom termômetro para medir o ufanismo desmedido que sempre exercemos era a quantidade de brasileiros no exterior passeando com camisetas da seleção brasileira. É bastante raro hoje e desconfio que a falta de entusiasmo não tenha a ver com aquele fatídico 7 a 1 no Mineirão, em 2014, mas com a goleada que levamos diariamente em nossas vidas.

Dá para tirar de letra gozação por causa de um esporte, mas ter que explicar o que aconteceu no Brasil, que era a bola da vez e virou o vexame da década, é a última coisa que o viajante de férias vai querer enfrentar num intervalo em que tudo que ele quer é esquecer o momento em que vivemos.

A seleção brasileira voltou a assumir a liderança do ranking da Fifa, em abril, lugar que não ocupava há sete anos. Quinta (4), uma nova atualização foi divulgada e continuamos lá no topo, não tem para ninguém. Ouço gritos de "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor"? Felizmente, não.

Como podemos nos orgulhar de qualquer coisa, quando estamos num vergonhoso 79º lugar no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)?

Disputamos lado a lado a medalha do constrangimento com o Azerbaijão, país controlado por um governo semiditatorial, e a Albânia, um dos mais pobres do continente europeu. Que fique claro, os dois estão em melhor posição no ranking.

Se a classificação para a Copa usasse indicadores de renda, saúde e educação, como faz o Pnud, não nos classificaríamos nem para o Mundial de 2026, que prevê a participação de 48 países.

Faltando ainda um ano para a Copa, sabemos que existe rejeição quando o assunto é seleção brasileira. Julgamentos do STF repercutem mais do que os jogos. Resta saber o que pode acontecer em um ano, se ficaremos anestesiados pela magia do futebol. Uma coisa é certa, precisamos de um hino mais realista para cantar nos estádios. 

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