quinta-feira, 2 de maio de 2019



02 DE MAIO DE 2019
DAVID COIMBRA

Por que os professores de História são de esquerda - final

"Em que lugar o comunismo deu certo?", é o que sempre perguntam debatedores de direita quando querem encurralar os de esquerda. Eles têm razão. O comunismo puro não deu certo em lugar algum. Mas os debatedores de esquerda poderiam rebater: "E em que lugar o capitalismo puro deu certo?".

Resposta: em nenhum.

O capitalismo puro, em que o Mercado tem liberdade completa e se autorregula, nunca funcionou bem. Quando o liberalismo desenfreado vigorou, houve esbulho e opressão dos mais fracos a curto prazo e, a médio e longo prazo, implosão do próprio sistema.

Quer um exemplo luminoso? Este lugar em que hoje vivo, os Estados Unidos da América.

Ontem foi Dia do Trabalho em quase todo o mundo, menos nos Estados Unidos. Ironicamente, o 1º de maio foi instituído como Dia do Trabalho devido a um fato ocorrido NOS Estados Unidos: em 1886, uma manifestação de trabalhadores foi violentamente reprimida pela polícia. Protestantes e policiais morreram. Em decorrência, alguns operários foram presos, levados a julgamento, e cinco receberam nada menos do que a pena de morte. Que se cumpriu: eles foram executados na forca.

Esses operários protestavam contra os baixíssimos salários e as duríssimas condições de trabalho, pediam jornada diária de oito horas (era de 13), folga semanal e férias. Os patrões não queriam ceder porque, na época, eles podiam tudo - os Estados Unidos eram o que mais se aproximava do capitalismo puro. Assim, os empresários obtinham lucros obscenos e, na prática, mandavam no país. Era o tempo dos chamados "barões ladrões", megaempresários corruptos que não tinham nenhum escrúpulo para ganhar dinheiro. As cidades que sediavam esse capitalismo incontrolável eram infernos para se viver: em Nova York e Chicago, proliferavam cortiços infectos e gangues violentas. Lembre-se de que outra efeméride internacional, o Dia da Mulher, é comemorada nessa data porque, num 8 de março, mais de cem mulheres morreram queimadas em um incêndio de uma fábrica de tecidos de Nova York, em 1911.

Mas, como sói acontecer, o liberalismo sem limites se suicidou. Isso se deu na crise de 1929. A partir deste marco, os Estados Unidos foram se afastando do capitalismo puro para jamais voltar.

Só que esse país é uma federação de fato, e não apenas fictícia como a do Brasil. Cada Estado tem, realmente, autonomia, quase como se fosse uma nação independente. É interessante, porque se torna um laboratório socioantropológico. Então, seja você o cientista, investigue entre as pessoas que moram nos Estados Unidos, tente descobrir quais são os melhores Estados para se viver. Você descobrirá que são os que têm mais leis de proteção social, controle de armas e garantias aos trabalhadores. Como Massachusetts, de onde escrevo agora. Massachusetts, creia, é uma espécie de Suécia dentro do território americano. É um Estado de bem-estar social funcionando no país campeão do capitalismo.

Agora estou chegando ao destino que busco a semana inteira. Quero declarar que os professores de História, os filósofos, os sociólogos, eu e você, se examinarmos com critério o que aconteceu e o que acontece no mundo, chegaremos à irretorquível conclusão de que comunismo perfeito e capitalismo perfeito são iguais a seres humanos perfeitos: não existem.

A fórmula de sucesso é não ter uma fórmula de sucesso: uma sociedade precisa adequar-se à realidade. Como Darwin já ensinou, os vencedores não são os mais fortes; são os que mudam e se adaptam ao contexto. Às vezes, o Mercado tem de usufruir de um pouco mais de liberdade, para que o país se desenvolva; às vezes, o Estado tem de se impor e restringir o poder do Mercado, para que os mais fracos não sejam espoliados pelos mais fortes. Dogmas, certezas e cruzadas ideológicas nunca são boas, sejam de esquerda, sejam de direita. A História mostra.

DAVID COIMBRA

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