29 DE FEVEREIRO DE 2024
NÍLSON SOUZA
Desafio no Brique
Na manhã do último domingo, esperando o Gre-Nal, dei um passeio pelo Brique da Redenção - e saí de lá em alto astral, como sugere a letra do Fogaça. Na verdade, fui para ver de perto o trabalho do caricaturista Roberto, que exerce a sua habilidade de desenhar rostos na Praça da Alfândega, mas também acampa na Avenida José Bonifácio nos finais de semana para expor uma particularidade de sua obra: caricaturas e frases de personagens ilustres da História, como Freud, Charles Darwin, Einstein, Ghandi e outros mais ou menos votados. Vale a pena conhecer o traço e o talento do artista.
Mas o que vale mesmo é a travessia da avenida em passos lentos, com paradas em cada banca da feira para a observação detalhada das antiguidades e curiosidades expostas. Não há como não se encantar com a arte e a criatividade da nossa gente. A primeira surpresa que me reteve por mais tempo foi um boneco de aço e lata semelhante a um Dom Quixote, que toca um instrumento de sopro e balança o corpo sobre uma mesa de madeira. Nada eletrônico: basta um leve impulso para que o aparato se movimente por vários minutos, provavelmente em obediência a alguma lei da física semelhante a que move os pêndulos do relógio de parede.
Os relógios também estão por lá, principalmente aqueles que marcam o tempo com os ponteiros da saudade. Todas aquelas coisas que nossos avós e bisavós utilizaram nas suas vidas passadas estão espalhadas sobre as lonas e mesas dos briqueiros. Tem ferro de passar movido a carvão, miniaturas dos primeiros calhambeques que circularam pela província, placas, estatuetas, máquinas fotográficas, bibelôs, moedas, quadros, coleções de tudo o que se possa imaginar. Faltam olhos para tanto deslumbramento.
E tem também o que mais me atraiu, obrigando-me a levar a mão no bolso: uma banca de jogos de lógica. Mal parei para observar e o atendente, atento e comunicativo, lançou na minha direção quatro pedacinhos de madeira, seguidos de uma quase ordem:
- Faz um T aí, companheiro!
São peças de encaixe de um tradicional quebra-cabeça chinês, que permitem montar uma letra T com todas as extremidades no formato retangular. Com as mesmas peças, também se pode fazer uma flecha indicativa perfeita, um Y com três pontas quadradas, o número 1 e ainda um daqueles trapézios retirados das aulas de geometria. Na hora, não consegui fazer nada, pelo que acabei comprando o jogo para brincar em casa.
Nunca desafie um virginiano. Ao chegar, me concentrei tanto no brinquedinho que perdi os dois primeiros gols do Gre-Nal.