17 DE MAIO DE 2018
ENTREVISTA CIRO GOMES - Pré-candidato à Presidência da República pelo PDT
"Minha agressividade será para proteger o Brasil"
Aos 60 anos, 38 deles na política, Ciro Gomes (PDT) prepara-se para concorrer pela terceira vez à Presidência. Sem sucesso nas primeiras tentativas, sonha em vencer no primeiro turno em 2018 para enfrentar "a maior crise" de um país tensionado.
Nas entrelinhas, contemporiza a necessidade de um "arco de forças" de centro-esquerda sob o risco de que nenhum nome do campo político chegue ao segundo turno. Parcelados, os sinais chegam ao noticiário vindos de nomes isolados de PT, PC do B e PSB. Nenhum oficializou-se.
O ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sequer descarta o apoio de legendas da base do governo Michel Temer (MDB), como DEM, PP e PR.
Natural de Pindamonhangaba (SP), o pré-candidato radicou-se no Ceará. No Estado nordestino, foi prefeito, governador, deputado estadual - mais tarde, também federal. Há uma semana, após participar de evento na Serra, recebeu ZH no hotel em que estava hospedado.
O senhor tem defendido duas reformas essenciais ao país: a fiscal e a política. No que consistiriam essas mudanças?
O país precisa debater reforma fiscal porque é completamente ociosa a compreensão de que poderemos tratar o problema fiscal em capítulos. Nos últimos anos, entranhamos o sistema tributário ao previdenciário de tal maneira que as ferramentas mais relevantes introduzidas para atenuar o desequilíbrio da Previdência são de natureza parafiscal: a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), o PIS e o Confis. Se proponho um IVA (Imposto sobre Valor Agregado), a grande modernidade que todo mundo está discutindo, tenho de eliminar o Cofins. Se elimino o Cofins, a CSLL terá de ser absorvida pelo Imposto de Renda ou pelo imposto sobre lucros e dividendos. Ou seja, subtraio duas graves receitas da Previdência. Por isso, é preciso abordar a reforma fiscal como coisa única.
Se eleito, apresentaria plebiscito ou referendo para discutir a reforma previdenciária?
Já na campanha, vou propor as bases conceituais da reforma. Se o povo me eleger, será com as ideias que propus. É uma providência para atenuar o impasse orgânico ao presidencialismo à brasileira. Também precisamos negociar as reformas fiscal e política em um redesenho do pacto federativo, chamando os Estados para partilhar o benefício desse novo desenho fiscal. Quero libertar a federação do jugo que o Estado nacional colocou os Estados, e o exemplo mais doído é o Rio Grande do Sul. O Fernando Henrique (Cardoso) "fez" de propósito. Acham que exagero, mas conheço a mentalidade dele. Foi uma vingança à 1932 (ano da Revolução Constitucionalista). Quando o (Antônio) Brito assinou (a renegociação da dívida, em 1998), disse que ele estava afundando o Rio Grande do Sul. Hoje, a Brigada Militar tem metade do efetivo que o (Alceu) Collares tinha, e o problema da violência está explodindo. É preciso redesenhar o pacto federativo emasculado pelo Fernando Henrique. Dezessete Estados estão em dívida. Nesse ambiente, você tem a possibilidade de atenuar o problema no Congresso fazendo grande negociação a atacado. Persistindo o impasse, aí, sim, convocar plebiscitos e referendos para resolver as reformas política e fiscal. Mas tenho muita esperança de deslindar antes. Conheço o ramo.
O governo gaúcho quer aderir ao regime de recuperação fiscal com a União. É um erro?
Erro mortal. Porque não vai ao ponto. O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado no qual a conta de inativos passou a de ativos. Um problema para onde o Brasil caminha se a bomba não for desarmada.
Qual a sua opinião sobre a descriminalização das drogas?
Não penso mais nada. Como intelectual e militante, minha opinião está na internet. Nunca me omiti. O grande erro está em o presidente assumir pautas identitárias que são justas, mas em confronto com a organicidade da sociedade. O papel do presidente é recolher o debate e chamar todas as frações da sociedade, até porque não existe um precedente internacional que possa se dizer "olha, ali está o exemplo que resolveu a parada".
Pautas identitárias são muito caras à esquerda. Esse posicionamento não pode lhe afastar desse campo político?
Sim, mas não irei me afastar desses assuntos. Apenas, respeitando a complexidade da sociedade brasileira e querendo ser presidente, irei identificar esses problemas e promover o debate. Não vou me omitir, nem adotar uma posição conservadora. Tenho minha opinião sobre todos esses assuntos, mas, como estou me preparando para ser presidente, assumo o compromisso com esses grupos identitários de pautar o debate.
Qual a chance de apoio do PT ao seu nome?
As diferenças mais profundas são minhas com o PT, mas estou com todas guardadas porque temos a responsabilidade de construir um caminho em que as nossas diferenças sejam estabelecidas sem quebrar pontes. Vivemos momento complexo e delicado. Temos de respeitar o tempo do PT, que é dele. E o meu é meu.
Nesse momento, a estratégia?
É tocar a minha bandinha.
Sua estratégia passa por tentar apoio do eleitorado de Lula, mas sem se vincular ao PT?
Sonho em ganhar essa eleição no primeiro turno, porque o presidente que ganhá-la com uma grande onda de opinião pública terá força para transformar a nossa realidade. Tenho pé no chão para saber que estamos no fim de ciclo, quando a tendência é de hiperfaturação do sistema representativo. Mas não irei abrir mão do sonho de unir o Brasil.
Considera-se o nome capaz de aglutinar o campo de centro- esquerda do país?
Não, porque, se entendemos que o principal partido desse campo é o PT e parte da burocracia do PT me tem como antagonista preferencial... Preciso entender esse processo com paciência e deixar o tempo do PT amadurecer. Se entendo que a tática deles está errada, só preciso esperar um pouco que eles também irão perceber. Agora, como eu, ninguém mais. Você admite que o PT irá apoiar a Manuela (D?Ávila)? Ou o (Guilherme) Boulos, que saiu do PT para o PSOL? Nunca fui do PT.
No cenário de candidaturas pulverizadas, a esquerda pode acabar fora do segundo turno?
Pode acontecer, mas irei lutar obsessivamente para ganhar no primeiro turno.
O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch, filiou-se recentemente ao PP. Há especulações de que será o seu vice.
É fofoca natural da temporada. Ao contrário do mito que se fez de mim, converso com todo mundo. Irei procurar todo mundo na humilde ambição de ganhar no primeiro turno, o que é quase impossível.
Também circulam informações de que PP, DEM e PR podem apoiá-lo.
É fofoca. Agora, na política, a fofoca baliza as discussões. A pergunta simples é "por que não"? Meu projeto precisa de um arco de forças de centro-esquerda. Hoje, há um "por que não" que respeito muito: Rodrigo Maia é candidato desses três partidos.
Mas, por que sim?
Porque preciso de sustentação no Congresso. Não sou candidato a madre superior do convento, sou candidato a presidente do Brasil.
O senhor é conhecido pela "língua afiada". Como irá lidar com essa fama na campanha?
Irei reservar toda a minha agressividade para enfrentar o fascismo. A garotada não sabe o mal que isso faz. Quando um fascista chega, precipita rupturas. O fascista não compreende o antagonismo, e a sua atitude passa a ser a destruição. Esse cara, o Jair Bolsonaro (PSL), foi treinado para matar. Ele diz que é especialista em matar, e é mesmo. A minha agressividade será usada para proteger o Brasil. Estou doido para encontrá-lo em um debate porque vou tirar a sua máscara.
debora.ely@zerohora.com.br- DÉBORA ELY
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