quarta-feira, 28 de agosto de 2019


28 DE AGOSTO DE 2019
ARTIGOS

AS BELEZAS DO LESTRÍGONE


Ao facilitar que se reaja por impulso, sem refletir, ou se emita opinião sem fundamentá-la ou por ela se responsabilizar, a internet dá visibilidade ao Homo sapiens menor. Daí, as fofocas, agressões e fake-news no céu virtual. Há gente que sofre verdadeira metamorfose, jogando no lixo velhas amizades.

Nós sempre tivemos esse lado obscuro. Não é culpa da inovação. É do ser humano mesmo. Do contrário, Raskolnikov não teria matado a velha agiota e a irmã inocente a machadadas, no Crime e Castigo, de Dostoievski. A internet facilita nossos sentimentos mais primitivos. Não ter de olhar nos olhos do outro é mais fácil. E o anonimato é um convite ao delito. Vem daí, em parte, a onda de agressividade cibernética.

Alimente-se da Frigga da doçura. Este lestrígone chamado internet possui dentro do peito também um coração, capaz de oferecer belezas singulares. O Concerto nº 2, para piano, de Rachmaninoff. A Polonaise, de Eugene Onegin, de Tchaikovsky. O Chorus of the Polovtsian Maidens, do Prince Igor, de Borodin. A Abertura de La Forza del Destino, de Verdi. Estas joias estão na internet, com igual facilidade que as imbecilidades dos piores representantes da espécie humana.

Quem decide é o nosso desejo e um leve pressionar do indicador. E a scene de O Lago dos Cisnes ou a Dance of the Sugar-Plum Fairy, do Quebra-Nozes, de Tchaikovsky? O Intermezzo da Cavalleria Rusticana, de Mascagni! Da palestra de Jorge Luiz Borges, La Ceguera, no Teatro Coliseo, em Buenos Aires, proferida em 1977, aos deliciosos textos do teatro de Molière! Está tudo lá!

Como um navegador português, num galeão do século 16, você tem um mundo a descobrir pela internet. Depende de você! Procure o alimento sadio para a alma. Não o combustível barato que só alimenta a raiva. Aproveite para elevar-se como ser humano. Pare de usar a internet como leniente para seus recalques. Ofender ou desqualificar quem pensa diferente só o diminuirá como pessoa. Comece com a Sinfonia nº 5, em ré menor, de Schostakovitch.

GILBERTO SCHWARTSMANN

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