Aquém do esperado
Ao longo das quase 30 horas de prorrogação da COP29, até que se alcançasse a assinatura do documento final, negociadores, observadores, ambientalistas e jornalistas, aqui em Baku, chegaram a acreditar na frase "no deal is better than a bad deal" (em português, "nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim").
A expressão norteou, em alguns momentos, a estratégia de negociação intramuros de algumas delegações. Por exemplo, os países-ilhas, aqueles que sofrem primeiro os efeitos mais dramáticos das mudanças climáticas e que correm risco de desaparecer, chegaram a deixar a sala de negociação para demonstrar sua insatisfação. Foram seguidos por 45 nações menos desenvolvidas entre o heterodoxo grupo chamado "em desenvolvimento". Àquela altura, a meta de financiamento climático (NCQG) expressa no rascunho era de US$ 250 bilhões anuais concedidos pelos países desenvolvidos às nações em desenvolvimento.
O espectro do fracasso pairou sobre Baku nessas 30 horas. Não que adiamentos sejam incomuns - não é fácil alcançar consenso entre interesses tão díspares entre mais de 190 países. Em Madri, na COP25, o texto final só saiu depois de 44 horas além do tempo normal.
O que mais preocupa em Baku é a sensação de que o racha no sistema internacional nunca antes foi tão profundo. Três anos de discussões e duas semanas a portas fechadas, para quê?
Ao final, houve um acordo ruim. Os US$ 300 bilhões anuais estão muito aquém do necessário, segundo a própria ONU, para medidas de adaptação e transição energética. Pior do que isso: não há garantia alguma de que as nações desenvolvidas irão desembolsar esse valor. Já não o fazem desde 2009.
O cenário é ainda mais tenebroso diante da geopolítica atual: a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, e o recrudescimento das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
O fracasso não é total em Baku (porque, apesar dos altos e baixos, um acordo foi ruim, mas é ainda melhor do que não tê-lo). Mas o caminho até a COP de Belém será suado. A COP da Amazônia colocará à prova a capacidade da diplomacia brasileira de evitar o colapso do diálogo para o clima. Em Baku, isso não ocorreu por muito pouco. _
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Entrevista
Igor Normando
Prefeito eleito de Belém
"A COP das COPs vai acontecer na Amazônia"
Igor Normando (MDB) foi eleito prefeito de Belém (PA) no pleito de outubro e terá a missão de sediar a próxima COP30, em novembro de 2025. Apoiado pelo primo, o governador Helder Barbalho (MDB), Normando assumirá em janeiro. Ele conversou com a coluna sobre os desafios de preparar a cidade para receber o evento global.
O senhor se sente preparado?
Olha, é um grande desafio, mas também uma grande oportunidade para que a gente possa mostrar Belém para o Brasil e para o mundo. Belém, depois da COP30, vai ser a capital da Amazônia, e a gente precisa fazer com que se possa ser não só um atrativo para a discussão climática, do ambiente, mas também para o turismo. Vai ser uma oportunidade para que a gente possa desenvolver a nossa cidade para as pessoas que vivem nela e para aquelas que, porventura, irão nos visitar.
É a primeira vez que o senhor vem a uma COP?
É a primeira vez e saio daqui com a certeza de que temos não só a condição de sediar o evento, como de mostrar para todo mundo que a COP das COPs vai acontecer na Amazônia e em Belém do Pará.
Há alguma coisa que o senhor viu nesses dias que já pensa que não pode faltar em Belém?
Enquanto muitos discutiam que não teríamos condições de realizar a COP, saio daqui com a certeza de que vamos fazer uma das melhores COPs que já existiram. Vamos estar fazendo a discussão sobre o clima e o meio ambiente na capital da Amazônia. Só por esse fator já é algo extraordinário. E as pessoas precisam conhecer de fato aquilo do que elas estão falando. Muita gente que participa das COPs, que se interessa pelo tema, contribui para o desenvolvimento sustentável, mas não conhece aquilo que mais discutem, as florestas. Quem vai para a COP em Belém vai ter a certeza de que vai conhecer os rios da Amazônia, a floresta amazônica e a capital do pulmão do mundo. Com todas as suas problemáticas, mas também com as suas soluções.
O senhor acha que a cidade está preparada?
Posso garantir que vamos ter todas as condições para receber as pessoas. Não vamos ser a Dubai, Paris. Vamos ser a capital da floresta. Quem vai atrás de grandes prédios, hotéis, de obras suntuosas, não vai encontrar. Vai encontrar floresta, gente acolhedora, uma cultura diversa, culinária indescritível e vai fazer a discussão de meio ambiente e do clima onde realmente acontece a preservação.
O senhor é oposição ao governo atual. Tem alguma coisa que vai refazer?
Se fosse mudar algo, prejudicaríamos o andamento da COP. As obras prioritárias, talvez eu pudesse ter escolhido outras. Porém, como já foram escolhidas, já tem aporte garantido, já com licitação, mesmo com lentidão, tenho a obrigação de concluir. Meu papel é garantir que a gente tenha manutenção da cidade para receber bem os turistas, garantir à nossa população mais qualidade de vida e que as obras que foram prometidas sejam entregues.
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