Ascensão e queda na alta culinária francesa
Jaime Cimenti
Os franceses herdaram dos gauleses o prazer de comer bem. Mas conta a história que Catarina de Médici (1519-1589), ao casar com Henrique II (1519-1559), Rei da França, levou com ela a também famosa culinária italiana, que revolucionou a alimentação na França.
Chef (L&PM Editores, 264 páginas, R$ 44,90, tradução de Julia da Rosa Simões), romance, primeiro livro do premiado jornalista gastronômico francês Gautier Battistella publicado no Brasil, retrata a ascensão e queda de um chef, gigante mundial da gastronomia francesa. Battistella foi crítico gastronômico do celebrado guia Michelin durante quinze anos, e certamente a experiência auxiliou na criação de Chef, que mereceu os prêmios Cazes e o Livre de Plage aux Sables-d´Ollone.
A narrativa, em primeira pessoa, traz Paul Renoir, 62 anos, uma lenda vida da gastronomia, que aprendeu o ofício ainda menino com a avó. Com o restaurante Les Promesses, situado na belíssima Annecy, conquistou as três estrelas do guia Michelin e foi eleito por seus pares o melhor chef do mundo, a consagração definitiva.
O romance de Gautier é um verdadeiro tour de force e o protagonista é quintessência do chef premiado e bem-sucedido da alta gastronomia francesa, lembrando mestres como Bocuse, Vatel, Escoffier e outros. A narrativa traz, ao mesmo tempo, o lado sombrio e pouco conhecido, por vezes desumano e machista, do ofício da preparação de pratos requintados.
O livro nos conduz pela história da culinária francesa, desde o início, de cozinha camponesa da época pré-aço inoxidável, aos dias de hoje e é um banquete imperdível para os amantes da literatura e da boa mesa.
"É preferível começar estas páginas de barriga cheia: as descrições de pratos refinados dão água na boca e podem perurbar a leitura (....) Saboreie este prazer sem moderação", escreveu o canônico Le Figaro Littéraire.
Lançamentos
- Cinzas na Boca (Dublinense, 176 páginas, R$ 55,00), de Brenda Navarro, mexicana radicada em Madri, narra, em prosa forte e envolvente, a saga da jovem mexicana que foi à Espanha com o irmão para ver a mãe, ausente desde a infância. Amarga as dores da imigração e depois precisa carregar para o México as cinzas do irmão que se suicidou.
- A montanha e o abismo (Editora Calypso, 56 páginas), da premiada jornalista e escritora porto-alegrense Susana Vernieri, traz 39 textos que convidam os leitores a escalar as escarpas do cotidiano e mergulhar na geografia da crônica. Lançamento dia 17/6, 17h, Saguão do Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre.
- Direito, Legislação e Liberdade - Volume II - Os equívocos das políticas de justiça social (Avis Rara, 192 páginas, R$ 38,00) do célebre economista e professor F.A. Hayek, Nobel de Economia de 1974, é ponto culminante da obra do autor e estuda o conceito de justiça social e como as forças sociais solapam o liberalismo.
Emílio Papaléo Zin, Duga e outras histórias
O genial escritor russo Leon Tolstói, representante maior do realismo russo, autor de romances imortais como Guerra e Paz e Anna Karenina, escreveu "se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia". Erico Veríssimo, Mario Quintana, Luiz de Miranda, Martha Medeiros, Luis Fernando Verissimo, Sérgio da Costa Franco e Pedro Gonzaga, em seu último livro Porto Alegre Blues, entre muitos outros nomes importantes, se expressaram em prosa e verso sobre nossa capital.
Esses pensamentos me vêm à mente depois de ler as crônicas e os contos do livro Não sei quando, nem onde, apenas os porquês (Capítulo 1, 176 páginas), a estreia literária de Emílio Papaléo Zin, ex-advogado,ex- professor universitário de Direito do Trabalho em diferentes universidades e cursos e Desembargador Federal do Trabalho desde 2009. Emílio foi dirigente do glorioso Sport Club Internacional e tem Duga como simpático e raro apelido.
Na apresentação, sua amiga de juventude Martha Medeiros escreveu: "Não existe humor sem inteligência. Duga cresceu e foi se destacando sem precisar aumentar o tom de voz, nem fazer gestos espalhafatosos. Continua sendo sutil e cativante durante toda sua trajetória, de menino a homem, fazendo o que mais gosta até hoje: lidar com as pessoas". É por aí.
Emílio gosta de ler, dedicar-se à gastronomia, ouvir música, nadar, cinema, conviver com a família e amigos, passear por Porto Alegre e seus textos justamente vão revelando, com bom humor, saudade e alegria, pessoas de nossa cidade, como seu pai, Olyntho, Gilberto Medeiros, Renato Maciel de Sá Júnior, Paulo Goldenfum, Dr. Paulo Brossard e locais icônicos de Portinho como o antigo Bucanero, a Pizzaria Xuvisco e a Associação Leopoldina Juvenil, entre muitos outros.
Duga fala da família, de direito e justiça, de amigos, de Torres e de Atlântida, do politicamente correto, do marco civilizatório, de apelidos, futebol, de livros e discos para curtir antes de morrer, Raul Seixas, de ter respeito a Elvis Presley, academias de ginástica, ditados, séries de TV, canções preferidas (a dele é a imensa Your Song do gigante Elton John) e de um estranho, pretenso despacho feito com filé mignon, encontrado no aristocrático Moinhos de Vento e que matou a fome de um certo casal.
Como se vê, faz muito bem o ex-advogado, ex-professor de Direito e atual magistrado em se interessar e se expressar sobre outros mundos e temas que não apenas o sisudo universo do direito e do judiciário. Os melhores médicos, magistrados, membros do ministério público, advogados, engenheiros, arquitetos, cientistas, jornalistas e outros profissionais são aqueles que têm outros interesses e paixões além de suas profissões. Na Faculdade de Direito da Ufrgs, onde estudei, o saudoso e querido Dr. Lenine Nequete me ensinou que, além dos livros de Direito, era bom ler literatura, e me indicou o clássico O processo Maurizius, do genial Jakob Wassermann, entre outras obras.
A propósito...
Numa das crônicas do volume, Duga lembra bem que gentileza gera gentileza, ao contar uma história do cotidiano que mostra como uma situação de conflito pode acabar bem. No discurso de posse como Desembargador no TRT, Emílio disse que sempre ensinou aos filhos as três palavras mágicas: obrigado, desculpe e com licença. Num mundo barulhento, briguento, dividido e tumultuado como o nosso - e numa era de barbáries e trevas digitais polarizadas e pessoas multipolares e agressivas - certamente vêm em boa hora os textos gentis do Duga.
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