quarta-feira, 19 de julho de 2023


Lacração e "vergonha alheia"

Um dos reflexos mais tristes da escalada da radicalização, da agressividade e da "lacração" no Brasil é o hábito cada vez mais comum de hostilizar pessoas públicas aos gritos e palavrões sem qualquer sinal de pudor, seja onde for. Triste e vergonhoso, falta de educação mesmo, não tem outra definição para isso.

O episódio envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, no Aeroporto Internacional de Roma, na Itália, é só mais um entre tantos casos a lamentar.

Os ataques a personalidades - em especial políticos, juízes e artistas - já atingiram gente como Gilberto Gil, em um jogo na Copa do Mundo do Catar, Ciro Gomes (PDT) no aeroporto de Miami, nos Estados Unidos, Regina Duarte em um teatro de São Paulo, Rodrigo Maia (PSDB) em um resort na Bahia e Chico Buarque em um restaurante no Rio de Janeiro.

Repare que a lista inclui políticos de diferentes partidos e artistas com posições ideológicas bem distintas e vem se ampliando nos últimos anos. Não é só a extrema direita que agride, embora a turma da esquerda goste de pensar assim.

É curioso como quem ataca, em geral, acha que sair falando os maiores impropérios para o outro é um "direito" e ainda se orgulha de agir dessa forma, inclusive diante de crianças e idosos - coisa que, no passado não muito distante, causaria desconforto em qualquer pessoa minimamente civilizada e enrubesceria nossos bisavós.

Note bem: se o(a) agressor(a) se identifica com a direita, em algum momento, vai usar a "liberdade de expressão" para defender o indefensável, como se ofender e caluniar estivessem contemplados nesse conceito tão caro à democracia. Se for de esquerda, o indivíduo vai argumentar, do alto de uma superioridade moral autoproclamada, que não se trata de ataque, mas de "luta contra o fascismo".

Razões para críticas sempre existiram e seguirão existindo, de todos os lados. Pessoas públicas sabem que há o ônus e o bônus de assumirem essa condição. É natural que sejam criticadas, questionadas, fiscalizadas de perto e, se for o caso, processadas. Mas continuo achando que nada justifica a selvageria.

INFORME ESPECIAL 

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