Enfim, um mercado de carbono
Qualquer bom vendedor sabe que, para conquistar o cliente, é preciso criar necessidade. O consumidor só irá comprar algo se reconhecer valor - real ou imaginário - naquilo que lhe é oferecido.
É o famoso "o que eu vou ganhar com isso?" Grosso modo, é o que, espera-se, ocorra com a regulamentação do mercado de carbono, projeto aprovado pelo Congresso e que segue para sanção presidencial.
O mecanismo tem capacidade de inverter a lógica e conquistar, quem sabe, até o empresário mais cético (ou negacionista) das mudanças climáticas. Afinal, acredite ou não no aquecimento global, ele poderá ganhar dinheiro (e muito), se fizer o tema de casa ambiental.
Pelas regras do recém-batizado Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), a empresa que investir em tecnologias mais limpas poderá vender crédito de carbono por aí. O empresário irá parar de ver o tema climático como ônus, e poderá entendê-lo como bônus.
O Brasil entra tarde nesse mercado complexo e em expansão. Mas antes tarde do que mais tarde. O planeta agradece. _
Entrevista - Jorge Viana - Presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil)
"O Plano Safra terá de incluir recursos para a adaptação"
Na COP29, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Jorge Viana, detalhou como as mudanças climáticas afetam o agronegócio, falou sobre as empresas gaúchas atingidas pela cheia e as perspectivas diante do retorno de Donald Trump ao poder.
O que as empresas do RS podem esperar da Apex neste momento de recuperação?
No Rio Grande, temos convênio com o polo calçadista, com o setor de vinhos, com o couro. Criamos o Bolsa Exportação, um programa pelo qual a empresa que estava programada para viajar e que enfrentou alguma dificuldade, recebe até R$ 20 mil para o pagamento de despesas, como hotel e passagem. Com isso, a gente vai atender mais de 500 empresas.
O produtor gaúcho sofre tanto com a enchente quanto com a estiagem. Como tem sido encaminhado o debate sobre adaptação às mudanças climáticas?
Podemos estar vivendo um momento de ruptura. É preciso que haja um processo de adaptação. Vamos ter de nos preocupar com a escassez de água, com o excesso de chuvas, e isso, para a agricultura, é mortal. Vamos ter de alterar o Plano Safra. Talvez tenha de focar em reservar recursos, não só para safra, mas para que a gente possa trabalhar essa adaptação, com irrigação, em fazer um ciclo diferenciado de cultura. Defendo fortemente isso, a partir de um seguro agrícola, porque os agricultores não vão conseguir arcar com três, quatro prejuízos no mesmo ano.
Isso já está acontecendo no Rio Grande do Sul.
O seguro agrícola, que era de R$ 1 bilhão, no universo de mais de R$ 400 bilhões no Plano Safra, tem de, no mínimo, triplicar de tamanho.
? O retorno de Trump nos EUA abre oportunidades para as exportações brasileiras para a China?
O tensionamento entre China e EUA deve esgaçar mais no governo Trump. Temos de tentar ajudar o mundo a ficar em paz, mas, ao mesmo tempo, estar de olho em oportunidades, sem abrir mão da boa relação comercial com a maior economia do mundo, que são os EUA, que, quando resolve ficar independente da China no comércio exterior, abre janelas para o México e pode abrir para o Brasil. Em relação à China, temos de agregar valor nos produtos e trabalhar a geração de emprego. _
Apoio técnico, além do financeiro
No principal palco da COP29, a reunião ministerial, que ocorreu no plenário Nizam, ontem, a secretária estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, destacou a importância dos governos de Estados e municípios no enfrentamento da crise climática.
O encontro do qual ela participou é o momento em que a presidência da conferência se apropria dos temas debatidos ao longo do dia.
- Os governos subnacionais são a voz das comunidades na agenda de desenvolvimento global - disse.
Antes, Marjorie afirmou que os governos precisam de apoio técnico, além de financeiro, para implementar as metas climáticas estabelecidas pelas nações de redução das emissões de carbono. _
Marjorie Kauffmann encerrou a missão no Azerbaijão e viaja para a China para se juntar à comitiva do governador Eduardo Leite.
O agro como aliado do ambiente
No dia dedicado à agricultura na COP29, na terça-feira, o vice-presidente da Farsul, Domingos Velho Lopes, explicou a uma plateia internacional como o agronegócio brasileiro se posiciona diante das mudanças climáticas.
- Aos poucos, as COP vêm introduzindo a atividade da agricultura, pecuária e silvicultura como parte das soluções e do convício harmônico com a sociedade civil e com o ambiente - afirmou.
Ele reforça a participação da agricultura brasileira no cumprimento das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e destaca a necessidade de separar a produção resiliente e sustentável do desmatamento ilegal. _
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