30 de maio de 2017 | N° 18858
EUROPA
Lisboa de cara nova
CAPITAL DE PORTUGAL é coroada Cidade Destaque de 2017 com série de novidades de design urbano e arquitetura que tem transformado o dia a dia dos portugueses e surpreendido os turistas
Lisboa é daqueles lugares que não exigem muito esforço para cair na graça do visitante. A arquitetura histórica, de pequena escala e quase despretensiosa, é responsável por grande parte do charme. Há alguns anos, porém, a cidade se abriu para a possibilidade do redesenho urbano. Fez um plano de reabilitação, encomendou novos espaços e repensou as áreas existentes.
A atividade chamou a atenção do Banco Europeu de Investimento, que liberou 250 milhões de euros para a capital portuguesa investir na renovação urbana até 2020. O resultado veio agora: Lisboa renasceu e foi eleita a Cidade Destaque de 2017. A coroação vem de um seleto júri de design e arquitetura da revista britânica Wallpaper, uma das mais renomadas do mundo.
– Essas iniciativas são uma boa maneira de expandir, renovar e estabelecer um diálogo urbano sensível e maduro entre o antigo e o novo, onde uma arquitetura de qualidade faz toda a diferença – diz o arquiteto e urbanista Marco Dudeque, que leciona na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ele compara:
– Boa parte das cidades europeias já passou por algum tipo de renovação urbana. Talvez a mais conhecida se deu em Paris que, nas mãos do barão de Haussmann, passou por uma revolução urbana até 1870. Lisboa, nas últimas décadas, tem investido na construção de edifícios projetados por arquitetos de renome internacional, criando assim novos marcos urbanos e incrementando o turismo.
Para o arquiteto e urbanista português Miguel Baptista-Bastos, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, a premiação é justa.
– As novas edificações têm contribuído para a melhora da cidade e a maneira como ela é usufruída pelos cidadãos, trazendo novos estímulos – explica ele. – Lisboa é uma das metrópoles mais belas do mundo, não só pela sua história, morfologia, diferentes tipos de arquitetura no mesmo local, uma luminosidade única, como também por sua população, que é de uma enorme simpatia e tem um desprendimento muito salutar.
Confira algumas das novas edificações que redefiniram a linguagem arquitetônica da capital portuguesa, principalmente na região de Belém e nas proximidades do Rio Tejo.
CENTRO CHAMPALIMAUD
A Fundação Champalimaud é uma instituição privada de utilidade pública que se dedica a desenvolver pesquisas biomédicas, principalmente nas áreas de oncologia e neurociências. Em 2010, inaugurou um centro de mesmo nome para fomentar ainda mais pesquisas científicas multidisciplinares.
O projeto é do arquiteto indiano Charles Correa, que criou uma bela relação com a paisagem, devolvendo à cidade uma importante área na zona ribeirinha de Pedrouços, junto a Belém, onde o Rio Tejo encontra o Atlântico, como lembra o arquiteto Marco Dudeque.
O centro é formado por três grandes edifícios interligados e um jardim tropical.
– Neste edifício, percebemos de modo subliminar, porém, visível, a influência do arquiteto Álvaro Siza, nome que não pode ficar de fora quando se trata de arquitetura contemporânea em Portugal – destaca o professor da UFPR.
MAAT
O novo hotspot da cidade é o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), com projeto da arquiteta britânica Amanda Levete. Inaugurado em 2016 no local da antiga central elétrica Central Tejo, em Belém, o museu traz uma linguagem mais fluida e escultural, em que a arquitetura se mimetiza com o terreno em suaves curvas rampeadas, reconectando a cidade à orla marítima, como avalia o professor da UFPR Marco Dudeque.
Apesar do diálogo inteligente com o entorno, a obra de Levete parece com um monstro saído das profundezas do rio, já que sua fachada é coberta por um revestimento geométrico que lembra a pele de uma cobra. A obra custou um total de 17 milhões de euros, que foram subsidiados pela Fundação EDP, um braço empresarial da maior compa- nhia de energia de Portugal. Existem planos de transformar um grande reservatório de gás da região em um restaurante assinado pelo astro Philippe Starck.
MUSEU DOS COCHES
O museu público, que abriga uma das maiores coleções de carruagens do mundo, é o mais visitado de Portugal e precisou sair de um antigo palácio neoclássico do século 18 em meados dos anos 2000, quando a questão ganhou a pauta política.
O arquiteto comissionado foi o brasileiro Paulo Mendes da Rocha, um dos últimos da heroica geração de modernistas brasileiros da Escola Paulista e o único brasileiro vivo a ter um Pritzker na prateleira, o prêmio de arquitetura mais importante do mundo. O museu continuou na região de Belém e assumiu a ideia de uma praia comunal, elevando-se do chão e criando um novo espaço público. Foi aberto em 2015.
Agência Gazeta do Povo -LUAN GALANI
DICAS DE QUEM MORA POR LÁ
Nascida em Cruz Alta, a jornalista Mariana Scalabrin Müller, 28 anos, está em Lisboa fazendo doutorado. A seguir, ela dá dicas muito legais para aproveitar a capital portuguesa fora das grandes atrações turísticas.
Fundação Gulbenkian
Fora do centro histórico está a Fundação Calouste Gulbenkian (gulbenkian.pt), um espaço lindo que reúne museu, teatro e jardim aberto ao público. Quem gosta de arte pode visitar a Coleção do Fundador, que tem obras de diferentes períodos e áreas. Arte egípcia, greco-romana, islâmica e do extremo oriente são exemplos do que você pode encontrar por lá. Todos os domingos, a partir das 14h, a entrada no museu é gratuita para a coleção permanente e para as temporárias. Também é possível só passear pelos jardins da Fundação, que tem entrada gratuita sempre. Muita gente aproveita os gramados da Gulbenkian para tomar sol, fazer piquenique ou trabalhar (o wi-fi é liberado!). Dá para chegar pela linha azul do metrô, descendo na estação São Sebastião.
Campo de Ourique
O Mercado da Ribeira (ou Time Out Market Lisboa) já é um dos lugares onde mais se encontra turistas em Lisboa. O que nem todo mundo sabe é que a cidade tem outros mercados fora da região central. Um deles é o Mercado de Campo de Ourique (mercadodecampodeourique.pt), reformado em 2013. O espaço é bem menor, costuma estar menos muvucado e tem opções gastronômicas para todos os gostos: bacalhau, carpaccio, hambúrgueres veganos e, claro, doces incríveis.
Sugiro aproveitar para visitar a Casa Fernando Pessoa (casafernandopessoa.cm-lisboa.pt), que fica a três quadras do mercado e vende livros e lembrancinhas do poeta. Se tiver sol, caminhe até o Jardim da Estrela, um parque que tem lago, brinquedos para crianças e um coreto fofíssimo. Fica a poucas quadras do mercado, também no bairro de Campo de Ourique. Quem estiver no centro histórico pode chegar até a região com o elétrico 28, famoso por estar sempre lotado e pelos furtos ocasionais. As outras opções são ônibus, táxi, Uber ou Cabify.