quinta-feira, 20 de julho de 2023


20 DE JULHO DE 2023
TULIO MILMAN

Marcas, transparência e lealdade

Desnecessário revelar nomes. Minha intenção é refletir sobre a importância da relação de confiança entre as marcas e seus consumidores. Faz um ano e pouco, troquei de carro. Costumo ficar com o mesmo por muito tempo. Entendo quem curte motores e carrocerias, mas não atribuo valor demais a esse tipo de bem. Penso na segurança e na relação custo-benefício. Tanto faz se o para-choque é pintado ou se o farol é redondo ou quadrado, desde que funcione.

Percorri algumas concessionárias até encontrar um modelo na faixa de preço e com os itens mínimos que eu buscava. Tudo lindo. Foi então - e eu nem desconfiava - que começou a pegadinha. "As primeiras revisões são grátis", me avisaram. Ótimo, pensei. Na primeira, foi mesmo. Agendamento online, prazos cumpridos, serviço ótimo. Na segunda, entendi o truque - não da ótima revenda, mas da fábrica espertalhona. 

Deixei meu carro na recepção pela manhã e pouco tempo depois recebi uma mensagem: "Vimos que seu carro precisa de troca das pastilhas de freio". Como a foto veio junto e eu conheço a seriedade da empresa, não havia motivos para duvidar do aviso. Elas realmente estavam desgastadas. Valor do serviço: cerca de R$ 700. Achei estranho, primeiro porque o carro tem apenas um ano e meio e, segundo, porque sou um motorista cuidadoso. Raramente dou freadas bruscas ou abuso dos pedais.

Questionei um especialista e ele me explicou que, no modelo do meu carro, é normal que as pastilhas de freio gastem rapidamente. "Muitas vezes até antes das tuas". Foi aí que me caiu a ficha: revisão grátis, uma pivica. O conceito de obsolescência programada é antigo. Significa projetar o tempo de vida de uma peça ou de um mecanismo para, assim, obrigar o consumidor a investir na troca. No caso, podemos chamar de "armadilha". Ninguém me convence de que uma montadora do tamanho da que fabricou o meu carro não consegue, com o mesmo esforço, entregar uma peça de melhor qualidade.

Sou a favor da economia de mercado e entendo que as empresas precisam vender. Mas precisam, acima disso, de transparência e de lealdade com seus consumidores. Quando esse tipo de malandragem acontece, me sinto enganado, porque ninguém me avisou que a revisão era grátis, mas que eu teria de trocar as pastilhas antes de pagar a última prestação. Bem que eu deveria ter desconfiado. Não existe almoço grátis. Nem revisão de carro.

TULIO MILMAN

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