sábado, 24 de agosto de 2019


24 DE AGOSTO DE 2019
CARPINEJAR

Os balões de aniversário

Participei da festa de aniversário de sete anos do filho de um amigo. A minha paz foi embora quando as crianças, ao fim da comemoração, começaram a furar os balões. Estranhei as explosões sucessivas. Aquela turma de pequenos selvagens subindo em cadeiras para desencadear o fim das bexigas. Todos riam, como se fosse um hábito consentido, um ritual coletivo de grosseria, de desmonte da decoração. Sustos e gargalhadas se mesclavam.

Não existia nenhuma lembrança para ser encontrada dentro dos balões, só o ar esforçado do pulmão dos anfitriões.

Bum hahahaha bum hahahaha bum hahahaha.

Não achei graça nenhuma, fiquei desencantado, melancólico.

Onde estava a ingenuidade?

Antes os balões eram reconhecidos como os senhores do teto e da esperança. A maior expectativa dos convidados mirins consistia em levar um deles para casa.

Na hora de sair, recebiam um fio com um balão colorido. Podiam até escolher a cor. Levavam, felizes, o amigo das nuvens pela coleira.

Tinham que cuidar do balão para que não encostasse em nada pontiagudo. Também deveriam segurar forte para que ele não voasse e se perdesse pelo céu. Existia uma doce proteção. Como se fosse um mascote, um animal aéreo, com a mesma vida frágil das borboletas.

Lembro de meus filhos e o zelo deles com os balões no desfecho de algum aniversário. Dirigia sem a visão traseira do veículo. Não podia correr, para não gerar nenhum solavanco. A impressão é que conduzia um carro-forte, pela missão familiar de transportá-los ilesos até o lar. Não conversávamos, não ligávamos o rádio, com as respirações presas durante o caminho. Caso acontecesse um estouro involuntário, enfrentaríamos a choradeira na certa, com o risco de ceder à chantagem emocional, dar meia-volta e buscar um outro no lugar.

Eu sofria de nervoso, mas cultivava uma admiração pela responsabilidade que nascia nas mãos de meu menino e de minha menina. Pela primeira vez, eu os via preservando e prolongando uma existência, ainda que efêmera.

Os balões duravam apenas 48 horas, porém rendiam dois saborosos dias de brincadeiras e de corrida com obstáculos pelo sofá e camas. Quando morria, despedia-se, murcho, com um suspiro, cumprindo o seu propósito de encantar.

Percebo que as crianças não respeitam nem mais os balões. A destruição é a única brincadeira por que se interessam.

CARPINEJAR

Nenhum comentário: