segunda-feira, 11 de novembro de 2024


INFORME ESPECIAL -Rodrigo Lopes

Direto de Baku  - Tiro pela culatra

A ideia era boa: a três dias do início da COP29, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, no Azerbaijão, o governo federal pretendia anunciar a sua NDC (em português, Contribuição Nacionalmente Determinada), a meta que o país pretende se comprometer sobre emissão de gases poluentes.

O problema foi a forma e o conteúdo. A forma: na sexta-feira à noite, quando muitas das delegações de cientistas, ambientalistas e representantes de governos estavam a caminho de Baku, e em um anúncio escondido, no site do Planalto, sem divulgação.

O conteúdo: o país pretendia emitir, até 2030, um 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa. Agora, o governo estabeleceu uma meta para 2035: entre 850 milhões e 1,50 bilhão de toneladas. O compromisso é reduzir as emissões de gases de efeito estufa de 59% a 67%, na comparação com 2005.

O problema: o governo diz que a meta está alinhada ao objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5ºC. Os ambientalistas consideram que esses cálculos estão desalinhados com a contribuição justa do Brasil para a estabilização do aquecimento global, bem como com a promessa de zerar o desmatamento no país. Embora com a melhor das intenções, o governo conseguiu colocar um bode na sala. _

Na fronteira das guerras

O Azerbaijão e sua capital, Baku, têm nomes estranhos para nós, ocidentais, mas o país e a cidade são sensacionais do ponto de vista da gentileza e da hospitalidade de seus habitantes. Nem parece que estamos na fronteira com três regiões em guerra - a Rússia, com a Ucrânia; o Irã, com Israel; e a Armênia, país com o qual o Azerbaijão disputa o território de Nagorno-Karabakh. _

Segurança na COP29

Aliás, a segurança por aqui é bem maior do que o observado na COP de Dubai, no ano passado. No metrô, mochilas e malas precisam ser passadas no raio X, e, ao redor do Estádio Olímpico, sede da COP29, há militares posicionados a cada cem metros. O terrorismo islâmico na região do Cáucaso é uma ameaça. _

Um desafio para Belém

Bastam 24 horas no Azerbaijão para se compreender que o maior desafio para uma cidade (ou país) que sedia uma COP é a questão da mobilidade.

Do desembarque no aeroporto ao transporte público, tudo precisar estar integrado - e, em geral, ser gratuito aos participantes. Baku conta com um metrô que não é extenso, mas cumpre seu papel - da Cidade Velha, onde ZH está hospedada, até o Estádio Olímpico, sede da COP, são 20 minutos diretos. Esse é um desafio fundamental para o Brasil, o Pará e Belém, daqui um ano. _

Faça o que eu digo...

Mais uma vez, uma COP é sediada em um país produtor de petróleo, um combustível fóssil. E, mais uma vez, tem um presidente com relação controversa com o setor.

Mukhtar Babayev tem uma longa trajetória na indústria de petróleo e gás do país. Ele trabalhou por 26 anos na companhia estatal - Socar -, onde também foi vice-presidente de ecologia. No ano passado, mais de 2,4 mil promotores de energias fósseis se inscreveram para as negociações climáticas na COP28, um número recorde. _

Os voluntários convocados para a COP são um caso à parte: embora tenham dificuldades em falar idiomas

como inglês (algo a ser enfrentado no Brasil, na COP de Belém), compensam na gentileza e na simpatia.

INFORME ESPECIAL

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