sábado, 23 de novembro de 2024


23 de Novembro de 2024
COMPORTAMENTO

COMPORTAMENTO

Em ouro e veludo roxo, a coroa por si só já é uma homenagem à cidade: seu formato é inspirado no diadema que encima o brasão de Porto Alegre, com cinco torres que lembram uma muralha medieval. A peça foi encomendada pela prefeitura em 1970 e confeccionada pelo joalheiro de Caxias do Sul Júlio Andreazza, com o custo de 5 mil cruzeiros e pesando quase um quilo. As informações constam em documentos que também estavam mantidos no cofre.

Em valores atuais, calculando conforme o Índice Geral de Preços, o número equivaleria a R$ 60 mil, estima o ex-superintendente do Tesouro Municipal, Paulo Roberto Fontoura, local que abrigou a coroa há alguns anos. Mas ele faz a ressalva de que, por seu componente histórico, o valor do item é inestimável.

Até a década de 1970, o concurso que escolhia a miss da Capital dava faixa à vencedora, mas não tinha coroa. Isso mudou quando a prefeitura se envolveu mais com a seletiva de beleza, como registrado no Diário de Notícias de 19 de abril de 1970, na qual foi anunciado: "O reinado de ?Miss Porto Alegre? terá a partir dêste ano uma coroa de ouro para significá-lo plenamente".

Quem estreou

Quando a recebi, fiquei encantada. Achei que miss levava a coroa para casa, né? Mas aquela não. Cada vez que terminava algum compromisso como Miss Porto Alegre, sempre a entregava para alguém - relembra Jane.

Já Denise Cezimbra, escolhida como Miss Porto Alegre em 1973, se recorda bem do peso da coroa, que não era das mais confortáveis de usar. Durante o seu ano de reinado, ela lembra que foi autorizada a deixar a coroa guardada em um cofre, no banco.

Sem paradeiro

O adereço foi motivo de polêmica, conforme veiculado na Zero Hora de 12 de agosto de 1981. Na nota dizia-se que a joia, dada como desaparecida, se encontrava em poder dos Diários e Emissoras Associados do Rio Grande do Sul, que realizavam o concurso à época, e que teria sido doada ao grupo pela prefeitura.

Já na coluna Informe Especial de ZH, datada de 5 de setembro de 1999, uma nota intitulada "Mistério" afirmava: "O vereador João Dib (PPB) resolveu dar uma de Sherlock Holmes. Quer descobrir onde foi parar uma coroa de ouro que pertence ao município e que era utilizada anualmente na coroação da Miss Porto Alegre". O vereador tinha a informação de que, até 1985, a peça havia estado sob a guarda da Secretaria Municipal da Fazenda e queria saber se continuava lá ou se teria tomado outros rumos.

Dois dias depois, uma nova nota foi publicada na coluna, desta vez com o título "Mistério resolvido", na qual o então secretário da Fazenda, Odir Tonollier, informava que a peça continuava "muito bem guardada, naquela secretaria".

Em 21 de outubro de 2003, novamente o assunto do sumiço veio à tona, desta vez pelo jornalista Fernando Albrecht, no Jornal do Comércio. Na nota "Procura-se uma coroa", diz que desde 1972 não se teria notícia do item.

Reencontro

- Recebemos uma ligação do Tesouro Municipal dizendo que tinha uma coroa lá, que é um patrimônio histórico e que a Cultura deveria ficar com ela para o seu acervo - conta Renato.

A mando do então secretário da Cultura, Luciano Alabarse, Renato buscou a coroa, que foi então oferecida ao Museu de Porto Alegre e ao Arquivo Histórico. O assistente administrativo relata que, por falta de um expositor adequado, esses órgãos recusaram a oportunidade de tê-la em suas coleções.

- Já que esse cofre da secretaria não estava sendo utilizado, pensamos: "Vamos guardar. Em algum momento, essa coroa vai voltar à vida" - recorda Renato.

O momento talvez tenha chegado. De acordo com Juliana Wagner, arquiteta que atua na Diretoria de Patrimônio e Memória do município, será feita uma pesquisa para confirmar informações e, então, tentar colocar a coroa em exibição. _

Letícia Paludo

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