sábado, 12 de abril de 2025

11/04/2025 - 15h15min
Martha Medeiros

Cada pessoa tem seu próprio prazo de validade, e é um privilégio quando se consegue chegar tão longe sem depender dos outros

Nossas mães, que tão bem nos cuidaram na infância e adolescência, agora precisam segurar na nossa mão para atravessar essa rua assustadora chamada velhice

De fato, que oportunidade fabulosa de ficarmos mais próximos delas e retribuir o tanto que fizeram por nós.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Ao me visitar, uma amiga trouxe um vinho e o livro A Minha Mãe é a Minha Filha, de Valter Hugo Mãe. Uma edição minúscula, menos de 50 páginas, que trata sobre a relação do autor com sua progenitora. Minúscula no tamanho, claro, pois o assunto é da maior grandeza.

Minha amiga e eu estamos passando pela mesma situação: nossas mães, que tão bem nos cuidaram na infância e adolescência, agora precisam segurar na nossa mão para atravessar essa rua assustadora chamada velhice.

Valter Hugo Mãe é só doçura em seu texto e faz tudo parecer um piquenique no parque com a matriarca. De fato, que oportunidade fabulosa de ficarmos mais próximos delas e retribuir o tanto que fizeram por nós. Em tese, perfeito: os papéis se invertem, o ciclo se fecha e o amor vence no final. Na prática, porém, é um tsunami, que o digam as mulheres na faixa dos 50 e 60 que tinham outros planos. 

Geralmente, estão com os próprios filhos criados e com alguma estabilidade profissional. Seria o momento de se concederem uma aposentadoria por serviços prestados à família: hora de pensar em si mesmas, fazer um curso, visitar amigos que moram fora, dar uma circulada por aí antes de serem abatidas em pleno voo, afinal, também estão iniciando o processo de envelhecimento, só que ainda com pernas firmes e bom estoque de energia.

Quando essa liberdade precisa ser adiada, é um baque. Ninguém deseja, aos 60, já ter perdido os pais. Quem tem a sorte de ainda tê-los, sabe que eles, depois dos 80, correm riscos atrás de um volante, mal conseguem caminhar sozinhos e a ida ao mercado vira um passeio na selva. Não todos: muitos mantêm-se autônomos, mesmo em idade avançada. Cada pessoa tem seu próprio prazo de validade, e é um privilégio quando se consegue chegar tão longe sem depender dos outros. Mas não é a norma.

Tema bonito para uma prosa poética, mas mexe com emoções variadas. A culpa é a primeira a atacar. Queremos fazer mais por eles, mas temos nossa própria vida para cuidar. É justo privilegiar as demandas deles? O histórico da relação deve ser levado em conta? Se tivermos mágoas retroativas, devemos sublimá-las? Terceirizar os cuidados é bom? É ruim? Pra quem?

Dezenas de perguntas nos invadem. Terapeutas, acudam. Amor existe de sobra, mas com pitadas de impaciência, tempero que não é bem-vindo nesta receita. Por enquanto, um elemento tem facilitado a jornada dos Medeiros: o bom humor. Minha família nunca foi de fazer drama. Vamos rindo enquanto dá para rir, e assim todos se ajudam. Talvez esteja aí a beleza do caos: reconhecer que todos os envolvidos precisam de ajuda, e vivenciar a troca de papéis com a leveza necessária, sem ficar apostando em quem vai pirar primeiro. 


12 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Alanpa!

Tenho quatro cadeiras no Beira-Rio há 15 anos. Confesso que já escondi as mensalidades da esposa. Solicitei ao clube que não mandasse mais os boletos pelo correio.

Como você paga tudo isso para um time? - ela me perguntou. Naquela época, eu me constrangi como uma ovelha cardada. Hoje, não mais. Hoje uivo com orgulho. Preciso proteger as minhas alegrias.

Por influência benéfica da terapia, assumi e aprendi a declarar: gasto e não nego. Sou fanático.

Frequentar o estádio é um dos meus maiores prazeres. O meu recreio. Onde descarrego as preocupações. Onde volto a ser um guri. Trata-se do principal evento da semana. Fico com aquele gostinho de Pastelina e guaraná na boca, após trabalhar como mula nos dias úteis. Um gostinho de esperança de infância. De explosão. De catarse.

Já conto com os meus vizinhos de bandeira e boné: o livreiro que fala sozinho e some no intervalo do segundo tempo; o adolescente que não para de berrar "chuta!"; o senhor que não cansa de exigir "senta". Compomos uma família colorada a cada batalha. São as pessoas de sempre compartilhando 90 minutos comigo, ao lado dos filhos e do melhor amigo Zé.

Investiria o dobro (não me escute, Alessandro Barcellos) para assistir ao espetáculo de Alan Patrick. Um 10 legítimo, em extinção. Camufla a bola nos pés - ela só aparece mais adiante, sob a forma de um lançamento primoroso ou de um chute imprevisível estufando as redes.

Um mago. Atua de fatiota e gravata-borboleta, um gentleman com a maciez da grama. Desliza, flutua. Eu canto Fly Me To The Moon, de Frank Sinatra, enquanto o vejo. Me leve para a lua. Me leve para o tri da Libertadores.

É tão bom que os adversários o respeitam e o temem. Ele transforma cobrança de pênalti em suspiro. A arquibancada respira com ele. Põe 40 mil torcedores a praticar pranayama, exercício da yoga. Redescobrimos o nosso diafragma. Redescobrimos o nosso coração. Todos puxamos o ar ao mesmo tempo, subindo o abdômen. Todos soltamos o ar ao mesmo tempo, descendo o abdômen num grito ensandecido de gol.

Na história, só Paulo César Carpegiani pode ombrear com ele em técnica e tática naquela posição. Os saudosos e sobreviventes concordarão comigo.

Seu repertório é inesgotável. Mobilia uma casa - janela, lençol, chaleira - em alguns minutos. Ele vem aumentando a minha concentração: não me distraio como antes, não pisco, não vou ao banheiro, não consumo nada dos ambulantes - à espera de um milagre ou de um lance surpreendente. Vem me devolvendo a comoção do instante ao vivo, inédito.

Não o quero na Seleção Brasileira, por ciúme, por gula, por inveja, por avareza. Não gostaria de desperdiçá-lo em nenhum jogo. Não gostaria de cedê-lo para mais ninguém. Ele desperta os piores sentimentos de possessividade. Inclusive porque a Seleção não o merece. Peço desculpas pela minha limitação. Deveria ser festejado mundialmente. Mas admito: meu mais terrível medo é perdê-lo.

Sofro por antecedência, projetando como o manteremos na próxima temporada. Ele não para de brilhar, de chamar atenção, de ser citado por comentaristas que estavam acostumados a exaltar exclusivamente o Sudeste. Chegou a fazer hat-trick em cima do Atlético Nacional da Colômbia. Precisava de três? Precisava esbanjar?

Em 13 de maio, Alanpa estará de aniversário. Completará 34 anos. Já estou pensando em comprar um presente. Até lá, muita terapia para explicar à minha esposa novos desembolsos com o futebol. Imagino o diálogo:

- Você nem o conhece! - Ah, conheço, sim. Ele vive me presenteando. Se sou um marido mais feliz hoje, agradeça a ele. O justo seria dividir as despesas. 

CARPINEJAR

12 de Abril de 2025
ANDRESSA XAVIER

A tal inteligência artificial

Nessa semana o Estado abrigou mais uma vez o South Summit, evento que evidencia soluções em inovação e tecnologia, premia startups e debate novidades nesse mundo que não é explorado por todos nós, cidadãos leigos em muitas partes desse assunto. Deve ser um orgulho para a gente ter aqui, pertinho, num dos nossos cartões-postais, um evento desse porte.

Perdi as contas de quantas vezes ouvi falar em inteligência artificial nesses três dias e tudo que ela pode fazer por nós. Pode não, já está fazendo, e em alguns casos nem percebemos ainda. IA não é relativa a um futuro distante nem mesmo a filmes de ficção. Enquanto algumas pessoas tinham medo de que as vacinas roubassem seu material genético, o que é uma bobagem, essas mesmas colocam todos seus dados à disposição dos aplicativos e equipamentos. Hoje somos facilmente observados pela tecnologia, que sabe o que pesquisamos, procuramos em lojas ou sites, compramos ou a que assistimos.

Nossas redes sociais mostram com o que simpatizamos ou polemizamos. Nada é por acaso. Engana-se quem acha que existe almoço grátis na internet. Quando a plataforma indica um filme que é do meu tipo, é porque minhas informações anteriores disponibilizadas ali mostram qual é o meu gosto. Para música, para compras, para notícias e até desinformação. É assim que o jogo funciona, a não ser que você more numa ilha sem internet nem telefone.

A IA tem muita coisa boa. Ainda estamos aprendendo a domar as plataformas, ao menos no meu caso, mas é surpreendente como a tecnologia pode nos ajudar se bem utilizada. Dia desses, ao ouvir duas pessoas falando sobre as maravilhas feitas pela inteligência artificial no trabalho delas, agilizando a formatação de planilhas, apresentações e fazendo gráficos rapidamente, uma terceira pessoa ficou matutando, até que perguntou o que a IA ajudaria na vida dela, já aposentada. Ficou também maravilhada ao saber que pode inclusive conversar com um aplicativo no celular. Que tem como ser lembrada de compromissos ou mesmo de remédios que precisa tomar.

Na saúde, a IA pode ajudar automatizando cadastros e agilizando filas. Na educação, já está ajudando a mapear a evasão escolar, acelerando um diagnóstico que precisa ser tratado. Os e-mails no trabalho agora têm a possibilidade de ajudar a resumir uma conversa ou até escrever para um colega. Pode otimizar processos jurídicos e também ajudar médicos.

Este é um mundo sem limites, que exige cuidados, responsabilidade e discussão ética, mas é uma realidade já posta. Negar a existência agora será pagar uma conta mais cara logo ali na frente. Inteligência artificial, somada às pessoas que souberem tratar dela, não é o futuro, é o presente. _

ANDRESSA XAVIER

12 de Abril de 2025
MARCELO RECH

O senhor do caos

A esta altura, já nem importa tanto o turbilhão nos mercados, com trilhões de dólares atirados de um lado para o outro pela ação desvairada de Donald Trump. No futuro, o que se lembrará destes dias é a perda de confiança nos EUA como aliado e parceiro comercial, e o redesenho do mapa geopolítico pelo futuro a perder de vista. De relance, a guerra tarifária de Trump poderia ser apenas o desatino momentâneo de um jogador de pôquer das finanças, mas ela vai bem além.

Depois de passar a rasteira militar na Europa, a puxada de tapete comercial obriga todas as nações a olharem para o lado e estabelecerem novos vínculos baseados em alguma coisa parecida com estabilidade e razoabilidade. E quem acabou ficando no papel de mocinho nesta queda de braço? Ela mesma, a China, que se apresenta como o porto seguro da sensatez. Parabéns, Trump, você conseguirá empurrar nações outrora hesitantes para os longos braços de seu maior adversário.

Definir Trump como um troglodita nos negócios é pouco. Pretender isolar os EUA em uma muralha comercial, e no estilo show de calouros com que foi apresentada, é um caso de patologia diplomática e de amadorismo econômico, quando não de insanidade mental. E Trump só pediu água porque ia encalacrar o mundo em um inverno nuclear econômico, como alertou um de seus bilionários doadores, apavorado com as trapalhadas de sua criatura.

Quando investidores começaram a se livrar dos bônus do tesouro dos EUA de 10 anos, tido até a semana passada como o investimento mais seguro da Terra, o chão tremeu. No fim, o errático presidente dos EUA só comprovou que sua palavra não vale nada e revestiu a maior potência do planeta em um manto de ridículo, rancor e desconfianças. Para qualquer um que acredite nos valores da civilização moderna, como democracia, liberdade econômica e respeito a fronteiras, isso é preocupante.

O incêndio produzido pelo Nero da Casa Branca não se apagará tão cedo porque simplesmente não há como, nem razão para, se equilibrar a balança entre todos os países que fazem comércio com os EUA. Sobre inevitáveis diferenças comerciais, aliás, o economista Robert Solow foi mordaz em uma palestra há alguns anos: "Eu tenho um déficit crônico com meu barbeiro, que não me compra coisa nenhuma". Ou seja, quase nunca essa é uma relação de soma zero.

Como o mundo não vai parar por causa das doideiras de Trump, devem se acelerar os novos blocos econômicos e os acordos bilaterais, com os EUA ao largo e a China fortalecida no longo prazo. Preparemo-nos. Apenas um exemplo: alguém supõe alguma reação de repúdio de um mundo cada vez mais dependente da China se e quando ocorrer a invasão de Taiwan? Donald Trump já deixou sua assinatura na história, e ela é ainda mais desastrosa do que jamais se poderia imaginar. 

MARCELO RECH


12 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Tarifaço abre porta da era do caos?

Todas as análises mais abrangentes sobre os efeitos do tarifaço de Donald Trump precisam ser cautelosas. Primeiro, porque a única certeza que se tem é de que o principal efeito é... explosão da incerteza. Mas proliferam diagnósticos de que à frente se vê um novo mundo, diferente do que conhecíamos até agora.

Um dos sinais mais fortes dessa mudança vem dos títulos do Tesouro americanos, até agora o porto seguro dos portos seguros. Os papéis de longo prazo (T-Bonds de 30 anos) decolaram, indicando baixa procura. A lógica é que, se não há demanda, é preciso elevar a remuneração para captar.

E recuam os juros dos Bunds (títulos soberanos da Alemanha). Com maior número de interessados, pode pagar menos. O movimento sugere saída de investimentos em Treasuries e entrada nos papéis alemães. Então, o porto seguro já não é mais tão... seguro.

"Em apenas 10 dias, o presidente acabou com as velhas certezas que sustentavam a economia mundial, substituindo-as por níveis extraordinários de volatilidade e confusão", resumiu a revista britânica The Economist, que titulou na capa The Age of Chaos (A era do caos).

Com outras formas e outras palavras, é isso que têm repetido economistas, empresários e historiadores. As bolsas asiáticas e europeias encerraram com sinais mistos e sem variações fora do habitual. As americanas fecharam no "positivo normal", entre 1% e 2%. No Brasil, o dólar recuou 0,46% com cautela, para R$ 5,871.

Mas as perdas nos mercados, especialmente nos dos EUA, já provocaram empobrecimento, porque seis em cada 10 americanos poupam comprando ações. Sem contar o risco incomensurável (que não se pode medir) que cerca os Treasuries. _

Proteção à mudança no clima

Quase um ano depois da enchente de maio de 2024, há ao menos 21 projetos para mitigação e adaptação à mudança climática em cidades gaúchas em busca de financiamento. Conforme o levantamento Global Snapshot 2024, feito pelo CDP, organização sem fins lucrativos, em parceria o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia (GCoM), a demanda total de investimento é de cerca de R$ 900 milhões. O valor não inclui os pedidos de Porto Alegre, que não informou as quantias. Só inclui São Leopoldo e Canoas.

Serviços públicos gáuchos com IA

Até o final de abril, o governo do RS vai lançar sua nova estratégia digital. E as novidades incluem a mediação de inteligência articial (IA) própria, que já está sendo treinada para falar "gauchês". Um dos princípios dessa nova fase é unificar todas as informações em uma mesma base de dados, que terá interface com as pessoas na plataforma meurs.gov.br.

- Não vai ter mais o dado da saúde, o dado da segurança. Todos estarão centralizados, para ajudar o cidadão - disse a secretária de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, em evento para convidados no South Summit Brazil.

Segundo Danielle, a nova estratégia vai inverter a relação dos gaúchos com o Estado:

- Agora, o cidadão vai poder parar de procurar o Estado, porque o Estado vai procurá-lo.

Um dos exemplos dados pela secretária envolve avisos quando for preciso fazer vacina, quando houver algum benefício disponível que a pessoa não está usando, mas também na hora de pagar o IPVA.

- Com o tempo, vai funcionar como a Netflix, vai entender o perfil do cidadão e interagir com ele, com o cuidado de não ser invasivo demais - detalhou.

Estão predefinidos quatro perfis: empreendedores, estudantes, produtores e servidores públicos. _

Muito cuidado ao reduzir beneficiários do Bolsa Família

A iniciativa de prefeituras e entidades empresariais para reduzir o número de famílias que recebem Bolsa Família precisa ser muito bem dosada. Pode ser bem-sucedida se apresentar alternativa consistente. Mas precisa ter muita responsabilidade.

A explosão de benefícios ocorreu no período pré-eleitoral, em 2022, quando critérios foram "flexibilizados". Prefeituras podem ajudar garantindo creches para que mães em idade ativa possam trabalhar.

Entidades empresariais, por sua vez, podem montar programa de qualificação da mão de obra, para que a formalização seja uma alternativa atraente em termos salariais, com jornadas adequadas.

Especialistas estão longe da unanimidade sobre a correlação entre o número de beneficiários do programa e a falta de pessoal. Veem maior impacto no mercado de trabalho informal. Há diferença enorme entre o pagamento médio de R$ 659,04 e o salário mínimo de R$ 1.518. Atuações em entregas ou como motorista de aplicativo competem com salários e jornadas do mercado formal.

E há outro alerta: dados ainda mostram pleno emprego, mas há sinais de que a atividade deve desacelerar. Se o esforço de reduzir os beneficiários do Bolsa Família coincidir com um mercado de trabalho menos aquecido, pode deixar famílias na miséria e contribuir para gerar mais rejeição ao universo formal, que contrata e demite em ciclos. _

Projeto de R$ 100 milhões em biometano no RS

Distribuidora de gás que atende cerca de 11 milhões de famílias e 60 mil empresas no país, a Ultragaz vai investir R$ 100 milhões no Rio Grande do Sul. A empresa é do Grupo Ultra, dono também da rede de postos Ipiranga.

O aporte será destinado a projetos de biometano, gás liquefeito de petróleo (GLP), bioGLP e energia elétrica, para impulsionar a transição energética na indústria gaúcha. Conforme o diretor de desenvolvimento da Ultragaz, Aurélio Ferreira, o plano começa a ser implementado ainda neste ano e gerar cerca de cem empregos. Tem apoio do governo do Estado e da Invest RS, agência de desenvolvimento, que assinaram termo no South Summit Brazil 2025. _

GPS DA ECONOMIA 


12 de Abril de 2025
EM FOCO -Bruna Oliveira

EM FOCO

Quarta edição do South Summit fecha com marcas simbólicas que vão além do aumento na participação de empresas, startups e fundos de investimentos. Ecossistema de inovação gaúcho dá sinais de que "está forte e olhando para frente"

Demonstração de maturidade e resiliência

Quando a água do Guaíba superou os cinco metros de altura nas paredes históricas do Cais Mauá, em maio de 2024, poucos imaginavam rever o mesmo cartão-postal tão pujante menos de um ano depois. Com a mesma força de reconstrução que mobilizou o RS desde então, o ecossistema de inovação gaúcho também se mostrou resiliente, consagrando espaço e relevância na edição do South Summit Brazil 2025, encerrada na sexta-feira, em Porto Alegre.

Unânime entre os diversos atores, a palavra que fica é de um amadurecimento. De Porto Alegre em si para a realização de eventos de grande porte, do ambiente inovador que se consagra no RS e do próprio South Summit, uma marca global.

- É uma edição que mostra para o Brasil e para o mundo um ecossistema que está de pé, forte e olhando para frente. A edição do ano passado já havia sido muito madura, mas esta nos consolida realmente como um grande evento para quem quer fazer negócios no entorno da inovação e da tecnologia - resume Wagner Lopes, country manager do South Summit, cargo semelhante ao de CEO da edição brasileira.

"Profissionalização" das conexões

O amadurecimento da edição se reflete em uma "profissionalização" das conexões. Para a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, Simone Stülp, trouxe outra lógica para os negócios.

- Tenho sentido a força dos investidores presentes no evento, na conexão com as empresas e as startups. Isso é muito bom, quando falamos em ativação econômica ou em Rio Grande do Sul do futuro. São os investidores entendendo muito bem a lógica do evento e são as startups melhor preparadas para essa interlocução. Isso é tudo o que sempre sonhamos para que pudéssemos enxergar o mundo e o mundo pudesse nos enxergar - destacou a secretária.

Nesta perspectiva, o resultado das edições comprova que o South Summit é, acima de tudo, um projeto de impacto e de desenvolvimento para o Estado, acrescenta Lopes:

- Quando trouxemos o South Summit lá em 2022, esse era o objetivo, trazer uma marca global que pudesse acelerar o desenvolvimento do nosso ecossistema e causar impacto. Passadas três edições e agora, ao final da quarta, começamos a sentir um pouco mais disso. Há o impacto direto na economia, mas há também o impacto de o evento ser percebido, tanto em reputação quanto em imagem de Porto Alegre como local inovador.

Mais do que a vibração nos armazéns do Cais Mauá, o impacto está no "extramuros", com efeitos na economia, na hotelaria, na gastronomia e em uma série de outros serviços. Muitas ativações com o público foram realizadas durante os três dias de evento, como uma espécie de vitrine para marcas locais não necessariamente relacionadas à inovação. Conforme a organização, 95% da produção do evento se abastece de fornecedores locais, o que também traz efeitos econômicos diretos.

Mudança cultural

Outro ponto citado como legado das edições do South Summit diz respeito a uma mudança cultural. Conforme os organizadores, a abordagem mais incisiva do tema nos últimos quatro anos, por ocasião do evento, faz com que a inovação esteja mais presente no cotidiano. Na prática, isso representa mais empresas se voltando ao assunto e mais jovens sendo formados com o despertar das oportunidades em inovação.

Na edição de 2025, um dado que simbolizou essa mudança foi a maior participação de startups. Foram mais de 2,1 mil empresas nascentes inscritas este ano.

- Vejo que a inovação hoje está muito disseminada. Isso torna o ecossistema mais maduro e faz, claro, com que a gente tenha abrangência ainda maior de startups já em fase de tração - diz Rodrigo Cavalheiro, presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS) e um dos "líderes locais" do South Summit.

Espraiamento

O efeito não fica restrito à Grande Porto Alegre, onde importantes centros de inovação como Instituto Caldeira, Tecnopuc e outros parques tecnológicos já estão consolidados. O movimento incentiva que novos hubs se instalem em cidades do Interior. Cavalheiro cita Alegrete, Santana do Livramento e Uruguaiana como novos polos em fomento.

Objetivo do South Summit, os negócios sinalizados pela presença de investidores e fundos de investimentos ampliaram espaço em 2025. E mudaram a abordagem.

- A busca hoje não é por startups unicórnios, aquelas que rapidamente estão valendo um bilhão de dólares, mas por aquelas que crescem de forma resiliente. São as "cabras da montanha", como a gente chama, que caem, mas sobem de novo - diz Cavalheiro.

Mesmo que as grandes cifras não cheguem a todas as empresas nascentes, a possibilidade de escalonar faz com que muitas ideias saiam do âmbito acadêmico e inaugurem um perfil de nova economia, aponta o secretário de Inovação de Porto Alegre e coordenador do Pacto pela Inovação de Porto Alegre, Luiz Carlos Pinto da Silva:

- Tem as startups que atraem grandes fundos, mas tem também aquelas que são importantes por serem de impacto. Não necessariamente são atrativas para um fundo, mas são uma maneira de criar emprego, de trazer negócios tradicionais para a nova economia e de abrir horizontes - destaca Silva. _


12 de Abril de 2025
ENTREVISTA - Rodrigo Lopes

VIR para o RS

Visitar. Investir. Residir.

As letras iniciais dessas palavras formam o acrônimo "VIR". Esse é o novo conceito que a Invest RS, Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, criada depois da tragédia climática para projetar a imagem do Estado lá fora e atrair investimentos, irá lançar nos próximos dias.

A estratégia de posicionamento deseja mostrar o RS não apenas como um lugar com potencial para empresas instalarem operações, explica o presidente da Invest, Rafael Prikladnicki. Mas também para quem deseja fazer turismo e, quem sabe, morar.

A gastronomia excepcional, a diversidade de paisagens naturais, os eventos e festivais são destacados dentro do pilar "visitar". A campanha destaca que o RS atraiu R$ 100 bilhões em 2024, maior valor dos anos recentes, com destaque para os projetos de CMPC, maior investimento privado da história do RS, Scala Data Centers, GM e Aeromot. São salientados como pontos favoráveis a economia diversificada, o capital humano qualificado, graças às reconhecidas universidades federais e privadas, e o ambiente favorável para negócios, com incentivos fiscais e programas de apoio ao empreendedorismo, e o potencial de inovação.

Por fim, o "R" de residir destaca que cidades gaúchas são reconhecidas pelos altos índices de qualidade de vida, segurança, infraestrutura robusta e ecossistema inovador. Belíssima campanha, dá orgulho de ver.

Que venham! 

ONU decide abrir um escritório permanente no RS

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) vai abrir um escritório em Porto Alegre. O órgão internacional, cuja sede no país fica em Brasília, dispõe de unidades hoje em São Paulo, Manaus, Boa Vista, Pacaraima e Belém. A previsão para a instalação do escritório na capital gaúcha é maio.

- Já vínhamos atuando no RS há vários anos a partir de parcerias com ONGs, como o SJMR, Aldeias Infantis e CAM. Com a catástrofe climática de 2024, encaminhamos uma equipe de emergência para apoiar a resposta a pessoas refugiadas e comunidade brasileira de acolhida atingidas pela tragédia. Neste momento, decidimos nos fixar no RS para ter mais capacidade de ampliar a integração de refugiados e pessoas deslocadas forçadas no Estado e na região como um todo, em razão de indicadores que acompanhamos, cujo potencial de empregabilidade, formação e bem-estar social, é evidente - diz o oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do Acnur, Paulo Sergio Almeida.

Ele ressalta também a capacidade de interlocução e colaboração junto às autoridades políticas de Estado e municípios, ampliando o acolhimento e fortalecendo políticas para o desenvolvimento local, complementando mutuamente os esforços. _

Nova fase do movimento "Pra cima, Rio Grande"

O Grupo RBS realizou o pré-lançamento da nova fase do movimento "Pra cima, Rio Grande", em um jantar oferecido na quinta-feira a parceiros e autoridades por ocasião do South Summit Brazil, do qual a empresa é media partner. Lançada em junho de 2024, a bandeira institucional busca apontar caminhos para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

No encontro para mais de cem convidados, o presidente do Conselho de Gestão e publisher da RBS, Nelson Sirotsky, e o CEO do Grupo RBS, Claudio Toigo, conduziram a apresentação. A nova etapa com ações institucionais, editoriais e de comunicação será lançada no fim deste mês.

Na ocasião, Nelson também homenageou Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo, pelos cem anos do grupo e os 60 anos da TV. Ele enalteceu a parceria de mais de cinco décadas com a RBS e a visibilidade dada aos desafios e avanços para a reconstrução do Estado no último ano. _

Uma equipe da emissora alemã Deutsche Welle está no RS, produzindo reportagem especial sobre a passagem de um ano da enchente no Estado. O jornalista gaúcho Guilherme Becker, que atua no veículo, está visitando os principais pontos da tragédia.

Entrevista - Rafael Leal - Chefe da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores

"Sempre trabalhamos preservando a independência do Brasil"

Líder da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores, Leal falou com a coluna no South Summit Brazil.

O que é o programa Diplomacia da Inovação?

São três objetivos: o primeiro é trabalhar a imagem do Brasil no Exterior. O segundo é incentivar os agentes do ecossistema a se internacionalizar. E o terceiro é conectar as startups ou os parques tecnológicos com as suas contrapartes no Exterior. Por que é importante trabalhar a imagem do Brasil lá fora? Quando compramos um celular ou um microfone, por exemplo, a informação de onde foi feito esse equipamento afeta o juízo que se tem sobre esse produto. 

Se eu disser que esse celular é fabricado na Coreia do Sul ou nos Estados Unidos, no Vale do Silício, ou no Chile, isso vai afetar a visão que se tem sobre a qualidade desse produto. O trabalho do Itamaraty é tentar reduzir o gap entre a percepção que se tem do Brasil no Exterior e a realidade. O nosso trabalho é fazer com que ele seja conhecido: trazendo pessoas de lá para cá e levando gente do Brasil para esses ecossistemas, para que se saiba o que está sendo feito.

Como é operacionalizado?

De várias formas. Primeiro fazemos um trabalho de inteligência, que consiste em mapear os ecossistemas de inovação mais dinâmicos do mundo. Por exemplo: os ecossistemas de inovação na Malásia, no Vietnã ou na China ainda são pouco conhecidos no Brasil. Usamos diplomatas que estão nas embaixadas e consulados do Brasil mundo afora para um conhecimento especializado sobre aqueles países. O que temos feito é para que um empreendedor, um parque tecnológico, uma missão de ciência, tecnologia e inovação que vá para aquele país, tenha um documento de referência sobre como aquele país atua em setores de ciência, tecnologia e inovação. 

Fazemos o contrário também. Estamos trabalhando no mapeamento e na produção de um documento que mostra o ecossistema de inovação brasileiro, para quando vier uma delegação mostramos: "Olha, em Recife tem o Porto Digital, em Porto Alegre tem o Instituto Caldeira, tem o Tecnopuc". Mostrar também para o Exterior o que está sendo feito aqui. Outra é levar os empreendedores para o Exterior, por meio de missões tecnológicas. Também trabalhamos com programas de incubação cruzados, que significa levar startups para conhecer outros países e também selecionar projetos de fora e fazer uma imersão nos ecossistemas.

A guerra comercial entre China e EUA preocupa a diplomacia da inovação?

É preocupante, sem dúvida, mas o Itamaraty sempre trabalhou nesse espaço multilateral, preservando a independência do Brasil, de conseguir trabalhar com todos os povos e buscando oportunidades para o país, procurando avançar da melhor forma o interesse nacional. Continuamos trabalhando nessa área da inovação como antes, buscando oportunidades para inserir o Brasil inovador tanto na Ásia, quanto no hemisfério americano. 

ENTREVISTA

sexta-feira, 11 de abril de 2025



11 de Abril de 2025
EDITORIAL

EDITORIAL

Tem café?

No último fim de semana me reuni com familiares que não via há um bom tempo. Meu tio paterno mais novo visitou os meus pais e nos comoveu com a mensagem final: - Este foi um dos melhores domingos que já tive. Estava tudo excelente: o churrasco, a sobremesa e o café - revelou. Uma declaração que emociona, porque foi o simples que o cativou. Para mim, este é o impacto que bons afetos podem gerar.

Durante todo o encontro, tomamos cerca de cinco térmicas de café. Minha família, em geral, é apaixonada pela bebida. Cresci praticando o ritual: quem levantar primeiro, leva a chaleira com água ao fogo, separa o pó, lava o filtro e coloca todos os itens no bule. E esta deve ser a realidade de muitas famílias brasileiras, afinal, o café é a segunda bebida mais consumida no mundo - atrás apenas da água.

Não à toa, existe uma data para evidenciá-la: 14 de abril. Por isso, nesta edição, a destacamos, como forma de homenagear toda a cadeia de produção, do plantio à moagem. Quem é verdadeiramente fã de café sabe que existe uma infinidade de curiosidades sobre o mercado e dicas para apreciar uma boa xícara. 

Relevante para a economia global, o café movimenta o setor gastronômico e desperta conforto, esse conforto que mencionei acima, quase como uma sensação de aconchego. Receber bem, com um cafézinho fresco, pode mudar o dia de alguém. Espero que no próximo seja o seu. Nas próximas páginas, confira onde ir em Porto Alegre para garantir momentos regados por cafés puros, com leite, quentes ou gelados. Boa leitura! _

Daiani Aguiar - Analista de Conteúdo


11 de Abril de 2025
MARCO MATOS

Visite o Cristo Protetor

De braços abertos, chamando para um abraço. Assim é o Cristo Protetor de Encantado. Tive o prazer de conhecer esse lugar pessoalmente há uma semana, na véspera da inauguração.

Assisti às imagens da construção do maior Cristo do Brasil diversas vezes. Só no jornal, devo ter mostrado mais de 50 vezes nesses quase seis anos de construção de todo complexo. Eu imaginava que o lugar pudesse ser incrível, com uma vista linda do Vale do Taquari, mas ao chegar lá tive várias boas surpresas.

O Cristo é de fato muito alto! Ao chegar nos pés, é preciso inclinar bem a cabeça para conseguir enxergar a estátua por completo. Senti uma energia tão boa, realmente como se estivesse sendo abraçado.

Eu sou religioso, gosto de missa, rezo sempre para agradecer e já participei de várias romarias. Desde criança aprendi a ter fé. A cabeceira da minha cama quando eu era criança era cheia de rosários e fitas de santos pendurados. Tenho paz acreditando nos planos de Deus e conversando com ele todos os dias.

Já conheci várias igrejas lindas pelo mundo e, também, já subi no Cristo Redentor, do Rio de Janeiro. Mas nenhum desses lugares se iguala à sensação que tive ao chegar ao Cristo de Encantado.

Compartilho isso para te convencer a ir até lá.

Todo o complexo é cheio de cantinhos que fazem a gente se sentir bem. A capela de vidro foi o espaço que eu mais gostei. Ao chegar pela recepção o visitante encontra o Caminho dos Salmos - lajotas com alguns salmos escritos - e, também, a Fonte dos Apóstolos. Ainda é possível visitar um velário e o mirante, na frente do Cristo, tem uma vista, de fato, deslumbrante.

Toda a cidade de Encantado se exibe na parte mais baixa do vale. Ao fundo, do lado esquerdo, o Rio Taquari. A perder de vista, morros verdes que se entrelaçam.

Fomos privilegiados, então, com uma surpresa. Entramos pela lateral da base do Cristo e caminhamos até um elevador com capacidade para transportar oito pessoas. Subimos por cerca de uns 30 segundos e quando a porta abriu, lá estava o coração do Cristo diante de nós. Um coração de vidro de onde a vista é ainda mais impressionante.

Protetor. Ah, que nome bem apropriado para essa comunidade. Lá atrás, antes das grandes enchentes, ele já tinha sido batizado. Que assim seja, que esse Cristo proteja essa gente. 

MARCO MATOS


11 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Nos bastidores da capitulação de Trump, o risco de colapso

A interpretação do episódio que culminou com a capitulação de Donald Trump em 9 de abril ainda vai consumir muitas páginas em livros de história... ou em memória de inteligência artificial. Mas, ontem, houve certo consenso em apontar o sinal de travamento na negociação dos títulos do Tesouro dos EUA como gota d?água para a capitulação.

Os Treasuries, como são conhecidos, costumam ser apontados como o porto seguro dos portos seguros, portanto qualquer trava à negociação era algo impensável. O risco de colapso teria sido explicitado a Trump pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, que se opunha ao tarifaço defendido pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick.

Detalhe: a China é o segundo maior detentor desses papéis no mundo, com US$ 761 bilhões, segundo o mais recente relatório do próprio Tesouro americano. O primeiro é o Japão, com US$ 1,08 trilhão, e o terceiro, o Reino Unido, com US$ 740 bilhões. O Brasil também tem esses títulos nas suas reservas, por sua suposta segurança.

Problemas nos Treasuries explicitam que Trump perdeu boa parte da confiança. Dos mercados, dos demais líderes globais, do comando das gigantescas corporações americanas. E suas declarações recentes levantam outra discussão: quão estável está o líder da maior economia do planeta?

Método ou loucura?

O jornal referencial para o mercado financeiro americano, The Wall Street Journal, expressou essa dúvida em título, ontem: "Depois do declínio das tarifas, o mundo pergunta: é método ou loucura?"

É importante observar que a publicação pertence ao grupo de Rupert Murdoch, fiel apoiador de Trump. A formulação usa como referência uma citação de William Shakespeare em Hamlet, em que outro personagem (Polônio) diz que atos irracionais do príncipe "parecem loucura, mas têm método".

Horas antes de capitular, o presidente dos EUA havia comentado a romaria dos pedidos de negociação com uma expressão muito grosseira. Disse que havia uma fila de países "kissing my ass" (perdão, leitores, em português seria algo como "beijando meu traseiro", para usar tradução mais leve).

"Pessoas um pouco assustadas"

Depois do post que marcou a retirada das tropas de tarifas, Trump celebrou a marca histórica da alta da Nasdaq (12,16%), como se ele não tivesse criado o precipício para que as ações despencassem.

- Isso não tem nada a ver com tarifas - afirmou, como se houvesse causa sem consequência.

Em seguida, ensaiou uma confissão:

- As pessoas estavam ficando muito agitadas.

Pesquisas depois do tarifaço mostraram queda de aprovação de Trump nos EUA e rejeição majoritária à guerra comercial. E essa reprovação veio de investidores que o apoiaram, líderes corporativos, instituições financeiras e pequenos empresários e comerciantes. É bom lembrar que os americanos de classe média têm hábito de investir na bolsa, o que faz perdas de valor de mercado provocarem prejuízos reais a pequenos poupadores. _

Bolsas asiáticas e europeias disparam e as americanas... voltaram a cair

Depois que Trump voltou atrás e adiou por 90 dias a aplicação de tarifas acima de 10%, com exceção da China, bolsas asiáticas e europeias dispararam, enquanto índices americanos e a Nasdaq... voltaram a cair. A japonesa Nikkei fechou com salto de 9,13%, enquanto a Hang Seng, de Hong Kong (China), subiu 2,06%.

As principais bolsas europeias subiram: Londres (FTSE 100) teve alta de 3,04%; Frankfurt (DAX), de 4,53%; Paris (CAC 40), de 3,83%; Milão (FTSE MIB), de 4,73%. No Brasil, o dólar teve alta de 0,92%, para R$ 5,899, e a bolsa registrou queda de 1,13%.

Um dos motivos é óbvio: tanto as asiáticas quanto as europeias já haviam fechado, na quarta-feira, quando Trump anunciou o recuo. As americanas tiveram saltos históricos logo em seguida: 7,87% no índice mais tradicional (DJIA) e 9,52% no mais abrangente (S&P 500) da bolsa de Nova York e 12,16% na Nasdaq, de tecnologia. Ontem, quem decolou na véspera tentou manter os pés no chão: Dow Jones Industrial Average ou DJIA teve baixa de 2,5%; o mais abrangente (S&P 500), queda de 3,46%; e a Nasdaq, de empresas de tecnologia, baixa de 4,31%. _

"Fakeflação" voltou, agora com ovos de Páscoa "sabor chocolate"

Em 2022, quando o Brasil passou mais de 10 meses com inflação anual acumulada em dois dígitos, surgiu a "fakeflação", com maquiagem de produtos para reduzir custo e facilitar a venda. Na época, os mais famosos foram soro de leite (subproduto da fabricação de queijo) em embalagens semelhantes às do leite longa vida e caixinhas de "mistura láctea condensada".

Em 2025, a "fakeflação" voltou. Surgiu o pó "sabor café" e agora, os ovos de Páscoa "sabor chocolate". No Brasil, é necessário ter ao menos 25% de cacau na composição para que um produto possa ser chamado de chocolate. Menos, vira "sabor chocolate". Não é ilegal se estiver escrito bem claro na embalagem. _

Entrevista - Jaana Goeggel

"Decisões seguem concentradas em homens"

Um dos focos do South Summit Brazil 2025 é o empreendedorismo das mulheres. Uma das participantes dos painéis é Jaana Goeggel, fundadora da Sororitê Angel Network, rede de mulheres investidoras no Brasil em sociedade com Erica Fridman. A suíça diz que está aberta a receber projetos de gaúchas.

Qual sua trajetória no país?

Estou há 17 anos no Brasil. Minha carreira é de executiva, trabalhei em multinacionais. Sou formada em engenharia. No Brasil, passei por American Express e Expedia Group, grandes empresas americanas, sempre em posições de diretora de inovação, novos negócios, estratégia e produto. Saí da Expedia em 2020, na época da pandemia. Saí do mundo corporativo porque não era possível viajar e estava cansada de tentar incentivar a inovação em empresas grandes. (...) E a vida me levou para outros caminhos.

O que ocorreu?

Quis usar o tempo para conhecer o ecossistema das startups. Comecei a fazer investimento anjo (aporte de recursos de pessoa física) em um grupo em São Paulo dos graduados da Columbia University. Foi ótimo, porque havia muitos colegas do mercado financeiro, que trabalham em fundos, bancos de investimento. Mas eu era a única mulher, a única investidora, também não havia mulheres no nosso dealflow (fluxo de oportunidades de negócio). Isso reflete o mercado, mas me incomodava. 

Quando um amigo me conectou com a Erica, minha sócia, e ela me falou em criar um grupo só de mulheres investidoras, investindo em startups de mulheres, achei o máximo. Topei na hora, e começamos um grupo de menos de 10 mulheres amigas no WhatsApp. Era 2021, não havia grandes ambições, mas fomos crescendo. (...) 

Nosso foco sempre foi ser um grupo acolhedor para mulheres, para transformar mais mulheres em investidoras, porque entendemos que precisamos mudar o topo do funil. Decisões ainda estão muito concentradas em homens brancos de meia-idade. Principalmente quando falamos sobre investimento em startups early stage (estágio inicial), em que não há dados. (...) Existem estudos de diferentes áreas demonstrando como mulheres são avaliadas de forma diferente do que homens, como executiva ou fundadora de start- up. Não surpreende que só 2% do capital investido em startups vai para fundadoras mulheres. Nosso trabalho é trazer mais mulheres a ser donas do capital para investir em outras mulheres.

 Está crescendo?

Sim, mas ainda são poucas as mulheres, de 15% a 20% no Brasil, que são investidoras anjo. Estamos trabalhando para aumentar.

Com quantas empresas de mulheres estão trabalhando?

Temos uma base de centenas de mulheres, que está crescendo. Toda semana recebemos novas inscrições. Quem fala que não tem mulheres para investir está mentindo. Fizemos dois investimentos no fundo até agora e temos portfólio de 18 startups que foram investidas pelo grupo de anjos. _

GPS DA ECONOMIA

11 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Estado usa inteligência artificial para reduzir a evasão escolar

Um projeto inovador desenvolvido inteiramente pelo governo estadual usa inteligência artificial (IA) para controlar a evasão escolar. O sistema cruza dados do cotidiano e comportamento dos alunos, que são classificados em níveis de risco de abandono dos estudos. A partir disso, as escolas fazem acompanhamento dos estudantes com planos de ação elaborados caso a caso.

A plataforma foi detalhada em um painel ontem no South Summit pelo vice-governador Gabriel Souza, as secretárias de Educação, Raquel Teixeira, e de Planejamento, Danielle Calazans, e o diretor- presidente da Procergs, Luiz Fernando Záchia.

A IA avalia todas as informações do aluno, por exemplo: se a família está no CadÚnico, se já repetiu o ano e em quais disciplinas foi reprovado, se tem vulnerabilidade social ou problema de saúde, se enfrentou gravidez precoce. Também identifica a frequência escolar, se o aluno comparece a uma disciplina e falta em outra no mesmo dia, por exemplo.

A partir dos indicadores, aponta o nível de risco, classificados em crítico, alto, médio e baixo.

Os dados ficam cadastrados no portal Escola RS, que pode ser acessado pelos professores e orientadores educacionais.

O sistema foi validado em quatro escolas utilizadas como piloto no ano passado. Os resultados "muito satisfatórios" permitiram ao Estado disponibilizar o recurso para toda a rede em 2025. Por enquanto, 602 escolas utilizam, e a plataforma gerou 4,8 mil planos de ação.

- Com os dados do aluno tem um plano de ação. Por exemplo, se há gravidez precoce, tem um cardápio de ações que precisam ser feitas. O orientador da escola faz acompanhamento diário, vai descobrindo as situações, e vai atrás do aluno para entender as situações, avisa a família. Evasão é o desafio mais sério que temos no Estado - explica Raquel.

Intenção é ampliar

A secretária acredita que a quantidade de escolas utilizando a plataforma deve crescer ainda mais a partir da próxima semana, quando comandará uma live com as instituições da rede para apresentação e demonstração do recurso. _

Empresa de Los Angeles estuda instalar operação no RS

Com clientes como a Google, a Nasa e os Estúdios Disney, a empresa Magnopus assinou ontem termo de engajamento com a Invest RS para instalar uma operação no Estado. Os sócios são o americano Alex Henning, que tem no currículo um Oscar de efeitos visuais pelo filme A Invenção de Hugo Cabret, e o gaúcho Marcelo Lacerda, um dos pioneiros da internet no Estado. Lacerda criou a Nutecnet, que depois daria origem ao portal Terra. Os dois participam do South Summit.

Termo de engajamento é o documento assinado entre a Invest RS e as empresas interessadas em investir no Estado. O acordo estabelece os termos do apoio técnico e especializado que a agência oferece para que o parceiro concretize o negócio pretendido.

Sediada em Los Angeles, a Magnopus é uma referência global na produção de tecnologias imersivas. _

Quase um ano após enchente, ponte na RS-130 é inaugurada

R$ 640 mil em diárias no TCE

MEC nega dados sobre novos cursos de Medicina

Crítico da abertura indiscriminada de cursos de Medicina, o Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) tentou obter informações detalhadas sobre faculdades que começaram a receber alunos sem ter ambulatórios e hospitais garantidos. O Ministério da Educação (MEC), porém, indeferiu o pedido, alegando que não poderia ferir "segredos mercadológicos". _

mirante

O projeto de concessão do bloco 2 das rodovias estaduais prevê 24 pórticos de cobrança automática de pedágios e não 54, como a coluna publicou na edição de ontem.

O desembargador João Batista Pinto Silveira foi eleito ontem presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) para o biênio 2025-2027. Vivian Josete Pantaleão Caminha será a vice e Salise Monteiro Sanchotene, a corregedora regional da Justiça. A posse deve ocorrer no dia 20 de junho.

POLÍTICA E PODER


11 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL- Rodrigo Lopes

Série sobre Kiss motiva ação contra a Netflix

O escritório de advocacia que representa a massa falida da boate Kiss entrou com ação judicial contra a Netflix por entender que houve violação dos direitos de marca e imagem na minissérie Todo Dia a Mesma Noite, que, em cinco episódios, revisita a trágica história do incêndio que ocorreu em Santa Maria em 2013.

Os advogados defendem que nomes de personagens (vítimas, sócios da boate e autoridades) foram alterados e que o roteiro contou com elementos de ficção - entretanto, o nome da "boate Kiss" não foi alterado, o que configuraria dano. Eles pedem na ação valor superior a R$ 65 milhões.

A busca pela reparação das violações legais à marca e à imagem tem caráter jurídico legalista, mas também social, uma vez que os ativos de propriedade da massa falida (bens e direitos) arrecadados, em caso de decisão favorável, serão utilizados para o pagamento dos credores no processo falimentar, que, em sua quase totalidade, são as vítimas da tragédia de Santa Maria.

A falência da boate, enquanto pessoa jurídica, foi decretada em 10 de julho de 2024. O processo está a cargo da Vara Regional Empresarial de Pelotas.

Kiss é o nome fantasia da boate que pegou fogo em janeiro de 2013. O CNPJ da empresa está registrado na Junta Comercial do RS como Santo Entretenimentos Limitada. A partir da decretação de falência, o magistrado nomeou um administrador judicial, que, por sua vez, assumiu a representação processual da massa falida da boate. O responsável é a Catalise Administração Judicial, de Porto Alegre. Trabalham na ação os advogados Fábio Cainelli de Almeida e Laura Meireles.

Após a tragédia, a Kiss acumulou dívidas milionárias devido às indenizações e passivos trabalhistas, principalmente porque funcionários que estavam trabalhando naquele dia morreram no incêndio. Com isso, herdeiros legais receberam os direitos às indenizações na Justiça do Trabalho (não, necessariamente, os valores). No âmbito cível, as indenizações couberam aos frequentadores da boate - no caso de vítimas fatais, seus sucessores. O passivo da Kiss é avaliado em R$ 78 milhões.

A coluna solicitou posicionamento da Netflix sobre o caso e aguarda retorno. _

Possível mudança em concursos de professores

Um projeto de lei que prevê mudanças nas provas de concursos públicos para professores da Capital foi protocolado, ontem, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Pela primeira vez, seriam aplicadas uma prova didática - com simulação de sala de aula - e uma avaliação psicológica. O documento será avaliado pelo Legislativo.

O texto indica as seguintes modalidades de prova: objetivas, discursivas, didáticas, avaliação psicológica e de títulos.

A didática seria para avaliar o desempenho do candidato quanto ao planejamento, ao domínio do conteúdo teórico e ao método de ensino, com simulação de uma aula, por meio da exposição oral do candidato sobre um tema do conteúdo programático.

Já a avaliação psicológica seria somente aos aprovados nas demais etapas e para verificar competências comportamentais dos candidatos, feita por profissionais de psicologia. _

Papa se reúne com rei Charles e Camilla

O papa Francisco recebeu, na quarta-feira, a visita do rei Charles e da rainha Camilla. Um registro da audiência privada foi compartilhado ontem pela Santa Sé nas redes sociais.

A audiência havia sido inicialmente cancelada devido à condição de saúde do pontífice argentino, que aos 88 anos se recupera das recentes complicações de saúde.

"Durante o encontro, o Papa teve a oportunidade de expressar seus votos a suas majestades por ocasião do aniversário de seu casamento e retribuiu Charles III os votos de uma rápida recuperação", anunciou o Vaticano em comunicado.

Um porta-voz do Palácio de Buckingham disse que "Suas Majestades ficaram felizes que o Papa estava bem o suficiente para recebê-los - e por terem a oportunidade de compartilhar os seus melhores desejos pessoalmente". _

Entrevista - Daniel Almeida - Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

"Importante é olhar como oportunidade para o Brasil"

Convidado do South Summit Brazil, Daniel Almeida Filho falou sobre inovação tecnológica. À coluna, comentou sobre o tema e impactos da guerra comercial entre EUA e China no setor.

? O que falta para o Brasil estar entre os gigantes?

Para lançar um foguete, não precisa só acender o pavio. Precisa do combustível, da carcaça para aguentar o combustível, de um conjunto de peças, um complexo para desenvolver isso. Tem o fator de investimento. Ainda precisamos muito mais. Estamos abaixo do nível de investimento dos países líderes, como EUA e China. Outra questão é a mudança cultural para que instituições de ciência e tecnologia interajam cada vez mais e atendam às demandas de forma mais contínua do setor produtivo para continuar investindo. Tem as barreiras legais, institucionais, que precisam ser diminuídas. Já diminuiu, mas precisamos melhorar questões regulatórias: o tempo de concessão de uma patente no Brasil, que era de 10 anos, pretende-se reduzi-lo para dois anos até 2026.

? A guerra comercial entre China e EUA pode impactar o desenvolvimento tecnológico no Brasil?

Do ponto de vista de impactar o desenvolvimento tecnológico, acho que sim. De certa forma, é uma reorganização das correlações mundiais. Do ponto geopolítico, é algo a se preocupar. Temos de estar atentos às questões geopolíticas para entender como melhor agir. E procurar, já que estamos historicamente em desvantagem do ponto de vista de desenvolvimento tecnológico, olhar isso como oportunidade para novos saltos. É como se estivéssemos esquentando a massinha de modelar, deixando-a mais molinha de novo e, quando ela se reestruturar, estar em patamar maior. O importante é olhar como uma oportunidade para estabelecer o Brasil de novo ao lugar do qual nunca devia ter saído. 

INFORME ESPECIAL

quinta-feira, 10 de abril de 2025


10 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Theo, Anna, Kerollyn, Miguel, Bernardo...

Quem não derramou lágrimas para Theo, cinco anos, que foi comemorar o aniversário do pai e acabou arremessado ainda vivo de uma ponte por ele?

Quem não chorou por Anna, sete anos, golpeada com nove facadas pela mãe em seu condomínio em Novo Hamburgo? Ou Kerollyn, nove anos, encontrada morta em um contêiner de lixo em Guaíba? Ou Miguel, sete anos, posto em uma mala e lançado nas águas do Rio Tramandaí?

Quem conseguiu dormir depois de descobrir o sofrimento de Bernardo, Rafael e Anthony, alguns exemplos célebres de meninos maltratados e mortos pelos próprios familiares?

Ou os pequenos são jogados no rio, ou dopados, ou abandonados para sempre - padecendo de chagas que ninguém compreende.

Estamos exaustos de nos convencer de que eles se tornaram anjos no céu. Não mereciam o inferno na Terra. Poderiam ter sido anjos aqui, na escola, na comunidade, se não tivessem suas linhas do destino interrompidas pelo ódio.

Um levantamento assustador de Zero Hora constatou que, de 153 assassinatos de crianças de até 12 anos no RS ao longo da última década, 70 foram cometidos pelos pais. Quase a metade. As mães aparecem como as que mais mataram, com 41 crimes, secundadas pelos pais, com 18. Em 11 tragédias, o dueto pai-mãe surge como autor. O total é ainda maior quando se incluem padrastos e madrastas, responsáveis por 19 assassinatos. Outros familiares teriam sido pivôs letais em, pelo menos, nove casos.

Em 2015, 2016 e 2017, a violência familiar determinou cerca de 40% dos assassinatos de crianças. Já em 2024, esse percentual saltou para alarmantes 70%.

O perigo mora dentro do lar. A violência se faz mais presente nas entranhas domésticas.

Ou seja, não é na rua, não é na abordagem de estranhos, mas no próprio quarto. Não é uma bala perdida que surpreende pelas costas, mas a mão que está à frente segurando o berço.

Por que o nosso Estado se converteu em uma fábrica de filicídio, com repetição inesgotável de crimes brutais e hediondos?

Não é possível culpabilizar uma região. Os focos estão espalhados, não predomina um lugar específico. São várias cidades do Interior, do Litoral ao Pampa, como uma metástase da rejeição.

Qual será a cura para esse câncer coletivo?

Nunca o Conselho Tutelar se mostrou tão decisivo para antecipar e detectar avisos de maus-tratos. Precisamos fortalecê-lo como braço direito do Ministério Público.

Existe um adoecimento do sonho gregário, uma debilidade generalizada das figuras paterna e materna, que atentam contra vidas indefesas. Aqueles que detêm o papel de cuidar das nossas crianças vêm se transformando em seus mais cruéis algozes.

É tradição recorrer ao pretexto de "famílias disfuncionais" - quem foi vítima na infância gera novas vítimas, numa reprodução das estruturas da truculência -, mas vejo que o problema vai além. Desponta uma sociopatia como base de criação, uma bandidagem disfarçada de proteção. Tem algo a mais, extrapolando a desordem e o caos. Tem uma motivação secreta, uma prática de aborto tardio a partir do homicídio.

A obediência filial é substituída por exploração. Logo em seguida, a submissão vira tortura, e o filho não pode dar um pio. Desaparece em silêncio. No fim, persiste um entendimento abominável de que crianças nascem para atrapalhar a existência e devem morrer. _

CARPINEJAR

10 de Abril de 2025
LUCIANO POTTER

O que interessa?

Noel Gallagher, um dos irmãos do Oasis, o principal compositor da banda, não é flor que se cheire. Mas é um compositor pop soberbo. Sobram hits, capacidade de fazer músicas que milhões cantam pelo mundo. Ponto. Informação.

Há um documentário chamado Supersonic. A alma do Oasis tá ali. E uma das frases de Noel ali é: "nada interessa mais de mim do que a música". BINGO.

As entrevistas, o que eles pensam sobre outros assuntos, as brigas, as polêmicas? Azar o delas. E a tese de Noel é simples e perfeita por ser simplória: "as pessoas só lembrarão das nossas músicas. O resto é bobagem".

Capacidade de enxergar a posteridade. Mas, sim, já pensei como você. Sim: e nós aqui, que não temos capacidade de montar uma banda e tocar pelo mundo e ter 25 músicas que serão lembradas por anos e anos?

A gente age. Se mexe. Por que vamos entrar para história? Não. Porque faz bem pra nós. Chega a ser um ato egoísta.

Vamos aos pensadores: o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre defende a ideia de que a existência precede a essência. Bonito isso. Assim, o que fazemos molda quem somos.

Para Aristóteles, a virtude é uma disposição para agir de maneira correta. Viu?! A vida boa é aquela em que as pessoas se dedicam a agir de acordo com suas virtudes, enfatizando a importância do que fazemos. Repito: "do que fazemos".

Larguemos os filósofos. Vamos para os estudos:

Estudos em psicologia social, como os de Albert Bandura sobre a teoria da autoeficácia, mostram que as ações das pessoas têm um impacto significativo no mundo ao seu redor.

Noel? Você tem razão.

Wonderwall é eterna. O que você falou em entrevistas será esquecido.

E nós aqui?

Fazer. Fazer e fazer. Repetir, errar. Tentar. Mas fazer e nunca mais parar de fazer. Se der certo, nós felizes, sociedade ganhando com nossas realizações. Se der errado, sem problemas, refaçamos. Até porque nem toda música de Noel virou um clássico.

A vida é, na verdade, estatística.

De tanto fazer, um dia, rola a nossa wonderwall. _

LUCIANO POTTER