quinta-feira, 2 de maio de 2019



02 DE MAIO DE 2019
ENSINO SUPERIOR

Federais gaúchas temem ficar insustentáveis

REITORES DAS UNIVERSIDADES projetam que a situação se tornará inviável diante da redução de 30% nos recursos
O anúncio de que todas as universidades federais terão corte de 30% em seu orçamento neste ano foi recebido com preocupação por reitores do Estado. Eles afirmam que as instituições já sofrem com falta de recursos, não têm mais onde cortar despesas e podem ver-se diante de uma situação insustentável.

O bloqueio geral das verbas foi comunicado na noite de terça-feira pelo secretário de educação superior do Ministério da Educação (MEC), Arnaldo Barbosa de Lima Junior. Veio depois de outro anúncio, segundo o qual perderiam os 30% apenas a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), punidas pelo que o ministro Abraham Weintraub definiu como "balbúrdia" nas instituições.

Com a revelação de que a redução de gastos seria generalizada, os reitores começaram a fazer as contas - e a concluir que elas não fecham. No comando da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Paulo Burmann diz que a medida é um "ataque duro" que vai "levar à insustentabilidade da instituição". O reitor entende que o corte ocorre no contexto de uma "caricatura" que foi feita da universidade pública, "jogando a sociedade contra as instituições".

- Trabalhamos sem recursos de capital, já bloqueados no início do ano, o que leva a preocupação em relação às obras em andamento. Mais de 80% está concluído. Embora tenha havido manifestação dizendo que obras em andamento com percentual elevado de conclusão serão garantidas, não temos essa segurança. Não conseguimos executar o planejamento por conta da incerteza do orçamento. Trabalhamos extrapolando todos os limites - lamentou.

O reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rui Vicente Oppermann, ressalvou ainda não ter recebido confirmação da redução dos repasses, mas considerou o quadro "muito grave", com impactos sérios no ensino, na pesquisa e na extensão universitária. Oppermann diz que ainda não há informações se a tesourada inclui os 25% de corte já anunciados no início do ano - ou seja, mais 5% sobre o orçamento total - ou se representaria 30% adicionais:

- Aí, sim, seria absolutamente inaceitável. Trabalhamos com isso (os 25% a menos) e sabemos que teremos grandes dificuldades de alcançar o fim do ano fazendo as atividades que realizamos.

Apreensão geral quanto à quitação dos compromissos

Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o reitor Pedro Hallal avalia que o corte "inviabiliza o funcionamento da instituição". Ele afirma que, nos dois anos e meio de sua gestão, o orçamento foi inadequado e que, mesmo assim, a universidade conseguiu se encaixar, fazendo cortes:

- Tudo que era minimamente excessivo, nós cortamos. No primeiro ano, conseguimos uma economia de quase R$ 10 milhões mexendo nos terceirizados (limpeza, portaria etc). Uma redução de mais de 10%.

Hallal diz que o orçamento nominal da universidade, da ordem de R$ 800 milhões, na verdade é "uma ficção", porque mais 90% desse valor é destinado a servidores ativos ou aposentados. Sobram R$ 70 milhões, que afetam principalmente o custeio - despesas como energia elétrica e papel higiênico.

- Há muitos anos estamos escolhendo qual conta pagar. No fim do ano, conseguimos estar em dia com todo mundo ou quase todo mundo. Se essa redução se confirmar, não conseguiremos pagar.

A Universidade Federal do Rio Grande (Furg) vive desafios semelhantes. Em nota enviada pela assessoria de imprensa da instituição, a reitora Cleuza Dias afirma estarem todos "apreensivos e esperando mais esclarecimentos do MEC". "O orçamento atual já não era suficiente, o que nos levou a reduzir serviços de apoio como limpeza, vigilância, portaria, entre outros. Um bloqueio de 30% sobre esse valor inviabiliza atividades fundamentais", diz a nota.

Zero Hora também tentou falar com os reitores da Unipampa e da Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA), mas não obteve retorno.

CAMILA KOSACHENCO | ITAMAR MELO

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