
PIB dos EUA cai e espalha temor
A surpresa negativa com o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no primeiro trimestre, que recuou 0,3%, interrompeu uma sequência de oito baixas no câmbio, e o dólar fechou em alta firme de 0,82%, para R$ 5,676. A bolsa murchou, embora com discrição (0,1%). O preço do petróleo tipo brent, principal referência mundial, para julho caiu 3,51%, a US$ 61,06 por barril.
O desempenho do PIB americano veio bem pior do que o esperado, ao redor de 0,4% positivos. Embora seja do período de janeiro a março, antes do famigerado Dia da Libertação, o 2 de abril, já foi impactado por tarifas anunciadas e em vigor antes dessa data. Conforme o Escritório de Análise Econômica dos EUA (BEA, em inglês, que divulgou o resultado), um dos indicadores que puxou o resultado para baixo foi o aumento de importações, que contam negativamente para o PIB.
E as compras no Exterior, como se sabe, aumentaram por tentativa de antecipar os pedidos antes que as novas alíquotas entrassem em vigor. Outro elemento de baixa, mas que o BEA considerou "imensurável", foi a série de incêndios na Califórnia, um dos Estados mais ricos dos EUA. Para configurar o temido cenário de estagflação, a inflação atingiu 3,4% no primeiro trimestre, muito acima dos 2,2% dos três últimos meses de 2024.
Sob forte pressão de montadoras, fornecedores de autopeças e concessionárias, Donald Trump decidiu atenuar a alíquota de 25% sobre carros importados na noite de terça-feira, véspera do anúncio do PIB encolhido. As empresas alertaram para o risco de aumento de preços, fechamento de fábricas e até perda de empregos - supostamente, o objetivo era o inverso.
Se queda se repetir, é recessão
Um trimestre de recuo no PIB é ruim, mas ainda não configura a "recessão técnica", determinada por dois períodos seguidos de três meses com baixa na atividade.
O risco de que isso ocorra depois de junho é alto, como advertiram vários economistas, de bancos a universidades. Os EUA não tinham resultado negativo no PIB desde o quarto trimestre de 2022, ainda influenciado pela pandemia. No evento em comemoração aos primeiros cem dias de governo, Trump usou a expressão "100 dias de grandeza". A truculência, de fato, foi grandiosa. O efeito econômico foi o oposto. _
Lula desconfia, mas mantém Lupi no cargo
Ao puxar para si a indicação do novo presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expõe sua desconfiança na atual estrutura do Ministério da Previdência - leia-se o ministro Carlos Lupi. A informação foi dada ontem pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
Ao ser perguntada sobre por que o presidente da República assumiria essa responsabilidade, Gleisi nem se preocupou em dourar a pílula:
Porque ele acha importante.
É, de fato, extremamente importante. A Previdência tem o maior orçamento da República e o INSS é seu braço operacional. Merece que o presidente escolha o ocupante do cargo. A dúvida que essa decisão de agora provoca é por que antes não foi tão importante, deixada a livre escolha de um ministro que, no dia da descoberta de uma das maiores e mais graves fraudes do INSS, foi complacente e elogiou seu indicado.
Depois de dizer outras barbaridades - como que o INSS não é o "botequim da esquina", quando estava sendo gerido como se fosse -, Lupi mudou radicalmente de discurso ao depor na Comissão de Previdência da Câmara. Defendeu que os saqueadores de aposentados e pensionistas têm de ir para a cadeia. Mas a condescendência voltou a aparecer quando disse:
- A gente sabia que tinha algum descontrole, que tinha denúncia, é claro que todo mundo sabia. E não é de hoje.
Se "todo mundo sabia", por que nada foi feito antes que a Controladoria-Geral da União investigasse? Lupi age como se a fraude fosse uma espécie de efeito colateral da gestão. Não surpreende que tenha perdido a confiança presidencial. Ao assumir a responsabilidade pela indicação do novo presidente do INSS, Lula tenta aplainar o futuro, mas ainda precisa prestar contas do passado. E um governo que mantém alguém que aparenta ser leniente com corrupção fica condicionado a ser julgado pelo conjunto.
Eletrobras segue privada, mas com mais governo
A Eletrobras, desestatizada em 2022, segue privada, mas o governo federal vai aumentar seu poder na companhia. É uma nova versão da máxima de que, no Brasil, até o passado é incerto. Nesta semana, os atuais acionistas e a União fizeram acordo que dá ao governo federal três vagas no conselho de administração. É a mais alta instância de decisão: define estratégias e aprova investimentos relevantes.
Em março de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caracterizou a privatização da Eletrobras como "crime de lesa- pátria" e disse que o governo voltaria a ser "dono" da companhia. Chegou perto.
A contrapartida para os acionistas privados é se livrar da Eletronuclear. Na privatização, essa parte da estatal foi separada, mas a Eletrobras manteve fatia de 33%. Terá de arrumar mais três cadeiras na sala de reuniões, mas sai do grupo de controle da nuclear e não terá de fazer aportes, por exemplo, na eventual retomada das obras de Angra 3. _
Entrevista - Gustavo Gonzaga - Professor titular do Departamento de Economia da PUC-Rio
"É natural que as sociedades migrem para jornada menor"
Quais os efeitos da mudança de jornada de 48 para 44 horas semanais em 1988?
O contexto era diferente, a inflação era muito alta. Mesmo com aumento do custo de mão de obra por redução de jornada, era fácil repassar aos preços. Não encontramos efeito positivo nem negativo sobre o emprego. Evidências empíricas em várias reformas semelhantes obtiveram resultados parecidos.
Como está o debate agora?
Mais maduro. Antes, a discussão era baseada em que a redução de jornada aumentaria o nível de emprego, porque seria possível partilhar um trabalho que seria feito com mais pessoas trabalhando menos horas. Não é o que ocorre, porque redução de jornada vem acompanhada de manutenção do salário mensal, aumentando o salário por hora. As pessoas discutem efeitos negativos no emprego, mas a sociedade tem de pensar o que os economistas chamam de externalidade. Se as pessoas só têm um dia por semana para cuidar das outras tarefas da rotina, com mais tempo, pode beneficiar a sociedade como um todo. Ao longo da evolução, é natural que as sociedades migrem para jornada de trabalho menor, com uma escala mais razoável.
A proposta é factível?
Sou otimista. É essencial reconhecer que envolve aumento de custo para empresas. Como toda proposta tem ganhadores e perdedores, empresas que contratam por 44 horas serão negativamente afetadas. Podem repassar o impacto para o preço ou para o emprego. O efeito pode ser compensado, como um todo, por outras empresas ou por externalidades, mas, tipicamente, não ocorre aumento de emprego. O que se espera é redução.
O que poderia viabilizar?
Mudanças de jornada vêm com uma grande negociação da sociedade. É uma oportunidade de mudar vários outros parâmetros que são prejudiciais aos empregadores e acabam sendo prejudiciais aos empregados também.
Quais?
Com a nova Constituição, houve redução da jornada de 48 para 44 horas, mas também aumento do adicional de hora extra, que era 20% e passou a ser 50%. Dá para fazer o contrário agora, reduzir de 50% para 20%. Outra compensação seria flexibilizar o período em que se conta a jornada de trabalho. Na França, quando houve redução de 39 para 35 horas, as empresas puderam implementar banco de horas mais longo, sem contabilizar a jornada toda semana. Outro exemplo é o adicional de férias de um terço, que só existe no Brasil. E mais, o pagamento das férias é antecipado. Quando o trabalhador tira férias, representa um custo enorme para empresa.
É real a alegação de que acabar com a escala 6x1 gera aumento da produtividade?
Esse argumento, em geral, não é defensável, a não ser por externalidades, do ponto de vista de que a sociedade ganha. Se fosse um fato, as empresas já teriam feito redução de jornada.
De que outra forma seria possível elevar a produtividade?
Ter relação capital-trabalho mais baseada em premiar quem está há mais tempo de serviço na mesma empresa, diminuir a desconfiança entre empresários e empregados. Há excesso de legislação. Temos muito ainda a aperfeiçoar na legislação trabalhista. _
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