reinaldo azevedo
05/05/2017 02h00
A direita luta para enterrar, mais uma vez, a política democrático-burguesa
"E a direita, hein? Vai destruir, mais uma vez, a política democrático-burguesa".
Quem me envia a provocação acima é um amigo de esquerda, comunista mesmo! Mas é um esquerdista raro hoje em dia porque do gênero que estuda. Estudar, nestes tempos, é uma esquisitice em qualquer campo do pensamento. Por isso estamos mergulhados em anacolutos gramaticais, teóricos, conceituais, morais...
Em passado já remoto, escreveria sem receio: "Estamos, mais uma vez, diante da evidência da incapacidade da burguesia dos países atrasados de fazer a revolução burguesa".
Mas eis que me assombro. Eu poderia escrever isso neste 2017, no centenário da revolução bolchevique naquela Rússia que... não conheceu a Revolução Burguesa!
E eu poderia fazê-lo hoje não porque esteja passando por alguma regressão trotskista ou jamais tenha deixado de ser um deles, como quer a extrema-direita mal saída dos cueiros, que não tem a mais remota ideia do que seja combater uma ditadura. O máximo de risco que correm hoje em dia alguns pivetes ideológicos é tomar um "block" e afogar as mágoas num beque.
É certo que não tive uma regressão esquerdista, mas é inegável que a direita brasileira está passando por uma degeneração fascistoide. Uma quadrilha foi flagrada assaltando o Estado e seus entes, a serviço de uma arquitetura política que tinha um partido, o PT, como seu principal pilar.
Sabia-se, no entanto, desde o início, que a legenda não exercia o monopólio da safadeza.
Mas só um parvo ou um mal-intencionado enterrariam em vala comum, como se fez, todos os políticos e todas as agremiações partidárias. No dia 17 de julho de 2015, não foi anteontem, fiz aqui um alerta contra o salvacionismo de alguns procuradores, que passaram a falar em "refundar a República", como se tivessem recebido tal ordenamento de Deus.
O PT compreendeu com mais competência do que qualquer outro partido a natureza da nossa "burguesia periférica".
E escolheu a dedo os protagonistas do capitalismo de Estado. Chegou a engendrar, como resta claro, um plano de poder além-fronteiras. O grito de guerra dessa ordem: "A classe empreiteira é internacional".
Para arrancar o partido das dobras do Estado, quando este deixa de ser funcional, as mesmas elites que lhe deram suporte nos anos de glória não veem mal nenhum em pinchar no mato a criancinha junto com a água suja. E, só para a surpresa dos idiotas, o partido, que estava fora do jogo, renasce dos escombros.
Demoniza-se o financiamento de campanhas por pessoas jurídicas; criminaliza-se a relação entre empresas e políticos, que não precisa ser pautada pela sem-vergonhice; desmoraliza-se a democracia representativa; tratam-se com descaso direitos e garantias da Constituição: a presunção de inocência tornou-se sinônimo de impunidade, a concessão de habeas virou evidência de cumplicidade, e os códigos processuais passaram a ser vistos como entraves à Justiça verdadeira.
A cada vez que leio reportagens e colunas contra a distribuição de ministérios para formar a coalizão governamental, minha melancolia se assanha.
Ou então quando alguém vitupera contra o binômio "apoio político-execução orçamentária", como se essa não fosse uma prática corriqueira –e saudável!– nas democracias. Aquele meu amigo diria: "A burguesia está matando a democracia burguesa".
A propósito: Nicolás Maduro quer uma Constituinte na Venezuela nos mesmíssimos moldes reivindicados pelos xucros brasileiros: sem partidos!
Lembram-se daquela minha antevisão de que a direita debiloide era a escada para a ascensão da esquerda? Já não se trata mais de uma previsão. Estamos diante de um fato.
Agora resta torcer para que a polícia ocupe, então, o lugar da política e tire esses vermelhos nojentos do caminho! "Vermelhos nojentos?" Do meu livro de frases, "Máximas de um País Mínimo": ironia não pode ter nota de rodapé. Ou é alfafa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário