quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024


A cura para todos os males

Linus Pauling foi um gênio da química e teve um papel importante como ativista político. Ganhou dois prêmios Nobel, um como cientista e o Nobel da Paz pela luta contra testes nucleares. Mas ele também ilustra o que se chama de a Síndrome do Nobel: pessoas que usam a fama e a autoridade científica para defender ideias excêntricas sem comprovação científica. O grande reconhecimento em uma área, não vacina contra ideias malucas.

Foi ele que criou o mito da vitamina C. Depois de desmentido, por experimentos, de que ela teria fator protetivo e curativo contra gripes, Pauling dobrou a aposta, essa vitamina curaria o câncer. A teimosia com a vitamina C, que realmente cura e protege contra escorbuto, hoje habita o senso comum.

É falar em gripe e alguém te recomenda limão com mel, ou variações de receitas com cítricos. Aliás, mais um mito, a maior concentração desta vitamina está nas crucíferas e mirtáceas. Fosse o caso, se diria para um gripado: "Coma brócolis e goiabas".

A concepção de uma molécula salvadora tem muitos adeptos. Abra a internet e verás que o ômega 3 faz milagres. Ou então o milagre viria da creatina, ou glutamina, ou vitamina D, ou do magnésio quelato? a lista é longa. Também temos o contrário, o grande vilão que estraga tudo. No caso, seria o glúten, a lactose, o glutamato e por aí segue o samba. Geralmente algo que realmente faz mal a um grupo de pessoas e extrapola para toda a população.

Nada mais humano do que simplificar problemas complexos. Somos através de um corpo do qual temos vaga noção de como funciona. Isso nos incomoda, como assim, não entender nada sobre o suporte do meu ser? A ignorância é imensa, achar alguém que saiba a diferença entre uma bactéria e um vírus já é um luxo. É aqui que entram os mitos de dominar, pelo menos alguma coisa, sobre o funcionamento do nosso corpo. Panaceia é um termo usado desde a antiguidade para o anseio do remédio universal.

Esta condição, para a alegria da indústria picareta, produz o encantamento com as vitaminas, os suplementos e os alimentos mágicos que fariam toda a diferença. Existe uma minoria que realmente precisa, mas a maioria quer uma ilusão para seguir comendo como uma criança e não precisar sair da poltrona.

Porém, devo admitir, existem substâncias que, isoladamente, mudam radicalmente nosso corpo - ricina, estricnina, cianureto -, no caso, para o inanimado.

MÁRIO CORSO 

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