sábado, 17 de agosto de 2019


17 DE AGOSTO DE 2019
CARTA DO EDITOR

Um vazio na sala de aula

As redações têm reservas em lidar com notícias sobre suicídio. Não há uma regra, mas entende-se que a descrição dos motivos que conduziram ao gesto extremo pode detonar o gatilho suicida em pessoas em condições semelhantes.

É neste contexto que a reportagem "Cadeiras vazias", que ilustra a capa de Zero Hora e ocupa oito páginas do caderno DOC, ganha relevância.

Há cerca de um ano, quando apurava o impacto da presença de estudantes de fora do Estado em universidades do Interior, o repórter especial Itamar Melo ficou surpreso com o fato de eles relatarem sofrimento psíquico. Na Redação, Itamar compartilhou suas percepções com os principais editores e recebeu sinal verde para continuar na apuração.

Em campo, o repórter conversou com cerca de duas dezenas de alunos, que relataram histórias de sofrimento psíquico, e com mais de uma dezena de professores, especialistas e psicólogos de diferentes universidades e instituições. O fenômeno já preocupa as instituições, que multiplicaram programas de suporte aos universitários. A reportagem segue recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que têm manuais orientando jornalistas a cobrir o assunto.

- Os cuidados que tivemos são fruto do aprendizado que fomos construindo em ZH, que inclui regras básicas, como não falar em métodos, escolher uma linguagem adequada, apontar caminhos para buscar ajuda - conta Itamar.

O texto, antes da publicação, foi submetido a um pesquisador do tema, o psiquiatra Rafael Moreno Ferro de Araújo, que coordenou o comitê de prevenção ao suicídio da Associação de Psiquiatria do RS e tem sido um parceiro em várias reportagens sobre o assunto.

A matéria de Itamar é a quinta grande reportagem que ZH produz sobre o tema nos últimos 13 anos - a série Tragédia Silenciosa, publicada em 2008, integra uma cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria dedicada a jornalistas como um exemplo na abordagem do tema.

A morte autoinfligida é tão frequente no Estado quanto assassinatos e óbitos nas estradas, com o agravante de que, diferentemente de acidentes e homicídios, não há políticas nem discussão públicas para conter o fenômeno. No meio universitário, como nos conta Itamar, a comunidade acadêmica começa a enfrentar o problema.

CARLOS ETCHICHURY

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