sábado, 20 de junho de 2020



20 DE JUNHO DE 2020
ARTIGOS


Novo normal, novos gestos


As estruturas sociais que nos mantêm funcionando como sociedade são mantidas por muitas normas não escritas de cordialidade e boa convivência. Uma das normas mais comuns é o aperto de mãos, tradicionalmente realizado com a mão direita. O gesto se originou na Grécia antiga como um gesto de paz para mostrar que a mão dominante estava desarmada. Os romanos aperfeiçoaram o gesto movimentando os braços para cima e para baixo para se certificar de que não existiam armas guardadas nas mangas. Este gesto sobrevive até hoje, apesar de pouquíssimos de nós corrermos perigo de sermos atacados pelas pessoas que cumprimentamos.

Ao longo da História, esse gesto salvou milhares de vidas, não por ter evitado ataques diretos de pessoas armadas, mas pela coesão social que gerou e que em muito ultrapassou o motivo pelo qual ele foi inicialmente planejado.

A atual pandemia está trazendo novas normas sociais - apertar a mão já não é mais sinal de respeito e foi substituída por um tocar de cotovelos. Já tossir sem botar o braço na frente é visto como uma agressão, quase comparável a puxar uma arma. No entanto, o gesto que mais representa esta pandemia é a ação de usar máscara, pois ela protege mais a outra pessoa do que a nós mesmos, por ser eficiente em reduzir a liberação de gotículas da nossa respiração que podem conter o vírus infectante.

Assim como o aperto de mãos, que deixou de ser um método para indicar se a outra pessoa está armada e passou a ser um símbolo de coesão social, o uso de máscara, mais do que filtrar nossas gotículas, é um símbolo de que nós nos importamos com o próximo e faremos o pequeno sacrifício de usar uma máscara para evitar que outros sejam infectados. Com isto estamos também contribuindo para gerar uma nova norma de coesão social que salvará muitas vidas pelo efeito direto, mas principalmente pelo efeito indireto de indicar que por trás da máscara, mesmo que encoberto, está um sorriso de alguém que se importa com o próximo e que quer lutar por uma sociedade melhor, para o bem de todos.



GUIDO LENZ, PROFESSOR, PESQUISADOR E DIRETOR DO CENTRO DE BIOTECNOLOGIA DA UFRGS

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