sábado, 12 de maio de 2018


12 DE MAIO DE 2018
DIA DAS MÃES

Mãe e filho formados juntos


Em meados de 2013, Rosane Reck­tenvald Grenzel, 45 anos, seguia de Boa Vista do Buricá para Horizontina, onde o filho do meio, Roberto Grenzel Filho, hoje com 24 anos, faria sua matrícula em Engenharia Mecânica. No caminho, o garoto expôs suas inquietações: não era o curso que ele realmente gostaria de abraçar. Contou à mãe o desejo de seguir para a Odontologia. Foi uma viagem breve, mas de revelações que mudariam a vida de ambos.

- No carro, naquele momento, eu contei a ele que era meu sonho fazer Odonto. Mas casei muito cedo, com 18 anos, tive minha primeira filha, Bárbara, com essa idade e, por conta disso, eu entendia que era algo impossível de se realizar. Era um sonho que deixei guardadinho - relembra Rosane.

Roberto Filho tinha receio de que o pai não aprovasse a mudança. A rota da viagem foi desviada para a fábrica de estofados da família, localizada em Três de Maio, também no noroeste do Estado. Lá, Rosane e o filho apresentaram a alteração de planos a Roberto Grenzel, que prontamente incentivou que a mulher embarcasse, ao lado do garoto, na empreitada pelo mesmo diploma. Começava a aventura de Rosane e Roberto Filho como mãe e filho e também como colegas na Faculdade Especializada na Área da Saúde do Rio Grande do Sul (Fasurgs), em Passo Fundo.

Depois da aprovação de ambos no vestibular, a dupla precisou aparar algumas arestas para que aquela caminhada conjunta não tivesse desgastes extras além da dedicação às aulas e aos trabalhos acadêmicos. Roberto Filho lembra que a ideia de estudar com a mãe não lhe agradou inicialmente:

- Eu queria viver a minha vida universitária como os outros colegas. Achei bem chato.

Rosane também se viu, aos 41 anos, tendo de reorganizar rotinas. Deixou a filha mais nova, Laura, à época com 13 anos, com o pai em Boa Vista do Buricá, passava a semana em Passo Fundo estudando e, aos finais de semana, voltava para casa para rever o marido, o pai, as duas filhas e os amigos.

- Foi uma experiência maravilhosa, mas, meu Deus, como foi sacrificante. Eu vivia com o coração partido de deixar minha filha, de ficar longe do meu marido, da fábrica. E as pessoas ainda me diziam que eu estava louca, que estava velha para isso, que não tinha por que inventar de estudar naquela altura da vida. Nossa, hoje me emociono ao falar disso tudo. Não me sentia velha e eu estava realizando um sonho - relembra Rosane, às lágrimas.

O primeiro semestre na faculdade foi de ajustes. Rosane e Roberto Filho perceberam que algum distanciamento seria salutar ao progresso de ambos no curso. Logo, a mãe deixou claro a professores e colegas que ali, na faculdade, ela era apenas a colega de Roberto Filho, não a mãe. Portanto, nada de queixas sobre o filho, já que não se fazia isso com os outros estudantes.

PIADINHAS NO INÍCIO, ADMIRAÇÃO DEPOIS

Nos primeiros meses de aula, enfrentaram alguns olhares curiosos e até piadinhas por estarem juntos em sala de aula. Muitos achavam que Rosane faria tudo pelo filho, inclusive os trabalhos e as provas. Com o tempo, ganharam acolhimento e admiração. Rosane tornou-se aluna exemplar, e Roberto Filho aprendeu a curtir a vida universitária sem entender a mãe como uma vigilante implacável.

- A gente brigava de vez em quando, mas logo entendíamos que precisávamos um do outro. Minha mãe não saía da frente dos livros, eu saía bastante - diverte-se o filho.

Rosane acabou ganhando o carinho dos jovens colegas - alguns, inevitavelmente, tratados quase como seus próprios filhos. Participava dos grupos de estudo (Roberto garante que ela fazia os melhores resumos das matérias) e das confraternizações. Se ensinou, também aprendeu.

- Como a gente se engana quando pensa que sabe mais do que os filhos só porque tem a experiência da vida. Minha cabeça se ampliou muito na convivência com os mais jovens. Passei inclusive a entender melhor meu filho e todo o mundo dele, onde talvez eu jamais chegaria se não estivesse junto nesse período. Tenho muita gratidão por esses jovens que conheci. Eu doava, mas recebia muito também - relembra Rosane à reportagem.

Em fevereiro, mãe e filho celebraram a formatura. Duas semanas antes da colação, Rosane machucou o pé e precisou receber o diploma de cadeira de rodas. Roberto Filho, claro, foi quem conduziu a formanda-colega- mãe ao cerimonial.

- Foi demais. Sei de todos os sacrifícios que ela teve para realizar esse sonho - orgulha-se o rapaz.

Mas a trajetória lado a lado de Rosane e seu guri não se encerrou com a graduação. Mãe e filho já trabalham para abrir um consultório em conjunto em Boa Vista do Buricá. Rosane também vislumbra uma especialização, interrompida em razão do problema no pé. Ela reconhece a principal lição dessa conquista:

- Não podemos, sendo mulheres e donas de casa, principalmente, deixar nossos sonhos morrerem dentro da gente. Não podemos.

Conselho de mãe.

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