sábado, 13 de maio de 2017


13/05/2017  02h00  
hélio schwartsman    
Emanações divinas


SÃO PAULO - Liberdades devem ser levadas a sério. Nesse espírito, o princípio da liberdade acadêmica garante que a Universidade Presbiteriana Mackenzie tem direito de criar um núcleo com propósito de pesquisar a teoria do design inteligente (DI). Mas ter o direito de fazer algo não significa que seja oportuno concretizá-lo. Também não significa que não haverá danos reputacionais à instituição. Fundar um centro que aposta no DI faz tanto sentido quanto criar um curso de alquimia ou uma cátedra de astrologia. 

O pessoal do DI, para quem não sabe, são aqueles acadêmicos que tentam refutar o darwinismo afirmando que a vida é complexa demais para ter surgido por acaso. Como "prova", apresentam alguns modelos matemáticos alimentados com parâmetros escolhidos por eles mesmos e dizem que certas estruturas como o olho ou o flagelo bacteriano são "irredutivelmente complexas", isto é, têm uma organização tão intricada que não poderiam ter surgido de forma gradual. Só existem porque seguem um projeto inteligente. Não é difícil enxergar aqui os velhos criacionistas, mas brandindo uma calculadora em vez da Bíblia. 

Não estou, obviamente, dizendo que o darwinismo não tenha pontos obscuros nem explicações para melhorar ou até rever inteiramente. Se não tivesse, não seria uma boa teoria, pois ou não apresentaria conteúdo empírico ou não seria logicamente falseável. O fato é que, nas linhas gerais, a síntese neodarwiniana está tão solidamente estabelecida quanto a teoria da gravidade. A rigor, até mais, já que a gravidade einsteiniana, por ser incompatível com a mecânica quântica, tem problemas mais sérios que a evolução. 

O Mackenzie, como instituição confessional que é, pode perfeitamente postular um Criador. Mas seria muito melhor para sua imagem se O mantivesse no departamento de teologia, deixando as cadeiras científicas livres de suas emanações.

Nenhum comentário: