sexta-feira, 6 de junho de 2025


06 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Geração sem cicatrizes

Eu tenho cinco cicatrizes na cabeça, de quedas na minha infância.

Sou costurado, um pouco Frankenstein. Mantinha carteirinha no pronto-socorro Cruz Azul, da ladeira da Mostardeiro. Os enfermeiros me atendiam pelo nome.

Uma vez levei 14 pontos no pega-pega com meus irmãos, quando me choquei com a quina de uma parede no pátio. Outra vez contabilizei oito pontos, quando banquei o Tarzan e decidi ir do telhado até o chão segurando a corda do varal. Também tive corte no recreio da escola ao tropeçar e mergulhar no portão (cinco pontos), ao bater bola dentro de casa e me esborrachar numa mesa (12 pontos), ao brincar de touro - fazia o papel do animal chifrudo, novamente com os irmãos - e ir com o lençol de encontro a uma cerca (sete pontos).

Alcancei a pontuação (46) que Inter, Grêmio e Juventude precisam para escapar do rebaixamento. Eu subia em árvores, teimava em imitar super-heróis, aprontava molecagens. Aprendi assim quais são os limites do meu corpo e me eduquei ao perigo.

Entre os manos, teve quem quebrou o braço e a perna e suportou a imobilidade e a tala do gesso.

Todos diziam que nós éramos terríveis. Esqueci de contar em quantas ocasiões ralei o joelho descendo lombas de bicicleta ou fingindo ser o Flash Gordon entre materiais de construção. Fui uma peste, misto de azarado e distraído.

Mas a vida tinha um tanto de realidade, as travessuras tinham um tanto de aventura. Sabíamos o que significava sangrar, temíamos as feridas, esperávamos sarar.

Já meus filhos não exibem nenhuma marca - apenas as das vacinas. Não enfrentaram nenhuma expedição em terreno baldio, nenhuma guerra de bexiguinha, nenhuma batalha armados com vassoura e o escudo da tampa de lixo. Não jogaram futebol na rua nem taco com os amigos na calçada.

Não que eu os tenha protegido melhor: é que já são do mundo digital. Toda a sua formação partiu da virtualidade. Representam a era dos filhos do apartamento, não do quintal.

Agora as crianças são do celular. Aprofundaram ainda mais as simulações. Percebem a natureza por ouvir falar, por ler, por assistir, por espiar a metros de distância no zoológico, atrás das muradas.

Existe uma superproteção que conduz nossos rebentos à alienação dos sentidos - a nunca abandonar os dentes de leite do coração. Mal reclamam com um "ai" e se veem amparados. Os pais assumiram a condição de dublês emocionais, e querem substituí-los para que não sofram um arranhão.

Isso é obra do amor, entretanto um amor que não permite que cresçam sem autorização. Não ajuda a criar resistência. É uma intimidade que não inspira o pequeno a se responsabilizar pela sua ação. É uma infantilização da experiência.

Há diferença entre estar por perto e viver no lugar do outro. O zelo excessivo gera indivíduos desprovidos de anticorpos sociais. Teoricamente preparados, tecnicamente incapazes de discernir o que é necessário ou não, o que comove ou não, o que é bom ou ruim. Correspondem a almas sem pele.

Sob o pretexto verídico da violência, dos assaltos e dos sequestros, subtraímos o envolvimento com os vizinhos e com o chão de fábrica das emoções. O corredor do prédio tornou-se a única avenida frequentada.

Como propor um cuidado com as árvores se não ocorre a distinção de uma pitangueira, de um flamboyant, de uma figueira? Como se aproximar dos passarinhos se o pio do pardal passa a ser igual ao canto do sabiá? Como ensinar ecologia aos filhos transmitindo o pavor do contato?

Não os deixamos tomar banho de chuva porque irão se gripar. Não os deixamos mexer no fogão porque poderão se queimar.

Isolamos as crianças para que não corram riscos. Coletivizamos a bolha. Longe da vulnerabilidade, desconhecerão a própria coragem.

Prevenindo o pior, eliminamos o que há de mais notável na existência: a espontaneidade. A possibilidade terapêutica de simplesmente alegar, diante de uma ferida, que "não foi nada", e soprá-la. _

CARPINEJAR

06 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS

Poucos vacinados, emergências lotadas

O apelo para a população gaúcha se imunizar contra a gripe deve ser a todo momento reforçado. É imperioso reiterar o chamamento diante da situação crítica na área da saúde no Estado, com emergências superlotadas por pessoas com sintomas respiratórios, ao mesmo tempo que a cobertura vacinal está muito aquém do necessário.

Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ontem, a secretária Estadual da Saúde, Arita Bergmann, apresentou números alarmantes, mas ao mesmo tempo esclarecedores. Apenas 5% dos pacientes hospitalizados no RS com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) tomaram o imunizante contra a influenza. Das pessoas que estão indo a óbito, somente 3%.

Preocupa a constatação da secretária de que os municípios, responsáveis pela aplicação, na ponta do sistema, estão empreendendo os esforços necessários para ampliar o nível de proteção individual e coletiva, mas não há a resposta adequada da população na procura pela vacina. Na média do Estado, a cobertura está em 41%. Nos grupos etários mais vulneráveis, crianças e idosos, está em 27% e 45% respectivamente. São níveis muito baixos diante das metas de imunizar pelo menos 90% dos públicos-alvo.

É indispensável que gestores públicos da área, com o apoio de especialistas, ampliem o esforço informativo e reforcem a mensagem da importância de se vacinar. Significa proteção pessoal mas também comunitária, por diminuir a circulação viral. A imunização não impede de pegar a gripe. Mas reduz as complicações, as internações e a mortalidade. No final do mês passado, a prefeitura de Porto Alegre publicizou outra informação que atesta o quanto deixar de se vacinar eleva riscos. Todas as mortes por gripe e covid-19 neste ano na Capital foram de cidadãos que deixaram de tomar as suas doses.

É esperado que, com uma parcela reduzida da população sob a proteção da vacina, mais gente apresente um quadro agravado de sintomas respiratórios e acabe precisando de amparo dos serviços de saúde. O quadro de superlotação, com maior dificuldade de quem procura ajuda encontrar atendimento adequado, é a consequência natural. De pais e responsáveis se requer ainda mais atenção pela obrigação que têm de zelar pelo bem-estar das crianças sob sua guarda.

Mas, além da ênfase na conscientização, é preciso ampliar as possibilidades para que a população se vacine, estendendo horários e dias abertos dos locais que oferecem imunização. Muitos trabalhadores têm dificuldade de se deslocar até um desses pontos em horário comercial. A Capital, nesse sentido, vai abrir as portas de uma série de unidades aos finais de semana, a partir deste. A busca ativa e a ida de equipes até locais como as instituições de longa permanência para idosos, da mesma forma, são estratégias necessárias.

A combinação da baixa cobertura com as emergências abarrotadas exige providências imediatas. Mas também se deve aprender as lições deste ano. É preciso compreender melhor as razões da busca diminuta pelo imunizante. Por certo são causas que vão além da desinformação. Ter essa noção é basilar para se planejar para as próximas estações frias e evitar que o quadro atual se repita. 


06 DE JUNHO DE 2025
MINHA CASA, MINHA VIDA

MINHA CASA, MINHA VIDA

Minha Casa, Minha Vida. Investimento de R$ 34 milhões para construção de moradias

Recursos serão destinados a 11 cooperativas envolvidas na edificação de unidades habitacionais. Inicialmente, serão 1.689 residências no Estado

Júlia Ozorio

Os governos federal e do Rio Grande do Sul assinaram, na quarta-feira, um protocolo de intenções que prevê um repasse de R$ 34 milhões para impulsionar a construção de moradias no Estado por meio de cooperativas habitacionais. A iniciativa possibilitará 1.689 residências em 11 municípios.

A assinatura aconteceu no canteiro de obras do Condomínio Dois Irmãos II, no bairro Campo Novo, na Capital. O empreendimento está sendo construído pela Cooperativa Habitacional Dois Irmãos (Coohadil), uma das beneficiadas pelo programa.

O aporte de R$ 34 milhões, feito pelo governo do RS, será destinado ao programa estadual Porta de Entrada - Entidades, que atenderá cooperativas habitacionais que executam obras do Minha Casa, Minha Vida - Entidades. Cada unidade habitacional feita por meio desse programa contará com recurso de R$ 20 mil.

- Com esses aportes que fizemos, garantimos a conclusão de obras que vão significar, para milhares de famílias, um lar digno. Mesmo que eventualmente se tenha diferença política, debate e divergências aqui e ali, nunca essas diferenças políticas vão se sobrepor às políticas públicas que atendem a nossa população - disse o governador Eduardo Leite sobre a parceria com o governo federal.

O ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, fez coro:

- O que estamos fazendo hoje é fortalecer o pacto federativo. Estamos assinando com o governo do Estado um suporte para essas obras, que são do Minha Casa, Minha Vida - Entidades. São para entidades que lutam pela moradia. A gente pretende que essa parceria com o governo do Rio Grande do Sul possa ser fortalecida cada vez mais com as prefeituras e que isso possa, obviamente, realizar o sonho da casa própria.

Serão 15 empreendimentos

Onze cooperativas tiveram projetos selecionados pelo Ministério das Cidades para a construção das residências. Os recursos devem resultar em 15 empreendimentos e 1.689 unidades habitacionais, sendo incluídos na Lei Orçamentária Anual de 2026 do Estado e repassados às entidades por meio da Caixa, agente financeiro do programa.

A cerimônia contou com a presença de Eduardo Leite; o secretário estadual de Habitação e Regularização Fundiária, Carlos Gomes; o ministro Jader Barbalho Filho; e o secretário nacional de Habitação, Augusto Rabelo.



06 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Cautela sobre "solução estrutural" no rombo

Depois da reação que sinalizava alta expectativa de uma efetiva "solução estrutural" para o buraco nas contas públicas deste ano e de 2026, agora a sensação predominante é de cautela. O "jogral" feito pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos- PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), havia ajudado a cristalizar a percepção de uma alternativa de mais longo prazo ao aumento do Imposto sobre Operações Financeira (IOF).

No entanto, as poucas informações existentes sobre o conteúdo do "pacote fiscal" não consolidaram essa expectativa, nem no mercado nem entre especialistas em contas públicas. Podem ser vazamentos parciais ou incorretos - dos quais reclamou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad -, mas o que se sabe até agora provoca mais desconfiança do que conforto.

As medidas que frequentam as mesas - não de apostas, mas de operações de mercado - guardam semelhanças: incluem freio ao crescimento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e uma revisão geral de benefícios fiscais, o chamado "custo tributário".

Ponto que divide o mercado

A hipótese de revisão de incentivos ganhou robustez porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou o valor a que teria chegado a chamada "bolsa empresário", de R$ 800 bilhões ao ano. Esse é um número que ainda não foi oficializado, tampouco detalhado. Só é mencionado por integrantes da equipe econômica. Teria origem em questionário relativamente novo da Receita Federal que exige detalhamento dos benefícios usufruídos. O dado oficial do orçamento deste ano já é de espantosos R$ 587,4 bilhões.

Uma eventual revisão geral, como a especulada, teria poderoso efeito fiscal, de fato, mas esse é um ponto que divide mercado, Congresso e especialistas em contas públicas. Os estudiosos dos "buracos negros" do orçamento são entusiastas, o mercado deplora, porque afeta empresas, e os integrantes do Congresso só não expressam incômodo para não ficar chato, porque sofrem pressão de seus grupos de interesse.

Então, parte do desconforto vem daí. E parte vem do fato de que não está parecendo que pode cair, de fato, alguma das vinculações do orçamento, seja a da despesas de saúde e educação à receita, seja a dos benefícios previdenciários ao reajuste real do salário mínimo. _

Um telefonema entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, levou o dólar a R$ 5,586 ontem, cotação mais baixa desde outubro de 2024. Tudo o que se soube é que teria sido "positivo para ambos os países".

A GurIA que vai falar com todos os gaúchos

Pode-se dizer que a GurIA, a inteligência artificial que vai conectar serviços públicos estaduais a todos os gaúchos, é filha da enchente. Embora já houvesse planos de uma ferramenta mais proativa, foi no sufoco para fugir da água que sua vinda ao mundo foi acelerada. Foi desenvolvida no Estado, com parceria do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado (Procergs), da Amazon Web Services (AWS) e da IBM. A coluna havia antecipado a nova fase de interação, que era prevista para abril, mas atrasou um pouquinho.

Treinada para falar "gauchês", a GurIA é uma assistente virtual por texto ou voz baseada em IA generativa - já que se mencionou família, seria prima distante do ChatGPT. E como a tecnologia básica é da IBM, é sobrinha do já respeitável Watson em sua versão X.

Watson foi uma versão pioneira de algo parecido com inteligência artificial, surgido há uma década Agora, o Watson X é sua versão generativa.

A GurIA está disponível no portal www.rs.gov.br e pelo Whats­App (51 3210-3939). Entre suas habilidades, está a recomendação de serviços conforme o perfil do usuário.

A IA generativa do serviço público gaúcho tem selo de certificação no WhatsApp para reduzir risco de fraudes e golpes. Lançada pelo governador Eduardo Leite, teve apresentação com holograma interativo.

- Mais do que tecnologia, estamos falando de inclusão, respeito ao tempo e à realidade de cada pessoa. A GurIA é um símbolo desse novo momento: um governo que escuta, compreende e age, que facilita o acesso e torna a experiência pública mais simples, intuitiva e útil para todos - disse Leite.

Conforme a secretária de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, a GurIA vai usar linguagem acessível, com foco em orientar o cidadão com precisão e agilidade. À coluna, um tempo atrás, já havia prometido que a IA gaúcha não vai ficar mandando "bom dia" indesejado:

- Com o tempo, vai funcionar como a Netflix, vai entender o perfil do cidadão e interagir com ele, com o cuidado de não ser invasivo demais - detalhou Danielle. _

Venda acelerada

A Melnick apresenta dois novos edifícios residenciais na zona norte da Capital. Na primeira fase, que inclui só uma das torres, foram vendidos 60% dos apartamentos em cerca de 15 dias. São unidades de dois e três dormitórios, de até 125 m2, na Rua Carlos Legori, 590, no bairro Boa Vista. O valor geral de vendas (VGV) da primeira torre é de R$ 115 milhões.

A segunda fase vai incluir apartamentos de três dormitórios, com áreas entre 125 e 410 m2. O VGV ainda não é informado. _

Sinal de celular mais sustentável

Enquanto avança na cobertura 5G na Capital, a Claro dá passos verdes na Grande Porto Alegre: Guaíba vai receber a sétima usina solar da operadora no RS.

A unidade vai compor o programa de energia da Claro, de geração distribuída de energia renovável, iniciado em 2017. No Estado, há capacidade instalada de cerca de 30 MWp, o que permite que 80% dos clientes gaúchos estejam conectados a sinal de celular mais sustentável.

As usinas gaúchas do projeto da Claro ficam em Uruguaiana, Guaíba, Alegrete, São Sepé, Santa Vitória do Palmar e Itaqui. Ao todo, são 109 usinas de energia limpa no país.

O reforço sustentável em Guaíba ocorre no Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado ontem. _

GPS DA ECONOMIA

06 de Junho de 2025
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

Adesão ao Propag não terá barreiras na Assembleia

Ainda que queira aparar arestas em Brasília, o governador Eduardo Leite tem uma preocupação a menos para garantir a adesão ao Propag, novo acordo de pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União. O Piratini não deve enfrentar resistências para aprovar a medida na Assembleia, onde deputados de esquerda e direita admitem o voto a favor da negociação. O prazo para aderir ao programa vai até o final do ano.

O receio do governo gaúcho é o risco de judicialização em razão de o RS ter sido liberado de aportar recursos até 2027 em um fundo compartilhado entre os Estados. O presidente Lula editou decreto dispensando a contribuição, mas Leite quer derrubar vetos presidenciais no Congresso para ter a garantia firmada em lei.

O líder do governo, Frederico Antunes (PP), avalia que a adesão ao Propag é bem aceita pois todas as forças políticas almejam disputar o governo em 2026 e assumir o Estado sob o novo acordo:

- A votação na Assembleia é o menor dos problemas, todo mundo vai querer pegar Estado com dívida menor.

O líder do PT, Miguel Rossetto, diz que não há justificativa para cogitar a judicialização temida pela Fazenda.

- O Propag é muito melhor e superior ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O governador deveria estar comemorando, mas o pré-candidato acha problemas - alfineta Rossetto, em referência à disposição de Leite de disputar a Presidência.

Pelo PL, Rodrigo Lorenzoni reconhece procedência na desconfiança do governo estadual, mas aguarda um acerto entre as partes:

- O Propag é um processo mais vantajoso para o Estado, melhor que o RRF, isso é inequívoco. O Estado deve endereçar todos os esforços para aderir a esse programa, mas precisamos ter segurança jurídica.

Pagamento suspenso

O passivo do RS com o governo federal supera os R$ 100 bilhões, mas o pagamento das parcelas está suspenso até 2027 em razão da enchente de 2024. Nesse período, os recursos que iriam para Brasília estão sendo depositados no Funrigs, o fundo da reconstrução. _

Operação robusta

Será fechada hoje, em Paris, operação de crédito para viabilizar o aporte de recursos a projetos voltados ao meio ambiente e à resiliência climática no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Trata-se de acordo entre o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).

Presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior não adiantou o valor contratado, mas disse que será o maior já celebrado entre as instituições, superando os 100 milhões de euros aportados em 2022:

- Além de viabilizar mais recursos para financiar a agricultura sustentável, a geração de energias limpas e cidades inteligentes, uma das grandes novidades da parceria é a possibilidade de apoiar projetos em resposta aos desastres naturais e em áreas como a saúde e educação. _

Entusiasmo no Piratini

A pesquisa Quaest divulgada nesta semana animou a equipe do governador Eduardo Leite (PSD), que tenta viabilizar a candidatura à Presidência. Em cenário de segundo turno contra o presidente Lula (PT), o petista teria 40% das intenções de voto, ante 36% de Leite, o que configura empate técnico no limite da margem de erro. Outros 5% disseram estar indecisos e 19%, que votariam em branco ou nulo.

Concorrente interno de Leite no PSD, Ratinho Júnior marcou 38%, ante os mesmos 40% do presidente.

O levantamento foi celebrado no Piratini porque mostra Leite competitivo contra Lula. Dos oito nomes de oposição testados, ele é o único que não tem ligação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi a primeira vez que a Quaest incluiu Leite na sondagem. _

Novos adjuntos

Foram nomeados ontem novos secretários adjuntos do Trabalho e dos Transportes do RS.

No Trabalho, Thiago de Leon (PDT), suplente de deputado estadual, assumiu a vaga deixada por Sérgio Guimarães.

Nos Transportes, o novo adjunto é Clovis Magalhães (MDB), que atuava no gabinete do vice-governador. O cargo ficou vago desde a morte de Luiz Gustavo de Souza, em 2024. _

Previsão otimista

Presidente da Câmara de Porto Alegre, Comandante Nádia (PL) quer inaugurar até o fim do ano a recuperação do térreo, alagado na enchente. Até agora, 25% do serviço foi feito. O custo da obra e mobiliário é estimado em R$ 5 milhões. _

mirante

Um banner com a frase "CPI do De$monte do Dmae" levado pela vereadora Natasha Ferreira motivou o primeiro embate da comissão instalada ontem na Câmara de Porto Alegre. Aliados do prefeito Sebastião Melo reclamaram que o símbolo do cifrão dá a entender que há desvio de dinheiro na autarquia.

Os governadores Eduardo Leite (RS), Jorginho Mello (SC) e Ratinho Júnior (PR) vão dividir palco no dia 12 de junho, na abertura da primeira edição da Construa Sul em Curitiba. O evento é voltado à indústria da construção civil.

O vereador de Porto Alegre Coronel Ustra (PL) se reuniu ontem com Jair Bolsonaro em Brasília e foi incentivado pelo ex-presidente a concorrer a deputado federal em 2026.

POLÍTICA E PODER

06 de Junho de 2025
EM FOCO

EM FOCO

Prefeitura encerrou colaboração com instituto que geria casa de saúde. Medida acarretou a demissão de centenas de funcionários, além de causar insegurança entre pacientes e reações da parte de entidades representativas do setor

Entenda a crise do HPS de Canoas

A prefeitura de Canoas anunciou, no final da noite de quarta-feira, a extinção do termo de colaboração com o instituto responsável pela gestão do Hospital de Pronto Socorro (HPS) do município. A medida resultou na demissão de funcionários e na reação de entidades representativas do setor.

Segundo a Secretaria da Saúde de Canoas, os atendimentos de emergência do HPS serão mantidos pela equipe do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG). Desde a enchente de 2024, o Pronto-Socorro funciona na estrutura do Gracinha, como é conhecida a unidade.

Na tarde de ontem, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) acionou o Ministério Público para que a Justiça determine a intervenção estadual na gestão da Saúde em Canoas. O documento aponta, entre os motivos, a falta de estrutura adequada para o atendimento de politraumatizados.

A Secretaria da Saúde de Canoas extinguiu o termo de colaboração com o Instituto Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS), responsável pela administração do HPS. A parceria havia vencido em 27 de março e não foi renovada pelo município.

A prefeitura determinou a desocupação do HPS e do Gracinha, incluindo a retirada de móveis e a devolução de documentos e chaves. O município de Canoas tem uma dívida de cerca de R$ 55 milhões junto ao IAHCS.

Relação "degradou"

Em entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário de Saúde de Canoas, Marcelo Reis, afirmou que a relação entre o instituto e a pasta se "degradou" desde a enchente de 2024.

Em nota, o IAHCS se disse "surpreendido" com a notícia, que impactou o "exercício dos plantões assistenciais".

"Somos reconhecidos pela idoneidade institucional e pelo compromisso contínuo com a assistência qualificada, construindo diariamente relações de confiança com os usuários, gestores públicos e profissionais de saúde", diz o comunicado IAHCS.

O IAHCS era responsável por cerca de 603 colaboradores do HPS - 75 médicos efetivos no hospital, conforme levantamento de Zero Hora.

Profissionais contratados pelo instituto alegaram ter sido comunicados sobre as demissões ainda na quarta. Foi o caso da enfermeira Thatiane Fragoso, que recebeu, por meio de uma mensagem no celular, a notícia de que ela e outros colegas estavam demitidos.

- A gente recebeu a notificação de que estávamos todos na rua, demitidos, via WhatsApp. Acabei saindo do plantão após 12 horas, às 20h, e recebi a comunicação às 21h30min nos grupos do próprio hospital que a gente tem. Retornei até o hospital, onde já estava instaurado o caos - relata.

"Direitos garantidos"

O secretário da Saúde informou que o município vai repassar ao instituto todos os valores para o pagamento dos salários e das rescisões dos funcionários demitidos.

A prefeitura exige que o aviso prévio dos empregados vinculados às atividades seja pago e dá um prazo de 30 dias para que seja apresentada uma planilha detalhada dos cálculos rescisórios dos colaboradores e documentos que comprovem providências para quitação das dívidas.

Já o IAHCS manifestou "sua atenção e preocupação com os colaboradores impactados pela medida, reafirmando seu respeito e cuidado com todos os profissionais que compõem a equipe".

A previsão é de que o salário referente ao mês de maio seja pago hoje e que, em 10 dias, os demais valores sejam calculados e encaminhados à prefeitura. _

Impactos da cheia

O Pronto-Socorro de Canoas é referência para mais de 150 municípios, atendendo até 2 milhões de pessoas. O edifício, localizado no bairro Mathias Velho, foi evacuado em 4 de maio de 2024, em razão da enchente.

Com um prejuízo avaliado em R$ 70 milhões, o prédio do HPS foi fechado, e as atividades foram transferidas para o Nossa Senhora das Graças, no bairro Marechal Rondon. Desde então, a equipe do HPS é responsável pela porta de urgência e emergência das duas instituições.

A sede do HPS de Canoas só deverá voltar a receber pacientes em janeiro de 2026. O cronograma inicial da obra de reconstrução está atrasado e, com isso, há retenção dos valores pela Caixa Federal. A situação afeta a etapa de execução da parte elétrica e hidráulica.

Gracinha assume os atendimentos

A equipe do Nossa Senhora das Graças assumiu os atendimentos do HPS, que funciona temporariamente junto ao Gracinha. Segundo a diretora do hospital, Daniela Oliveira, o quadro de funcionários disponíveis é suficiente.

- O Hospital Nossas Senhoras das Graças não tem como saber quantos funcionários estavam atuando (no HPS). (...) Se separar a assistência e operação do administrativo, não são 500 pessoas que deixam de dar assistência à população - disse Daniela em entrevista à Rádio Gaúcha.

Falta de profissionais

Familiares de pacientes, no entanto, relataram à Rádio Gaúcha que o Gracinha chegou a registrar falta de médicos traumatologistas durante a manhã de ontem. Profissionais dessa especialidade, contratados no regime CLT pelo IAHCS, não aceitaram continuar trabalhando como pessoa jurídica (PJ) no HNSG, que precisou destacar médicos da própria equipe para suprir a demanda.

Haveria, ainda, poucos médicos vasculares atendendo no local. A escala deve ser fechada até domingo, prazo que os profissionais desligados têm para aceitar ou não a proposta para permanecer atuando no hospital. Segundo o Nossa Senhora das Graças, 15 técnicos em enfermagem e dois enfermeiros que trabalhavam vinculados ao IAHCS vão passar a atuar na equipe do hospital.

Audiência de conciliação

Além do Cremers, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) pediu uma intervenção do governo do Estado na gestão do HPS de Canoas. Conforme o presidente do Simers, Marcelo Mathias, o pedido de intervenção já havia ocorrido antes, em uma ação judicial.

Segundo o sindicato, a Justiça designou uma audiência de conciliação para hoje, às 14h, na 3ª Vara Cível de Canoas, com a presença do Ministério Público, da prefeitura, das secretarias Municipal e Estadual da Saúde, da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e do Simers.

Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, a secretária de Saúde do RS, Arita Bergmann, afirmou que, se provocado, o Estado iria avaliar uma intervenção no HPS de Canoas. 

quinta-feira, 5 de junho de 2025


05 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Uma linha na tela me deixando obsessivo

Como a vida moderna é ilusória. Minha televisão de 50 polegadas, mais fina do que uma tábua de passar, começou a apresentar uma listra preta. Todos os programas, jogos de futebol e séries aos quais assisto exibem uma linha no meio. Fixa e de traçado impecável, como se tivesse sido feita com régua.

Difícil não reparar. É como usar, no trabalho, um terno com mancha ou uma camisa sem o botão de cima - um colega vai notar uma hora. Você sabe que ela existe. Sabe que sempre estará ali, zombando da sua imperfeição.

Minha esposa finge que não é importante, que não é nada, que nem dá para ver. - Só aparece nas cenas claras.

Meu coração amolece por Beatriz quando ela tenta mentir para me agradar ou para não gastar à toa. Noto seu esforço cênico para me desviar de alguma obsessão. Seu faro apurado por longo matrimônio já sentiu: eu não vou mais relaxar, isso será o assunto do mês enquanto não se resolver.

Não consigo mesmo me desligar. Já li relatos de consumidores dizendo que a situação vai piorar, surgirão mais falhas no painel, formando um triângulo equilátero - para a inveja do escaleno e do isósceles. É questão de tempo até o eletroeletrônico pifar por completo.

Só trocando a tela. Trata-se de uma doença incurável, que entrou nos cuidados paliativos. Arrumar custará quase o valor de uma nova TV. Não me resta alternativa senão pesquisar e arrebatar outra.

É óbvio que vou procurar uma de 60, de 70, de 85, de 100 polegadas. O tamanho é recalque para compensar sua brevidade.

A minha atual durou cinco anos. A linha revela que os componentes internos da tela estão desgastados ou com defeito. Fiquei com saudade das televisões de antigamente, com cheiro de válvulas aquecidas. Menores, sem controle remoto, com botão giratório e aquele som de "tec" ao ligar, mas que tinham antena para nos salvar do chuvisco ou dos riscos horizontais.

No desespero, a gente batia nelas quando a imagem tremia, e elas voltavam. Ou usávamos bombril na antena interna, movendo os tentáculos lentamente, como quem busca acertar o sinal.

Isso quando a transmissão não fugia de vez, e alguém precisava subir no telhado para mexer na antena externa, seguindo orientações aos gritos de quem permanecia na frente do aparelho. Naquela época, a fé era caseira.Apesar dos perrengues, os televisores persistiam por décadas. Mantinham soluções, sobreviviam com os reparos.

Diante de qualquer problema insolúvel, levava-se a TV ao conserto da esquina. O técnico abria a caixa com a perícia de quem lidava com um rádio antigo, armado de chave de fenda e paciência. Demorava de três a quatro dias para a alegria retornar à plateia do sofá - e cada dia se arrastava numa ansiedade febril e expectativa milenar.

Então retomávamos o início: as televisões sempre ressuscitavam. Viviam ressuscitando e prolongando seus aniversários úteis.

Acreditávamos em milagres. _

CARPINEJAR

05 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Aposta de acordo com UE e risco de "passar boiada"

A amizade-quase-amor refletida nas famosas fotos de março de 2024 entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês, Emmanuel Macron, pode ser desafiada na passagem do chefe do Executivo brasileiro na França. Lula tem expectativa de discutir, entre outros pontos, o avanço do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE).

E não é só porque Macron e os franceses em geral rejeitam a negociação: Brasil e UE seguem em frentes opostas na legislação ambiental, o que tende a dificultar o avanço do acordo, mesmo em sua versão focada apenas em trocas comerciais.

Enquanto o Senado brasileiro abria a porteira para a boiada, a UE apertava suas regras ambientais. Literalmente: foi publicada pela Comissão Europeia em 22 de maio - um dia depois de o Senado aprovar a "flexibilização" - uma nova lista que classifica países, para efeitos de comércio, conforme o risco para o desmatamento.

É mais um capítulo do Regulamento sobre Produtos Livres de Desmatamento (EUDR, na sigla em inglês), que proíbe a importação de madeira, soja, carne bovina, cacau, café, óleo de palma, borracha e derivados com origem em países que tenham desmatado, de forma ilegal ou mesmo legal. Sem novo adiamento, começa a valer em de 30 de dezembro de 2025.

Nessa classificação, o Brasil recebeu o selo de "risco padrão", o mesmo de países como Indonésia, Malásia, México e Argentina. As outras categorias são "risco baixo" e "risco alto" - nesse último, está enquadrada a Rússia, por exemplo.

Os importadores europeus que comprarem de países de "risco baixo" devem ter menos custos operacionais, porque as obrigações de compra serão simplificadas. Países "padrão" ou de "risco alto" estarão sujeitos a uma camada adicional de controle, com mais custos, portanto menor atratividade.

Presidência brasileira

Lula, que deseja avançar com o acordo durante a presidência do Brasil no Mercosul, a partir de julho, até teve oportunidade de mostrar maior aderência ao compromisso ambiental. Na mesma entrevista em que não fechou a porta para medidas fiscais estruturais que antes havia vetado, o presidente foi perguntado sobre eventuais vetos ao projeto do Senado. Preferiu se omitir, sem lançar pontes ao interlocutor de hoje:

Não conheço as regras ainda. Isso vai chegar para eu analisar. Deve ter chegado na Casa Civil, quando chegar a mim eu digo se concordo ou não com as regras.

Se é verdade que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está favorecendo até alianças heterodoxas com sua tática "America alone" em vez de "America First", é preciso desconfiar que será necessária uma paixão avassaladora para perdoar um candidato a parceiro que não tem afinidades ambientais. _

Empresa de cruzeiros assume controle de terminal

Pouco mais de sete meses depois de anunciar a venda de controle para a MSC por R$ 4,35 bilhões, a Wilson Sons informou ontem a finalização da operação. No Estado, a empresa operava o Terminal de Contêineres do Porto de Rio Grande (Tecon) e o Terminal Santa Clara, que funciona no polo petroquímico de Triunfo.

Com a mudança, a SAS Ship- ping, subsidiária do grupo suíço MSC, passa a deter 68,39% de participação na Wilson Sons. Conforme comunicado oficial, a "aquisição do controle da Wilson Sons está alinhada à estratégia de expansão e consolidação da presença da MSC na América Latina, em especial no Brasil".

Fundada em 1970 e com sede na Suíça, a MSC tem cerca de 900 navios e 200 mil funcionários. O grupo é conhecido pelos cruzeiros, com opções de viagens para Caribe, Alasca e Dubai. A subsidiária SAS Shipping tem sede em Luxemburgo.

Após a compra, a SAS Shipping vai apresentar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) oferta pública pelo restante das ações da Wilson Sons, para fechar o capital da empresa. _

Taxa de 50% no aço agrava "invasão"

A confirmação do até então ameaçado novo tarifaço de 50% sobre as importações de aço e alumínio nos EUA tende a agravar o que a indústria siderúrgica chama de "invasão chinesa" no Brasil. As medidas de defesa adotadas até agora são consideradas insuficientes e, por isso, há expectativa de medidas adicionais.

Poucas horas antes da oficialização da nova taxa, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) anunciou a decisão de investigar dumping (venda abaixo do preço de mercado) na venda de aço da China ao Brasil.

Sinaliza intenção de adotar mecanismos mais robustos de defesa comercial. Na semana anterior, havia sido renovado e ampliado, de 15 para 25 tipos de aço, o sistema de cotas e tarifas considerado insuficiente ou, nas palavras do CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, "totalmente ineficaz".

Embora a Gerdau seja a siderúrgica brasileira menos impactada pelo tarifaço, por ter unidades de produção nos EUA, tem sido a mais mobilizada na cobrança de medidas adicionais de defesa no Brasil. ArcelorMittal e Ternium são as consideradas mais vulneráveis, mas CSN e Usiminas também enfrentam impacto. 

Mudança de endereço após cheia

Um ano depois de ter sido invadida pela água, a multinacional francesa Sodexo muda de sede em Porto Alegre. A nova unidade começou a funcionar na terça-feira, no Carlos Gomes Square, novo empreendimento em avenida de mesmo nome. O antigo escritório ficava perto do aeroporto Salgado Filho e não era acessado pelos seus cerca de 380 funcionários desde a enchente.

O grupo francês teve faturamento de 23,8 bilhões de euros no ano fiscal de 2024, crescimento de 7,9% em relação ao período anterior. O Brasil é o quarto mercado mais importante para a empresa. No Rio Grande do Sul, a Sodexo atende 85 clientes. _

GPS DA ECONOMIA

05 de Junho de 2025
CONEXÃO BRASÍLIA - Matheus Schuch

Movimento reforça narrativa da perseguição

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) domina os noticiários desde que revelou ter deixado o Brasil. Seu principal objetivo já foi cumprido: ganhar holofotes e reforçar a narrativa de perseguição política. Antes, a condenação à prisão e a iminente perda do mandato quase não chamavam atenção.

Ao desafiar a Justiça brasileira, Zambelli tenta alinhar sua situação à do companheiro de Câmara e de partido, Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ao contrário do filho do ex-presidente da República, a deputada tem pouco apoio dentro do Congresso e sofre oposição até mesmo em seu partido.

É preciso deixar claro que não há ordem de prisão contra Eduardo Bolsonaro. O que une os dois parlamentares é o discurso de que o Brasil vive uma "ditadura do Judiciário".

Além de agitar a militância, Zambelli espera que o movimento seja lido por boa parte da população como sinal de resistência. Ela sabia que a iniciativa geraria uma imediata ordem de prisão. Aposta, agora, na possibilidade de ficar protegida pela cidadania italiana.

Extradição não é simples

É fato que, mesmo sendo incluída na chamada lista vermelha da Interpol, a prisão e extradição para o Brasil não serão simples. Além de envolver discussões no campo diplomático, devem exigir uma manifestação do Judiciário italiano, chamando ainda mais atenção para o caso, dentro e fora do Brasil.

Para quem foi condenada, estava perto de perder o mandato e poderia ir presa sem despertar grande atenção, Zambelli já saiu vitoriosa, independentemente do resultado final. _

CONEXÃO BRASÍLIA


05 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A terra sem lei das redes sociais precisa ter fim

A terra sem lei das redes sociais precisa acabar. E, uma vez que o projeto de regulamentação das big techs acumula poeira em alguma gaveta do Congresso, é no Supremo Tribunal Federal (STF) que essa farra pode começar a ter fim.

A mais alta Corte de Justiça está decidindo se as empresas como Meta (dona do Facebook e Instagram) e Google passarão a ser obrigadas a deletar conteúdos criminosos, sem necessidade de uma decisão judicial prévia, como ocorre hoje.

Se você não está preocupado com isso, deveria estar. Até porque, nesse momento, seu filho ou filha, neto ou neta, sobrinho ou sobrinha, menores de idade, podem estar usando o celular ao seu lado, no banco de trás do carro ou à mesa do restaurante, e tendo acesso a conteúdos que incentivem assassinatos em escolas. Ou assistindo a um vídeo da Peppa Pig, e de repente, espocar na tela a cena de um vídeo pornô. Ou ainda ter acesso a fotos de suásticas e discursos racistas.

Responsabilização

Isso precisa ter fim. Chega de as plataformas digitais, que conhecem mais sobre nossos gostos do que nós mesmos, tirarem o corpo fora, dizendo que não têm responsabilidade, que são meros canais por onde circulam os conteúdos, que nada viram e nada sabem.

Hoje, o artigo 19 do Marco Civil da Internet estabelece que as redes sociais só poderão ser responsabilizadas por material postado se deixarem de cumprir decisão de um juiz para a remoção de conteúdos. Portanto, sem determinação judicial, não há responsabilização.

Só que, diante de um vídeo que incentiva o suicídio, a automutilação ou terrorismo, até que um magistrado determine a retirada do conteúdo, ele já atingiu milhões. Já chegou aos nossos celulares e pode ter alcançado nossas crianças. Poucas vezes o termo "viralizou" é tão preciso nesses casos. Alguém precisa pôr ordem na casa. _

Prefeitura realiza plantio urbano em escola

Estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Migrantes, do bairro Anchieta, participaram ontem de uma ação de plantio urbano sustentável, com a instalação de floreiras em um terreno próximo à escola, que foi atingido durante a enchente de maio de 2024.

A atividade, promovida pela prefeitura de Porto Alegre, integra a campanha "Nossa Cidade, a Gente Cuida!", em alusão à Semana do Meio Ambiente.

Além do mutirão de plantio, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) tem promovido uma série de atividades, como formações, eventos e palestras nas unidades escolares. _

Juventude evangélica será homenageada na Câmara

Fundada em 31 de maio de 1925, no vilarejo de Hartzpikade (hoje Nova Hartz, no Rio Grande do Sul), a Juventude Evangélica Luterana do Brasil (JELB) surgiu para unir jovens luteranos em torno da fé cristã. Desde então, tem desempenhado um papel fundamental na formação espiritual e na promoção de valores.

Ao longo de sua trajetória, a JELB enfrentou desafios, como as restrições do período do Estado Novo, e passou por diferentes fases e nomes - de Waltherliga Brasiliens a Liga Walther, até chegar à atual sigla.

A trajetória centenária da instituição será homenageada no próximo dia 10 na Câmara dos Deputados, em Brasília. A iniciativa é do deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS), que destacou a importância histórica e espiritual da organização para o país. _

Brasil e Itália e os episódios de extradição

Carla Zambelli não é a primeira condenada pela Justiça brasileira a buscar refúgio na Itália. Brasil e o país europeu estão vinculados pelo Acordo de Cooperação Mútua em Matéria Penal, estabelecido em 1989, que prevê colaboração jurídica e policial entre os países, incluindo extradição.

Em 1960, chegou ao Brasil Tommaso Buscetta. Ele foi um dos mais famosos mafiosos italianos e um dos primeiros grandes arrependidos da Cosa Nostra (máfia siciliana). Na Itália, atuou no tráfico internacional de drogas. No Brasil, participou de negócios ilegais, mas foi preso em 1972 e extraditado para a Itália. Depois, foi solto em 1980 e voltou para o Brasil. Em 1983, foi novamente preso. Temendo por sua vida, decidiu colaborar com as autoridades e se tornou o primeiro grande "pentiti" (arrependido) da máfia italiana. Entrou no programa de proteção a testemunhas dos EUA e morreu em 2000.

Também italiano, Salvatore Cacciola foi um banqueiro com dupla cidadania, condenado por crimes financeiros. Ele ficou conhecido por sua fuga para o Brasil e posterior extradição. Seus crimes envolvem corrupção, fraude e conexões com o crime organizado. Condenado em 2002 a 17 anos de prisão por associação criminosa e delitos de colarinho branco, fugiu para o Brasil usando passaporte falso. Foi preso em 2007 pela Polícia Federal, em uma operação conjunta com a Interpol. Após anos de batalha judicial, foi extraditado para a Itália em 2009, onde cumpriu pena.

O catarinense Henrique Pizzolato, com dupla cidadania, foi diretor do Banco do Brasil conhecido por seu envolvimento no escândalo do Mensalão. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) o condenou a 12 anos de prisão por crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e peculato (desvio de dinheiro público). Em 2013, antes de ser preso, Pizzolato fugiu para a Itália. Lá, viveu por anos como foragido até ser preso com base em um pedido de extradição do Brasil. Após anos de batalha judicial, foi extraditado em 2018 e cumpriu pena no Brasil. Em 2021, passou para o regime semiaberto e, posteriormente, foi liberado.

Um dos asilos mais controversos da história recente do país, o ex-militante de extrema esquerda italiano Cesare Battisti ficou conhecido por envolvimento com grupos armados na Itália nos anos 1970, onde era acusado de participar de assaltos, sequestros e quatro homicídios. Em 1981, fugiu para a França, onde teve asilo político. Os franceses revogaram seu asilo. Naquele momento, escapou ao México e, depois, para o Brasil, em 2004. Em 2009, o governo Lula lhe concedeu asilo político, ignorando pedido de extradição da Itália. O Brasil o considerava um perseguido político. Em 2019, o governo Jair Bolsonaro autorizou sua extradição, e Battisti foi preso e deportado para a Itália, onde cumpriu pena.

Direito de pergunta: no dia Mundial do Meio Ambiente, o que realmente aprendemos depois da nossa enchente de maio do ano passado?

Prêmio Ajuris de Direitos Humanos

Inscrições para o Prêmio Ajuris de Direitos Humanos estão abertas a partir de hoje. Nesta 13ª edição, o prêmio quer valorizar trabalhos e atuação na área do meio ambiente, com destaque para os impactados da enchente no Rio Grande do Sul.

São quatro categorias: Jornalismo, Fotografia, Trabalho Científico e Boas Práticas. Serão distribuídos R$ 25 mil na premiação, além de bolsas de estudo na Escola da Magistratura. Inscrições podem ser realizadas no site da Ajuris (ajuris.org.br). _

INFORME ESPECIAL

quarta-feira, 4 de junho de 2025


04 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Rio Grande do Sul possível

Presidente Lucena, situada na encosta da Serra Gaúcha, é a sexta cidade do país com melhor qualidade de vida. Na sexta-feira, o Instituto Imazon divulgou um ranking entre 5.570 municípios brasileiros, considerando fatores como saúde, moradia e segurança, de acordo com o Índice de Progresso Social (IPS).

É um prêmio e um alento a um lugar que zela pela excelência do acolhimento.

Estive de passagem em Presidente Lucena, no retorno de uma palestra em Morro Reuter. Parei no final da tarde para fazer uma refeição. Entrei numa pizzaria simpática, numa casinha em estilo enxaimel. Fui servido com capricho.

Enquanto o motorista do evento e eu degustávamos nossa pizza - metade calabresa, metade portuguesa -, notei que todos estavam ali para comemorar algo: uma promoção, um aniversário, bodas de casamento, início de namoro. Só via brindes, o estalido alegre dos cálices.

Quis também ter algum motivo para festejar.

Percebi que, naquela comunidade, sair para jantar é um acontecimento. Costuma-se comer no lar, com a família.

Bateu uma saudade das celebrações, de valorizar os momentos em que um restaurante ultrapassa a sua natureza diária de serviço e se torna um local sagrado, assinalando uma data especial. Quando se quebra a rotina e se dedicam esforços de atenção e memória. Não é apenas uma refeição - é uma vitória pessoal.

Tirei fotografias para um casal numa mesa. Ajudei no parto de um porta-retratos.

Depois, aproveitei para caminhar pelas redondezas. Comecei a fantasiar como seria morar ali. Os portões baixos das residências, a tranquilidade do passeio, não sentir medo de assalto, deixar a porta do carro aberta e não temer que levem nada. Já ia além da imaginação: materializava meu desejo e tentava avistar alguma placa de "vende-se". Mas não encontrei. Nenhuma janela se oferecia para compra. Aposto que ninguém quer ir embora.

A calçada era estreita e a alma, larga.

Passei pela Capela dos Três Mártires, pelo largo da prefeitura com um chafariz, e ia entendendo o quanto é possível viver em paz a 65 quilômetros de Porto Alegre.

Juntar-se aos 3 mil habitantes tem suas vantagens. A ocorrência mais frequente não é homicídio ou roubo, mas perda de documentos. O extravio, ironicamente, é a maior manifestação de violência - uma violência benigna e reversível contra o próprio patrimônio.

Você procura um brigadiano mais para pedir informações do que socorro.

Nenhuma sujeira nas ruas, nenhum vandalismo nas paredes ou estátuas. Ordem e asseio reinavam no conto de fadas. Parecia que eu sonhava, parecia que voltava ao passado, parecia que havia ingressado num elo perdido ou mesmo em Aruanda, colônia espiritual das almas evoluídas no Espiritismo.

Perguntei a um morador se minha impressão correspondia à realidade, e descobri que Presidente Lucena alcançou 100% de cobertura na coleta do lixo, no esgotamento sanitário, no acesso exclusivo a banheiros e na canalização de água.

Há mais vagas do que mão de obra. Alicerçada na colonização alemã e na economia industrial calçadista e agropecuária, a empregabilidade contribuiu para a alta pontuação na pesquisa.

Grande parte da população ainda fala hunsrückisch, dialeto alemão de Hunsrück, preservando o legado dos primeiros imigrantes que chegaram ao Estado em 25 de julho de 1824 e se espalharam a partir de São Leopoldo, desbravando a mata virgem da região e abrindo estradas.

Olhei para a noite estrelada - aquela catapora de brilhos no céu - e inventei um pretexto para brindar: minha primeira vez em Presidente Lucena, e jamais a última. O Rio Grande do Sul inteiro deve comemorar seu exemplo comigo.

CARPINEJAR


04 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Mais foco na "solução estrutural" do que no prazo

Ontem foi um dia decisivo em três atos. Cedo pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que apresentaria "solução estrutural" para as contas públicas à tarde, o que incluiria uma proposta de emenda constitucional (PEC). O mercado mostrava desconfiança, com dólar em alta e bolsa em baixa.

No final da manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não descartou a hipótese de adotar medidas que antes havia vetado, como desvincular benefícios previdenciários do reajuste real do salário mínimo e dos pisos de saúde e educação do aumento da receita. O dólar passou a cair, e a bolsa, a subir. No meio da tarde, Haddad adiou o anúncio ao menos até domingo, para quando previu reunião com líderes do Congresso.

Dólar e bolsa mantiveram o bom humor: a moeda americana fechou com queda de 0,7%, para R$ 5,635, e a bolsa subiu 0,56%, para 137.546 pontos. O foco do mercado foi mais na "solução estrutural" do que no prazo.

Almoço com boa digestão

Até porque, depois de um almoço com Lula, Haddad e os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), foi servido um discurso afinado. Ao justificar o adiamento depois do ultimato de 10 dias de Motta, Haddad afirmou:

- O presidente da Câmara, gentilmente, nos deu 10 dias. Apresentamos uma alternativa antes dos 10 dias. Tá apresentado, tá tudo bem.

Se houve ironia no uso da palavra "gentilmente", não transpareceu. Ao contrário, Motta destacou a "competência" de Haddad e sustentou:

- Estamos todos registrando essa sintonia entre Câmara, Senado e governo federal na busca de uma solução não só para um problema pontual de 2025, mas para que possamos avançar em discussão mais abrangente e estruturante para futuro do país.

Alcolumbre fez coro:

- O episódio foi muito didático. Agradeço a forma sensível como o presidente nos acolheu e Haddad, para buscar entendimento até para rever o decreto. E não podemos resolver se não discutirmos a agenda estrutural do país. Precisamos ter maturidade política para isso. _

Haddad avisou que, antes de rever o aumento de IOF, precisa da aprovação de ao menos parte das medidas. Disse ter uma "maneira formal" de resolver, sugerindo que substituiria ao menos parte do aumento de IOF via medida provisória.

Saiu a planta-piloto de hidrogênio verde... no MS

No dia em que o governo do Estado anunciou um edital com até R$ 102 milhões para projetos de hidrogênio verde, um dos recados dados pelo secretário da Casa Civil, Artur Lemos, foi de que não haveria interesse em plantas-piloto.

Um plano assim havia sido proposto, ainda em 2023, pela Rede Brasileira de Pesquisa e Inovação (RBCip), que funcionaria nas instalações do Tecnopuc em Viamão. Ao apurar qual é a situação da planta, a coluna descobriu que já está funcionando... no Mato Grosso do Sul.

Em nota à coluna, a rede informa que "a usina de hidrogênio verde no RS não avançou porque o desenvolvimento foi prejudicado pela crise humanitária enfrentada pelo Estado, com a enchente em 2024, e pela falta de apoio da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)".

Ainda conforme a RBCip, foi transferida para o Mato Grosso do Sul, "com total apoio da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)". Desde o mês passado, a usina produz uma tonelada de hidrogênio verde por mês, no período inicial de funcionamento.

A RBCip informa, ainda, que "continua disposta a investir no RS, levando sua expertise e conhecimento técnico, desde que haja apoio de instituições públicas e privadas para a instalação da usina". Um dos diferenciais da proposta é uso de água de esgoto como base, porque um dos pontos vulneráveis da rota do hidrogênio verde é exatamente a necessidade de grande volume de H2O para a eletrólise que separa hidrogênio de oxigênio. _

O que é

Hidrogênio verde é um combustível produzido por um processo conhecido como eletrólise, que exige grande volume de água e de energia. O processo básico é separar as moléculas da água (H2O), ou obter de forma individualizadas hidrogênio e oxigênio.

As redes entre o "invasivo" STF e o "emparceirado" PL

Enquanto o Congresso evita o debate sobre a regulação das redes, o sempre "invasivo" Supremo Tribunal Federal (STF) volta a examinar o tema. Sempre que é necessário (não quando é conveniente), a coluna lembra que o STF está longe de ser imune a críticas. Mas com frequência é acusado de ultrapassar os limites de seu poder diante da... inação de outro. Isso quando não se trata de ação abertamente ilegal de outro poder.

A responsabilidade das redes sobre as publicações volta à pauta hoje, após final de semana em que foi realizado um evento partidário com... "participação" de Google e Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp). O 2º Seminário Nacional de Comunicação do PL apresentava no card de convite os logotipos das duas big techs, embora negue que seja patrocínio.

Conforme o PL, seria "apenas" para que funcionários das plataformas orientassem os participantes sobre o uso de ferramentas digitais com foco em inteligência artificial. Mas que independência tem um partido para deliberar sobre eventual regulação depois desse grau de, digamos, interação?

E aí vem o "invasivo" STF. Cheio de defeitos, como é, da indicação política até o excesso de discricionariedade em muitos casos, passando pelos cargos vitalícios. Também tem, é bom lembrar, interatividade com redes, a ponto de correr risco de retaliação por parte do governo de turno no país onde ainda se localiza a grande maioria das big techs.

Mas quem serviria melhor à população brasileira? Quem já está "emparceirado" ou quem ainda mantém sua função de representante do direito público? _

Investimentos de R$ 9,7 bilhões

Presente em cerca de 380 municípios gaúchos, a distribuidora RGE, que pertence ao Grupo CPFL, teve aumento de 5,5% no consumo de energia no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Para dar conta dessa alta, a empresa elevou os investimentos previstos em expansão e modernização das redes em 19,8% em relação aos realizados no primeiro trimestre do ano passado. Por outro lado, a inadimplência teve queda.

- O plano 2025-2029 da CPFL Energia prevê o investimento de R$ 9,7 bilhões na RGE. A redução da inadimplência mostra que as estratégias de cobrança estão mais assertivas - diz Ricardo Dalan, diretor-executivo da RGE.

Os setores que mais cresceram foram rural (15,9%), residencial (8,3%) e industrial (2,4%). _

GPS DA ECONOMIA


04 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Autoexílio ideológico

Em menos de 24 horas no Exterior, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) conseguiu se contradizer duas vezes. Primeiro, sobre o motivo da viagem: em entrevista à Rádio AuriVerde, disse que estava com problemas de saúde, mas que seu "tratamento não é médico, não é com medicamento". Precisava "destravar o que sente". Depois, à CNN Brasil afirmou que sofre de uma síndrome rara, chamada Ehlers-Danlos, que causa transtornos de mobilidade.

A segunda contradição foi sobre sua localização: pela manhã, pelo horário de Brasília, disse que se encontrava na Europa, sem informar o país, mas que seguiria para a Itália. À tarde, declarou que estava nos EUA, mas que seguiria para a... Itália.

Não é impossível que se fale da Europa e, pouco depois, dos EUA, uma vez que, hoje, se consegue entrar ao vivo em uma entrevista pelo WhatsApp, por exemplo, de dentro de um avião. Mas é bem difícil em menos de sete horas se cruzar entre um continente e outro.

Faz sentido Zambelli, condenada a 10 anos de prisão por invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), querer ocultar seu paradeiro.

Não fosse isso, por que razão teria saído do Brasil pela fronteira Sul e não pelo caminho mais rápido e lógico, por um aeroporto como Guarulhos ou o Galeão.

No Exterior, a deputada engrossará o coro dos bolsonaristas que deixaram a pátria, ironicamente, traindo o lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". O importante é salvar a própria pele.

Zambelli junta-se a Eduardo Bolsonaro no Hemisfério Norte para, de lá, denunciar a suposta falta de liberdade no Brasil, insinuando que o país seria uma ditadura "comunista". É um mundo de faz de conta tão ou mais fantasioso quanto o conto da carochinha de que o sistema eleitoral brasileiro seria facilmente fraudável.

No Exterior, eles arvoraram-se a posição de exilados políticos, em uma corruptela do conceito. Os motivos passam ao largo da realidade.

Não há perseguição, não há ditadura. Zambelli responde a um processo legal no Brasil, dentro do Estado democrático de direito. Eduardo nem sequer foi indiciado por crime algum e, muito menos, condenado. O autoexílio de Zambelli e Eduardo não é político. É ideológico. _

Direito de pergunta

O Supremo não foi ingênuo ao devolver o passaporte para Zambelli?

Flagra do papagaio-verdadeiro em estátua do Paço Municipal

O fotojornalista Jonathan Heckler, de ZH, flagrou um papagaio-verdadeiro, espécie comum no céu da Capital, pousando sobre uma das estátuas do Paço Municipal, em Porto Alegre. O "GPS" natural do animal o guiou direto para a mão esquerda do monumento. A outra estava ocupada por outra ave. _

Fórum aborda economia e meio ambiente

A interiorização do Fórum Democrático Pacto RS 2025, capitaneado pelo deputado Pepe Vargas (PT), que elegeu sustentabilidade como tema de sua presidência na Assembleia Legislativa, já mostrou, no primeiro encontro, em Rio Grande, a importância de o desenvolvimento econômico andar lado a lado com a proteção ambiental.

A Metade Sul enfrenta o desafio da retomada do polo naval, a crise da pesca artesanal, a insegurança de agricultores, que sofrem com a enxurrada e com a estiagem - todos temas conectados com as mudanças climáticas.

Uma carta com reivindicações foi escrita ao final da reunião. Após os nove encontros pelo Interior (o próximo será em Bagé, na segunda-feira), um documento com indicativos e proposições será redigido e encaminhado aos Executivos estadual e federal - e, quem sabe, ser levado a Belém, sede da COP30. _

Orgulho ferido

Mais do que o aspecto tático, o ataque realizado pela Ucrânia ontem contra a ponte que liga a Rússia à Crimeia tem um componente simbólico. A construção, concluída em 2018, é orgulho de Vladimir Putin (que, aliás, tem fascínio pessoal por pontes). Foi erguida a um custo de 3 bilhões de euros e inaugurada pelo próprio presidente russo. É o único caminho direto entre a Rússia e a Crimeia anexada. _

Estatuto dos Animais

Entidades de proteção animal participarão, em 26 de junho, de audiência pública na Assembleia para debater o Estatuto de Proteção dos Animais Domésticos. Um dos temas será a situação dos animais um ano após a enchente de 2024. A iniciativa é da Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado da Assembleia, presidida pelo deputado Leonel Radde (PT). Paralelamente, será apresentado no Senado o Estatuto de Proteção dos Animais Domésticos, com o senador Paulo Paim à frente da iniciativa. _

Brasileiro sobrevoa erupção do Etna

Desde que entrou em erupção no último domingo, as imagens do vulcão Etna têm chamado a atenção diante da enorme coluna de fumaça que o monte, na Sicília, ao sul da Itália, tem gerado. Um vídeo que circulou na internet nos últimos dias é de um piloto brasileiro, Rafael Santoro, que sobrevoou o vulcão, o maior da Europa.

O piloto conta no vídeo que não podia passar próximo à nuvem, por isso, foi necessário aumentar a altitude da aeronave.

- Saiu no nosso plano de voo que temos uma erupção vulcânica aqui na Itália, e não podemos passar dentro da nuvem, temos de passar acima dela. Tá reportado aqui que ela tá a 18 mil pés, nós estamos a 39 mil, então "dá nada" - diz o piloto no vídeo nas suas redes sociais. _

INFORME ESPECIAL