sábado, 3 de junho de 2023



03 DE JUNHO DE 2023
PETRÓLEO E COMBUSTÍVEIS

PETRÓLEO E COMBUSTÍVEIS

Uma refinaria gaúcha com histórico de vanguarda

Prestes a virar biorrefinaria, a Riograndense tem trajetória que ajuda a contar as transformações pelas quais passa o setor

A Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR) receberá investimentos de R$ 45 milhões para dar início à fase de testes industriais para produtos petroquímicos e combustíveis 100% renováveis. A unidade de Rio Grande - hoje gerida por Petrobras, Braskem e Ultra - será a primeira biorrefinaria brasileira.

A movimentação, avalia o ex-superintendente de Abastecimento da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e economista-chefe da consultoria ES Petro, Edson Silva, demarca a sintonia "necessária" da Petrobras com a dinâmica da transição energética de uma economia fundamentada em carbono (petróleo) para outra descarbonizada (biocombustíveis).

Da mesma forma que o etanol responde por um percentual na composição da gasolina (ou seja, diminui a quantidade de combustível fóssil na fórmula), o biodiesel que deverá ser produzido pela Riograndense é adicionado ao diesel comum, que é um dos derivados do petróleo.

Silva afirma que se trata de outro episódio de pioneirismo na trajetória da Riograndense, a primeira refinaria a entrar em operação no país, na década de 1930. Também avalia que o aporte permite reposicionar a empresa no mercado.

Potencial

Segundo ele, a RPR "perdeu seu peso ao longo do tempo", mas já foi uma das mais importantes e teve o auge em 2012, quando processou 934 milhões de litros de petróleo. Atualmente, representa só 0,6% da demanda por refino no país.

- Esse investimento reposiciona a RPR. Não será uma refinaria expressiva, até pelo seu porte, mas o objetivo não é esse, e sim o de aumentar a capacidade, coisa que já ocorre, pois no primeiro trimestre o processamento avançou 169% na comparação com 2022. De modo que o que assistimos agora é curioso. Foi a primeira refinaria e vai ser a primeira biorrefinaria. É algo icônico para entender o vaivém dos investimentos, sobretudo os da Petrobras nesse segmento ao longo dos anos - diz Silva.

Diretor da consultoria Maxiquim, João Luiz Zuñeda explica que o mercado em que a Riograndense será inserida, o de biodiesel, tem muito potencial. Ele lembra que, em 2022, as distribuidoras nacionais revenderam 63 bilhões de litros de diesel.

Nesse cálculo, comenta, estão incluídos percentuais de biodiesel acrescentados à fórmula, hoje, em torno de 10%. E a tendência é que a demanda aumente com o passar dos anos, em razão de movimentações que preveem elevar a adição mínima de biodiesel em cada litro de diesel.

- É preciso olhar esse anúncio por dois aspectos. O primeiro e mais importante é a retomada dos aportes na refinaria mais antiga do país e que está ao lado de um grande porto, o que gera benefícios para Rio Grande e todo o Estado. Os biocombustíveis são o tema do momento no mercado mundial e têm evolução garantida na demanda interna - destaca.

Silva complementa que a Riograndense continuará processadora de petróleo e, simultaneamente, uma produtora de biodiesel.

Alguns números

Empregos gerados hoje

320 vagas diretas.

150 contratos terceirizados.

2 mil postos de trabalho indiretos na cadeia produtiva.

Vendas de produtos

Em 2022, as vendas de derivados atingiram o volume de 772 mil metros cúbicos, alta de 1,4% sobre 2021.

No ano, foram comercializados 73 mil metros cúbicos de diesel S10, o maior volume da história.

Em igual período, a refinaria entregou 71 mil metros cúbicos de nafta petroquímica, o maior volume desde 2009.

Produção e mercados

A participação no mercado gaúcho de derivados de petróleo foi de 7,5% em 2022.

No ano anterior, respondia por 11% dos derivados de petróleo do RS.

Mas implantou estratégia de abertura de novos mercados para captura de melhores retornos.

Foram 29 mil metros cúbicos pelo modal marítimo (cabotagem) no mercado nacional e 43 mil metros cúbicos para países do Mercosul.

O volume total de exportações, marítimas e rodoviárias, atingiu 52 mil metros cúbicos em 2022.

Com a produção de biodiesel e a localização próxima do porto de Rio Grande, a refinaria está apta a desbravar outros mercados.

Breve perfil

Inaugurada em 7 de setembro de 1937, em Rio Grande, a então denominada Refinaria Ipiranga foi a primeira a processar petróleo no país.

O início da trajetória do grupo remete a 1933, quando os empresários brasileiros João Francisco Tellechea e Eustáquio Ormazabal se associaram a empresários argentinos e fundaram a Destilaria Rio-Grandense de Petróleo SA, em Uruguaiana, na Fronteira Oeste.

No ano seguinte ao início das operações em Rio Grande, por força de um decreto assinado por Getúlio Vargas em abril de 1938, a industrialização do petróleo foi nacionalizada ao ficar definido que só poderiam ser acionistas de refinarias os brasileiros natos, o que gerava conflitos em razão da composição do Grupo Ipiranga.

Após rearranjos para recomprar a participação dos estrangeiros, em 1997 uma nova lei reconduziu as diretrizes do setor petrolífero do país para a iniciativa privada, algo que não acontecia desde 1953. Na esteira dessa lei, a 9.478, os mecanismos de preços, produção e vendas das refinarias existentes seriam desregulamentados, inclusive nas privadas. Entre elas, estava, outra vez, o então Grupo Ipiranga, hoje, Refinaria Riograndense.

Nesse momento, a empresa encerrava período de 45 anos de restrições impostas à sua produção, devido a um acordo de transição fixado no passado e que limitava a capacidade anual de processamento de petróleo. Em 1999, atingiu a marca de 12 mil barris refinados diariamente, alta de 30% sobre os níveis permitidos até então.

Com mais flexibilidade e o aproveitamento das unidades em consonância com as demandas do mercado, sobretudo de diesel, em março de 2007 o controle acionário das Empresas Petróleo Ipiranga foi vendido e adquirido por Petrobras, Ultrapar e Braskem.

Em 2009, assumiu a nova identidade e passou a se chamar Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR), mesmo ano em que alcançou 13.858 barris/dia. Hoje produz em média 15 mil barris a cada 24 horas.

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