24/05/2017 12h18
leandro narloch
Em "O
Mágico de Oz", Dorothy e seus três amigos acreditam que o grande mágico
será capaz de resolver todos os seus problemas: dar um coração ao homem de
lata, coragem ao leão covarde, um cérebro ao espantalho e mostrar à garota o
caminho de casa. Ao encontrar o mágico, o grupo se decepciona. Ele não passa de
um velhinho picareta, um ex-artista de circo sem grandes poderes.
Como
Dorothy, os brasileiros acreditam que o Estado é capaz de curar todos os males
da população. Damos ao Estado nomes pomposos como Procuradoria-Geral da República,
Conselho Administrativo de Defesa Econômica e Supremo Tribunal Federal. Mas se
olharmos direito vamos descobrir que por trás da fachada do palácio há velhinhos
vaidosos e vingativos.
Lembrei
dessa metáfora ao ler que o STF tirou o sigilo de uma conversa entre Reinaldo
Azevedo e a irmã de Aécio Neves. Mesmo se Reinaldo não fosse jornalista haveria
no ato um atentado à privacidade, pois não há na conversa nada que contribua
com a investigação.
Mas
o Estado são pessoas, e pessoas se ressentem. Gostam de desfrutar a vingança. No
caso, foi uma vingancinha bem safada, daquelas de senhoras barraqueiras do núcleo
cômico da novela das sete.
Quase
diariamente Reinaldo Azevedo reclama da atuação de Rodrigo Janot como
procurador-geral. Tem sido crítico aos atropelos da Lava Jato. Dificultou a
nomeação de Edson Fachin ao STF mostrando que ele apoiava líderes do MST. Desde
a semana passada vem repetindo que os grampos de Joesley são uma mutreta para
derrubar Michel Temer.
Diga
que você não ficaria tentado a fazer igual. Há anos um jornalista reclama de
você e do seu trabalho, a ponto de ridicularizá-lo. As posições políticas e
partidárias dele são opostas às suas. De repente cai na sua mesa uma conversa
desse jornalista com uma investigada que acabou de ser presa. A conversa tem o
poder de constranger o jornalista com a revista em que trabalha e com o público,
ao provar o que todo mundo suspeitava —que ele tem relações bem próximas com os
tucanos.
Ai,
tendo em vista que a liberação da conversa renderia mais um ótimo capítulo do "House
of Cards" brasileiro, eu, que sou de carne e osso, não tenho vocação para
mágico de Oz, confesso que dificilmente me seguraria.
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