terça-feira, 26 de novembro de 2024



26 de Novembro de 2024
NÍLSON SOUZA

Parênteses

Oba! A Feira do Livro de Porto Alegre, encerrada na semana passada, registrou um aumento de 14% nas vendas de livros em relação ao ano anterior. (Sinal de que os impressos continuam resistindo à desproporcional concorrência dos meios digitais.)

Opa! Na véspera do encerramento da Feira, foi divulgada a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, mostrando que o país perdeu 7 milhões de leitores nos últimos quatro anos. (Não, essas pessoas não morreram! Apenas deixaram de ler livros.)

O paradoxo é desconcertante (se me permitem a redundância). Por que tantas pessoas compram livros se cada vez mais se lê menos? E não me venham com exceções (menos quem, cara-pálida?). Eu mesmo, confesso, tenho lido bem menos em relação ao que lia antes de carregar a telinha hipnotizadora no bolso.

A verdade verdadeira é que nossa atenção não dá conta de tantos atrativos. O Relatório Digital 2024, também divulgado recentemente, mostra que o brasileiro passa uma média de nove horas e 13 minutos por dia nas redes sociais. (O Brasil é o segundo país do mundo entre os que ficam mais tempo online.)

Mas o desinteresse pela leitura tem também um outro componente preocupante. O Censo Demográfico do IBGE (feito em 2022) revelou que 11 milhões de brasileiros acima de 15 anos não sabem ler nem escrever um simples bilhete. E o próprio Ministério da Educação, baseado em pesquisas de avaliação, admite que mais de 50% dos estudantes chegam ao 4º ano do Ensino Fundamental sem dominar as habilidades básicas da leitura (e sem entender o sentido de um texto elementar, incluídas aí legendas de filmes e placas de rua).

A falta de hábito de leitura das pessoas que convivem com as crianças é uma das razões do desapreço dos jovens por livros. Mas a causa maior, de acordo com especialistas, é o contato excessivo com as telas, sempre mais atraente do que o folhear de páginas impressas. O fenômeno tem nome: Parêntese de Gutenberg (teoria desenvolvida pelo professor dinamarquês Thomas Pettit para caracterizar o período entre a invenção da imprensa no século 15 e a atual era digital).

Apesar do sucesso da Feira do Livro, parece que ele está mesmo se fechando sobre nós. _

NÍLSON SOUZA

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