quarta-feira, 2 de outubro de 2024


02 de Outubro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

No lugar da ONU, os canhões 

Direto do Cairo

Iniciada na madrugada de ontem, a invasão terrestre do Líbano traz, de volta, fantasmas do passado. O primeiro deles é o que os estrategistas costumam dizer que todos sabem quando começa uma guerra, mas desconhecem como termina. A ocupação do Líbano, em 1982, era para ser uma operação pontual, porém durou 18 anos.

Guerra é sempre cruel. Aquela foi ainda mais: marcou gerações de israelenses e libaneses de forma terrível em massacres, como o de Sabra e Chatila, pais e filhos ficaram órfãos dos dois lados, e até hoje o Líbano é uma efígie do que fora antes do conflito: "a Paris do Oriente Médio".

Aquela ocupação pariu o grupo terrorista Hezbollah, que, diante da inação das forças armadas libanesas, se tornou um Estado paralelo. Quando Israel invade, não são as forças que protegem as famílias. É o Hezbollah, que se aproveita de rede de assistência social para manter a população refém.

A retirada de Israel, em 2000, ocorreu em meio a um acordo que previa zona-tampão entre a fronteira israelense e o Rio Litani, a Linha Azul. A garantia de que os dois lados se manteriam apartados seria dada pela conformação de uma força de paz da ONU: a Unifil.

Mas a atual ineficácia das Nações Unidas, que falha tantas vezes em garantir a paz, já aparecia ali. O Hezbollah nunca respeitou aquele limite. Ao contrário, domina vilarejos ao sul de Tiro, onde suas bandeiras amarelas e cartazes com os rostos de seus "mártires", estampam postes e fachadas.

Em 2006, o sequestro de dois soldados israelenses levou Israel a reocupar o Líbano, em uma guerra cujo resultado foi considerado empate: Israel recuou depois de 33 dias de confrontos em terra e bombardeios intensos, que chegaram a Beirute. Os dois soldados foram devolvidos dentro de caixões.

As forças armadas de Israel dizem estar travando combates intensos no sul do Líbano com o Hezbollah. É a primeira ocupação terrestre desde 2006. São incursões "limitadas e localizadas", que visam, segundo porta-vozes, a eliminação de posições da guerrilha, de onde são lançados ataques contra os vilarejos israelenses do Norte.

A estratégia parece ser empurrar o Hezbollah para a região central do Líbano, na margem do Rio Litani, onde ficaria a Linha Azul. O que o poder da ONU, da diplomacia, não foi capaz de garantir, será feito, tudo indica, por meio das armas. _

Por volta das 17h (11h no Brasil) de ontem, avisos começaram a ser emitidos em diversos pontos de Israel diante do possível ataque iraniano. Às 20h (14h no Brasil), sirenes soaram e os mísseis cruzaram o céu israelense.

A primeira reação de Vagner Paludo Landskron, gaúcho de Cachoeira do Sul que mora em Yokneam Illit, cidade a 90 quilômetros de Tel Aviv, foi pegar os filhos e a esposa e se proteger no bunker que tem na sua casa.

- Toda semana estivemos trabalhando em casa, pois recebemos o alerta que poderia haver uma investida mais séria. Mas quando recebi que haveria um ataque, começamos a nos organizar para que, eventualmente, se disparasse o alarme, tivéssemos tempo para ir ao bunker.

Ao conversar com a coluna, Landskron havia saído do abrigo após as sirenes pararem:

- O bunker dá confiança, aumenta a segurança. Mas tenho de admitir que a primeira vez que escutei as explosões, não sabia se era o Domo de Ferro ou se eram os mísseis, ou os dois. Sentia a janela vibrando. Foi surpreendente, não estava preparado para essa experiência.

Morando desde 2009 em Israel, Landskron não se recorda de situação tão crítica no país:

- Essa é a primeira vez que posso dizer que senti medo. Que se tem um receio que algo ruim vai acontecer. Tu vê que é muito impotente contra um míssil. A sensação é de receio. O que vai acontecer adiante? _

Gaúcho relata cenário vivido durante ataque iraniano contra Israel

Espera pela repatriação

- Por meio do WhatsApp da Embaixada, eles comunicam informações sobre a guerra e comentaram da oportunidade de repatriação. Enviaram um formulário e por meio dessa lista, puderam ver quantas pessoas tinham interesse. Ontem, eles aprovaram a primeira leva e estão ligando para os primeiros que vão viajar. Ainda não me chamaram, diz que ainda vão ligar para as pessoas que vão entrar em um próximo voo - disse Fernanda Mansur, em entrevista à coluna. _

Entrevista -Leonardo Trevisan  Professor de Relações Internacionais da ESPM SP

"O jogo é mais para contenção do que para uma escalada iraniana"

INFORME ESPECIAL

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