sexta-feira, 12 de maio de 2017


Jaime Cimenti
História da China reformulada 

A grande fome de Mao - A história da catástrofe mais devastadora da China 1958-1962 (Editora Record, 532 páginas, tradução de Ana Maria Mandim), do holandês Frank Dikötter, professor de História Moderna da China em Londres de 1990 a 2006 e, desde então, professor catedrático de Humanidades na Universidade de Hong Kong, é, acima de tudo, um imenso relato com vistas à reformulação da história da República Popular da China.

Dikötter já publicou mais de 10 livros que mudaram a visão dos historiadores sobre a China moderna e é pioneiro no uso do arquivo chinês. Ele nasceu em 1961 e formou-se em História e Russo pela Universidade de Genebra. Morou dois anos na República da China e então mudou-se para Londres.

A grande fome de Mao mostra como, entre 1958 e 1962, a China tornou-se um inferno. Mao Tsé-tung jogou o país em um delírio com o Grande Salto Adiante, uma tentativa de superar a Grã-Bretanha em menos de 15 anos. Foi a maior catástrofe que a China já viu. O passo adiante foi na direção oposta. O país virou palco de assassinatos em massa. Segundo o autor, no período, pelo menos 45 milhões de pessoas morreram de exaustão, fome ou vítimas de abusos mortais das autoridades.

Foi a maior demolição de imóveis da história humana: um terço das residências foi posta abaixo, na busca incessante por aço e outros recursos industriais. O livro dá voz aos mortos e esquecidos. Um pai teve que enterrar vivo seu filho menino que tinha furtado um punhado de grãos na mesma aldeia em que Tang Yunqing, de 12 anos, foi afogado em um lado por ter furtado comida da cantina. O pai do menino enterrado vivo morreu de pesar poucos dias depois. Ailong, menino de 13 anos que cuidava de patos em Guandong, foi pego cavando raízes para comer.

Foi forçado a ficar sentado com a cabeça entre os joelhos, coberto de excremento, e lascas de bambu foram enfiadas debaixo de suas unhas. A surra que recebeu foi tão feroz que ele ficou aleijado pelo resto da vida. Em Luoding, o oficial local Qu Bendi espancou até a morte uma criança de oito anos que roubara um punhado de arroz. Como não havia comida suficiente para todos, os trabalhadores mais capazes tinham preferência, enquanto os considerados ociosos - crianças, doentes e idosos - eram explorados.

Os arquivos do partido fornecem longas e dolorosas listas de exemplos. O relato de Dikötter, feito com base em pesquisa meticulosa, só agora possível, nos arquivos do Partido Comunista Chinês, mostra com riqueza de detalhes o terrível cotidiano daquele período. Anteriormente, só os historiadores mais leais tinham acesso aos arquivos. Uma lei recente tornou públicos os milhares de documentos, e a história começa a ser revista, com textos como o de Dikötter. 

lançamentos 

Praia da Rocha (Quatrilho, 360 páginas), do caxiense Bruno Atti, autor de O legado do Führer, é seu novo romance.

O protagonista Édson Fernandes, policial federal, vai recordar bons tempos de infância na Praia do Rocha. Acontecimentos estranhos vão mexer com fantasmas e terrores de seu inconsciente. Cecília Meireles - Poemas Italianos (Global Editora, 158 páginas), com a versão italiana de Edoardo Bizzarri, apresentação de Mariana Ianelli e coordenação de André Seffrin, passeia pela bela Itália, com sua humanidade, sua arquitetura e seus santos. 5777 anos de humor judaico (Ideograf, 160 páginas), de Davi Castiel Menda, profundo conhecedor dos costumes e da cultura judaica, é verdadeira aula com hilariantes estórias sobre a mais sofrida e vitoriosa parcela da humanidade: o povo judeu - Jornal do Comércio

(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/05/colunas/livros/561542-historia-da-china-reformulada.html)

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