03 DE JULHO DE 2019
EDUCAÇÃO
Incerteza, falta de informação e estresse
Os relatos dos docentes são dramáticos, como o que abre esta reportagem. Uma professora precisou da ajuda dos seus pais para pagar o aluguel e a prestação do carro, e uma amiga emprestou o cartão de crédito para que conseguisse abastecer o veículo.
Outra garante as compras do supermercado dando aulas particulares, e há quem não esteja nem conseguindo alimentar os filhos pequenos, pedindo socorro a parentes. "Estou muito triste e chorosa, pois parece que tiraram meu brilho. Sei que vai passar. Notícias do nosso salário? Ando tão triste e tão ressabiada que não me animo a perguntar", desabafou uma colega a Margot, que é uma referência aos demais por estar ligada ao sindicato. "Show de horrores. Podem depositar na sexta ainda? Que humilhação. Chorei muito", falou outra. "Misericórdia. Cheguei ao limite", enfureceu-se um terceiro.
Os professores não são identificados por temerem represálias. Margot resume os sentimentos predominantes entre eles:
- É um misto de indignação e tristeza, parece que está todo mundo no limite e se sentindo desrespeitado. Fico sendo bombardeada (com perguntas) sobre o salário diariamente, pois a escola diz que sempre pode acontecer. Desde a semana passada, não há mais notícia ou respostas a mensagens ou telefonemas. Estou cansada, muitos estão adoecidos. É difícil manter qualidade num clima desses.
PARA MUITOS, É O ÚNICO EMPREGO
A professora ressalta que a equipe "faz das tripas coração" e que muitos professores "só têm esse emprego":
- O grande problema é essa informação que nunca é verdadeira, nada transparente, é truncada. Essa sensação de que não tem problema nenhum e, ao mesmo tempo, o problema é enorme.
Há descrições de outras dificuldades que estariam afetando a preparação de aulas e até as refeições dos estudantes. Docentes afirmam terem utilizado as próprias impressoras, em casa, para imprimir cópias das provas a serem distribuídas às turmas. Marilice Trentini de Oliveira, diretora pedagógica, disse que as informações não procedem (leia mais ao lado). Uma professora indigna-se:
- Onde está indo o dinheiro? Tenho pena e vergonha alheia daqueles pais que confiam na escola.
Mas há vozes dissidentes dentro do prédio centenário do bairro Rio Branco. Um professor reclama dos colegas que estão "falando mal":
- É um marco da Capital que não pode ser abandonado assim. O colégio está doente. E o que a gente faz? Em vez de ajudar, desiste? É mais fácil bater do que tentar ajudar. Se não está feliz, larga o barco.
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