segunda-feira, 8 de julho de 2024


08 DE JULHO DE 2024
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

O legado do Catarina para SC

Há 20 anos, uma grande área localizada a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre sofreu com um fenômeno meteorológico inédito na região. Foi o primeiro furacão a atingir a costa do Atlântico Sul, afetando parte do litoral sul de Santa Catarina, com reflexos no litoral norte gaúcho.

Batizado de "Catarina", o furacão durou oito horas entre a noite do dia 27 e a madrugada de 28 de março de 2004, com ventos que ultrapassaram 180 quilômetros por hora, deixaram um rastro de destruição e 11 mortes. Os prejuízos materiais passaram de R$ 200 milhões. O fenômeno fez com que a estrutura governamental de Santa Catarina mudasse sua percepção sobre prevenção.

A chegada do furacão foi acompanhada pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram) da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Os alertas ao Estado começaram a ser emitidos quatro dias antes. Segundo o meteorologista da Epagri/Ciram Clovis Levien, que coordenava o setor da entidade à época, imagens de satélite possibilitaram que o fenômeno fosse definido como furacão.

- Começamos a afinar com a Defesa Civil (DC), organizando de quais áreas iríamos retirar a população, principalmente a mais próxima do mar - explica Levien.

No dia seguinte, com casas destelhadas, árvores e postes caídos, teve início o trabalho de entrega de lonas e atenção a desalojados e desabrigados. Ao todo, 21 municípios catarinenses foram afetados. No RS, as cidades mais atingidas foram Torres, Dom Pedro de Alcântara, Arroio do Sal e Três Cachoeiras.

- A partir do Catarina, todos os governadores foram valorizando a Defesa Civil e estruturando o órgão cada vez mais. O ritmo cresceu muito, culminando na criação da Secretaria da Defesa Civil e a sua estruturação extremamente tecnológica - conta Eduardo Pinho Moreira, então vice-governador.

Atualmente há 42 estações hidrometeorológicas da Defesa Civil no Estado. São também 591 sensores de superfície. Há quatro radares meteorológicos e uma antena de imagem de satélite.

Nessa estrutura, há o Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd), onde opera o Centro de Integrado de Operações (Ciop), que reúne representantes de secretarias para analisar onde atuar em casos de emergências. O Cigerd também conta com 20 unidades regionais espalhadas pelo Estado.

- Podemos antecipar como vamos responder aos fenômenos, preparar os municípios. E isso não apenas da parte estrutural, mas nas secretarias como a de Saúde, de Educação, de várias pontas - explica o atual secretário de Proteção e Defesa Civil de SC Fabiano de Souza. _

Mercado Público a pleno até o final de julho

A expectativa de que na segunda quinzena de julho o Mercado Público da Capital esteja em pleno funcionamento está perto de se efetivar.

Conforme o secretário de Administração e Patrimônio de Porto Alegre, André Barbosa, até o dia 20, 90% dos mercadeiros devem estar com a operação total. Além disso, uma licitação para novas sete lojas, dos andares térreo e superior, deve ser lançada ainda neste mês.

- Está evoluindo rápido a reconstrução e a remontagem. Até o final de julho, todas estarão funcionando - afirmou.

Segundo Barbosa, atualmente 70% das lojas estão em funcionamento. _

Entrevista

Sônia Bridi - Jornalista da Rede Globo

"Estamos vivendo a ignorância do passado e a estupidez do presente"

Cobrindo mudanças climáticas há 30 anos, a jornalista Sônia Bridi, da TV Globo, avalia semelhanças e diferenças entre eventos extremos.

O que você tem percebido de similaridades entre os eventos?

Todos se encaixam naquela carteirinha de coisas que os cientistas já estavam falando que iam acontecer. Esses eventos extremos que já estavam descritos que iriam acontecer estão acontecendo muito antes do que se esperava e de maneira mais intensa. Acho que, se não houver um despertador mais forte que esse para as pessoas acordarem, não sei o que mais precisa.

São vários eventos diferentes em cenários diferentes...

A característica desses eventos é que são extremos, não é uma sequinha, é uma mega seca. Não é uma enchente, é uma mega enchente. São os eventos extremos, que não acontecem só por causa da mudança do clima. A mudança do clima potencializa as coisas, mas se você tem uma região onde o solo que devia ser preservado para absorver a água e virou outra coisa, vai se ter essa enchente mais intensa. O que estamos vivendo hoje é a mistura de ignorância do passado, em que muita coisa foi feita, em que não sabíamos que estavam mexendo com a atmosfera, com a estupidez e a ganância do presente, que segue como se não houvesse consequência de nossas ações. O prejuízo é coletivo e o lucro é de dois ou três.

? Uma pesquisa do DataFolha aponta que, em primeiro lugar, as pessoas culpam os governos municipais pelo que houve no RS e, em segundo, culpam a própria população. O que falta mudar na cabeça das pessoas?

Acho que uma das razões das pessoas se sentirem culpadas é pelas péssimas escolhas que fazem quando votam. O Congresso está cheio de negacionistas do clima. E eles têm apoio oficial, dos governadores, dos prefeitos, no próprio Legislativo, do governo federal. Então, tudo isso está acontecendo porque não estamos fazendo as escolhas certas de botar para cuidar do nosso futuro quem consegue compreender a gravidade que nos aguarda. 

Mas, ao mesmo tempo, não seria assim tão dura com essas pessoas, porque as campanhas de desinformação são brutais. É hora de apontar responsabilidades, no sentido de dizer: "Olha, ou vocês vão levar a sério a ciência ou vão ter de assumir a responsabilidade pelas mortes". Quem nega a ciência nesse momento, está contratando a morte.

? Qual a importância da educação e da imprensa?

São fundamentais. Qualquer política pública que tenha um pingo de responsabilidade respeita a ciência e espalha o conhecimento científico. _

Antagonismos franceses

O primeiro e o segundo turno da França foram antagônicos (leia mais na contracapa). Se na primeira votação a extrema-direita do partido Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, teve a maioria, a união de esforços de Emmanuel Macron e da esquerda fez com que a maioria das cadeiras ficasse com o partido Nova Frente Popular (NFP).

Nenhuma das correntes obteve a maioria absoluta de 289 representantes. O alcance seria importante, pois indicaria o primeiro-ministro. Jean-Luc Mélenchon, líder da NFP, proclamou que Macron deveria "formar um governo com a esquerda".

Jordan Bardella, líder do RN, reconheceu a derrota e não deslegitimou as urnas. Na França, a "república" e a "democracia" são grandes símbolos.

Agora, está nas mãos de Macron. Cabe a ele a escolha do novo primeiro-ministro, seja do seu partido ou da esquerda. E terá de dialogar, pois até 2027 ele está na presidência e precisa do apoio para continuar trabalhando para não ter mais antagonismos franceses. _

INFORME ESPECIAL

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