quinta-feira, 25 de julho de 2024



25 de Julho de 2024
CARPINEJAR

Foram 204 dias

O torcedor colorado só teve 204 dias em 2024. O ano já acabou. Não desfrutou do direito a 366 dias como os devotos dos demais clubes. O tropeço na Sul-Americana abreviou o nosso calendário e qualquer chance de título.

Roger Machado encerrou moralmente seus trabalhos antes mesmo de começar. Poderia estar o interino na casamata ou o próprio Coudet, pois não existiu nenhuma subida de ânimo e virada de chave nas decisões da última semana.

Só sobrou o inalcançável Brasileiro, com uma diferença de 20 pontos em relação ao líder Botafogo. Acompanha o modesto Vitória da Bahia na disputa de uma única competição até o estertor da temporada.

Eu percebi que o Inter seria eliminado, não quando levou o gol de Sández no primeiro tempo, mas quando Alan Patrick empatou na etapa final. A partir dali, nada mais faríamos. Nossa produção ofensiva sempre se esgota com um gol. Com um gol franzino. Com um gol da desonra. Tem sido assim desde 4 de junho.

A previsibilidade se tornou trágica. É a oitava eliminação no Beira-Rio de 2021 para cá: Rosario Central, Juventude, Fluminense, América-MG, Caxias, Melgar, Olímpia e Vitória. Acostumaram o Gigante ao fracasso, ao velório. Abriu-se um novo cemitério na Padre Cacique.

A direção do Inter, sua comissão técnica, seus jogadores deveriam ter vergonha de convocar o torcedor para o estádio. Não sei qual prazer sádico é esse de ver o Beira-Rio lotar para testemunhar sucessivas humilhações.

É como se o marido traído chamasse seus amigos para a frente de um motel, com o objetivo de aplaudir sua esposa saindo de lá de braços dados com o amante. A sensação da massa vermelha é de completa e desolada traição. O time traiu a torcida. A presidência traiu a torcida.

Parece que ninguém que manda entende de futebol. Foram R$ 80 milhões postos no lixo em 10 contratações. Quisera estar errado. Quisera morder a língua. Mas como confiar em milagres se não há um único santo?

Há muito tempo, o Inter não é o glorioso Inter. É um arremedo, um amontoado de jogadores, sem gana, sem vontade, sem verticalização, sem entrosamento, com o desleixo e a indolência de atletas que ganham fortunas para se fardar e não se identificam com o clube.

Já não se acredita em Enner Valencia, em Rafael Borré, em Alario. Há mais expectativa com o guri de 16 anos Gabriel Carvalho do que nos medalhões, porque ele torce para o Inter, ele gosta do Inter. O desprezo às categorias de base vem sendo um dos motivos de tantos fiascos. Dos times brasileiros, o Colorado é um dos que menos efetiva revelações de seu celeiro. Faz vista grossa para a formação.

Todos os nossos grandes títulos estavam ligados a expoentes que surgiram de nossos Centros de Treinamento: Sóbis, Pato, Taison, Daniel Carvalho, Luiz Adriano. Andamos na contramão da nossa história. Sequer há como dizer que o Inter caiu de pé. Caiu rastejando, tombou merecidamente com a sua pior campanha na Sula, atravessando a constrangida repescagem depois de enfrentar adversários inexpressivos e amadores, acumulando três empates e duas derrotas.

Atolado em dívidas, desprovido de polpudas premiações na passagem de fases dos mata-matas, o que nos resta, mais uma vez, é rezar pelos 45 pontos.

Agora eu compreendo perfeitamente o motivo de Abel Braga não aceitar o convite para assumir a direção do futebol. Do alto de sua sabedoria de bruxo e campeão mundial, já se deu conta de que está tudo errado.

CARPINEJAR

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