quinta-feira, 15 de agosto de 2019



15 DE AGOSTO DE 2019
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

Turbulência na Argentina eleva preocupação com dependência

País vizinho é o principal destino de produtos industriais. Empresários cobram avanço de reformas e buscam novos mercados
A crise econômica vivida pela Argentina, que ganhou novos contornos durante a corrida presidencial à Casa Rosada, preocupa segmentos exportadores do Rio Grande do Sul. Diante da situação, empresários gaúchos avaliam que o Estado, assim como o restante do Brasil, precisa se tornar mais competitivo no cenário externo, em busca de novos mercados e até de diminuição no grau de dependência da nação banhada pelo Rio da Prata - o principal destino das vendas manufaturadas.

Para isso, cobram o avanço da agenda de reformas. Hoje, os argentinos representam o terceiro principal destino das exportações brasileiras, atrás de EUA e China.

- A crise na Argentina gera grande preocupação. Temos de avançar na agenda de reformas estruturais. Se ficarmos mais competitivos, poderemos alcançar outros mercados, sem tanta dependência da Argentina. Não devemos abrir mão do país vizinho, mas é importante aumentar a capacidade do Brasil no cenário internacional - diz o coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Cezar Luiz Müller.

Pressionado pela derrota nas eleições primárias de domingo para o candidato de oposição Alberto Fernández, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou ontem pacote de medidas na área econômica (leia mais ao lado). Soma-se a essa situação o cenário externo, agravado pelo temor de recessão global no próximo ano (confira quadro abaixo).

A turbulência enfrentada pelos argentinos nos últimos meses respingou nas exportações brasileiras. De janeiro a julho, os embarques ao país vizinho caíram 40% frente a igual período de 2018, para US$ 5,9 bilhões. Nos primeiros sete meses deste ano, os principais produtos enviados para a Argentina foram automóveis, cujas vendas despencaram 50%, para US$ 1,3 bilhão. Depois, peças para veículos, com redução de 28,6%, para US$ 469,3 milhões. No Rio Grande do Sul, os números se refletem em indústrias da Serra, considerada polo metalmecânico.

- A Argentina é grande parceira das empresas da região. Boa parte das exportações do polo metalmecânico e automotivo tem o país vizinho como destino. Os efeitos da crise vêm sendo sentidos nos últimos meses - diz a economista Maria Carolina Gullo, diretora de Economia, Finanças e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul.

Calçados

Outro setor atingido pelas dificuldades argentinas é o calçadista. De janeiro a julho, as exportações brasileiras do segmento para esse mercado caíram 28,5%, em pares, e 37,8%, em receita. No Rio Grande do Sul, as vendas também ficaram no vermelho, com baixas de 17,4% e de 37,3%, respectivamente, no período, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

- O setor vem sofrendo os impactos da crise desde o início do ano. No curto prazo, não vemos sinais de melhora na situação da Argentina - menciona o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira.

LEONARDO VIECELI

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