Competências e Habilidades Socioemocionais - Davos 2020
O que me credencia a escrever este artigo?O propósito deste artigo é instruir de como proceder para que nossos filhos não participem das estatísticas da OMS – Organização Mundial de Saúde – sobre jovens em depressão ou ansiedade crônica. O artigo fundamentado em evidências recentes de pesquisas científicas. Algumas delas publicadas em outubro de 2019.
Além
de pai de uma adolescente e uma criança, sou especialista em aprendizagem
socioemocional – com mais de 10.000 horas dedicadas – treinamento de
funcionários de empresas, pais, adolescentes e profissionais em geral. Estou
focado em contribuir com pais de adolescentes que se veem em situação
despreparada quando solicitados pelos filhos na escolha de uma carreira.
Está
também no nosso foco profissional os que pensam ou, até mesmo, são forçados a
mudar de profissão ou de ofício por exigência do mercado. Também visa as
pessoas fora do mercado de trabalho que estão tentando retorno. Após longos
anos de atividades empresarial em diversos setores, há 7 anos dedico
exclusivamente a estudos, pesquisas e desenvolvimento do método MIDE, um
programa de aprendizagem socioemocional (ASE) para jovens e adultos.
O
MIDE faz parte de um movimento global nascido na Universidade Yale - Estados
Unidos -, 1992, com o intuito de desenvolver competências e habilidades
socioemocionais aos jovens em situação vulnerável da cidade de New Haven,
cidade onde a Universidade está estabelecida. O conceito ganhou notoriedade e
se tornou um movimento global, com centenas de programas já implementados em
escolas do mundo todo.
O
Mercado empresarial só despertou para as habilidades socioemocionais em 2014
quando o WEF - Fórum Econômico Mundial – publicou, alertando, que profissionais
sem essas habilidades teriam dificuldades de manter seus empregos ou entrar no
mercado de trabalho. Todos os anos o WEF atualiza e publica a relação das 10
competências e 10 habilidades socioemocionais pela ordem de demanda do mercado.
(Em nosso Blog você encontra um artigo com relação atualizada, publicada pelo
WEF em janeiro de 2020.)
Acompanho
esse movimento antes mesmo dele fazer parte da agenda do WEF e observei que as
competências sofreram significativas alteração de 2014 para 2020, enquanto as
habilidades socioemocionais permaneceram praticamente as mesmas.
É
fenômeno simples de explicar, desde que resolvemos viver em sociedade, somos
demandados pelas habilidades socioemocionais. Nas últimas três décadas, os
brasileiros passaram, em média, de 11 a
20 anos dentro de uma escola e universidade, mas formaram sem essas
habilidades. Só agora, janeiro de 2020,
a BNCC - Base Nacional Comum Curricular - introduziu
habilidades socioemocionais nos currículos de todas as escolas públicas e
privadas do Brasil. Com o advento da revolução industrial os sistemas
educacionais se adequaram em cima de apenas duas das nove inteligências:
lógico-matemática e linguística.
Habilidades
Socioemocionais
É
uma ampla gama de habilidades não acadêmicas desenvolvidas em programas de
aprendizagem socioemocional (ASE) pelo qual as pessoas:
1.
Entendem e gerenciam emoções.
2.
Estabelecem e alcançam objetivos positivos.
3.
Sentem e mostram empatia pelos outros.
4.
Estabelecem e mantêm relacionamentos positivos.
5.
Tomam decisões responsáveis.
Estas
habilidades se desenvolvem ao longo de nossas vidas e são essenciais para o
sucesso na escola, no trabalho, no lar e na comunidade, aumentando a capacidade
das pessoas de integrar habilidades, atitudes e comportamentos para lidar de
maneira eficaz e ética com as tarefas e os desafios diários.
Este
é um aspecto muito importante, as habilidades socioemocionais são
desenvolvidas, principalmente, no ambiente familiar reforçando uma crença
popular de que a família é a base da sociedade.
O
estudo científico do psicólogo norte-americano Howard Gardner, pesquisador e
professor da Universidade de Harvard, denominado “As Mentes que Mudam”, reforça
que nem mesmo a escola modela a mente de uma pessoa mais do que os próprios
pais.
Gardner
é precursor do movimento mundial ASE ao publicar sua teoria das Múltiplas
Inteligências em 1984 pela Universidade de Harvard.
A
teoria das MI foi utilizada em bases curriculares de países como Dinamarca,
Noruega, Irlanda, Coréia do Sul, China, Singapura, etc.
Antes
de pensar na carreira entenda competências e habilidades
Como
orientar a escolha da carreira em águas tão turbulentas como as em que estamos
navegando em 2020 e que prometem ficar assim pelo menos até 2030.
O
que é uma competência?
Competência
é a mobilização de: conhecimentos, habilidades práticas, habilidades
cognitivas, habilidades socioemocionais, atitudes e valores, para resolver
demandas complexas da vida cotidiana no pleno exercício da cidadania e do mundo
do trabalho.
Veja
a relação das competências relacionadas pelo WEF – 2020. As competências estão
ordenadas pela análise de demanda:
Pensamento
analítico e inovação;
Aprendizagem
ativa e estratégias de aprendizagem;
Criatividade,
originalidade e iniciativa;
Projetos
e programação de tecnologia;
Análise
e pensamento crítico;
Resolução
de problemas complexos;
Liderança
e influência social;
Inteligência
emocional;
Raciocínio,
resolução de problemas e ideação;
Análise
e avaliação de sistemas.
Veja
a relação das habilidades socioemocionais relacionadas pelo WEF – 2020.
As
habilidades socioemocionais estão ordenadas pela análise de demanda:
1.
Criatividade;
2.
Originalidade;
3.
Iniciativa;
4.
Pensamento crítico;
5.
Persuasão;
6.
Negociação;
7.
Atenção aos detalhes;
8.
Resiliência;
9.
Flexibilidade
10.
Resolução de problemas complexos.
Normalmente, um pai ou os próprios jovens olham para essas duas relações e aumentam sua ansiedade que já está nas alturas. Começar por onde? Priorizar quais? Como conciliar com a educação formal que toma 110% do tempo disponível – 10% estão tirando da juventude - dos adolescentes em testes avaliativos e preparação para o vestibular?
Apresentamos
essas duas relações à centenas de jovens do ensino médio de duas escolas
renomadas, muitos sabiam o significado das palavras, mas menos de 3% souberam
traduzir na prática.
Esse
fenômeno é denominado de “Conhecimento inerte – está na memória, mas a pessoa
não sabe como usá-lo -”.
Isto
não nos surpreendeu, pois este é o ponto crítico dos sistemas educacionais, não
só no Brasil, uma vez que os jovens estão recebendo uma sobrecarga de
conhecimento inerte e não estão desenvolvendo a competência de criar um
contexto para o conteúdo.
Nós
acreditamos que o melhor caminho seja focar nas habilidades, veja a definição
de competência de forma mais analítica.
Competência
é a mobilização de:
Conhecimentos
Nesse
quesito acredito que nossos currículos estão bem orientados pela BNCC – Base
Nacional Comum Curricular -.
Como
as escolas optam por passar o conteúdo estabelecido é o que as diferencia.
Habilidades
práticas
As
escolas e pais não conseguem focar nessas habilidades devido à sobrecarga de
conteúdo e pressão por resultados no vestibular. Essas habilidades dependem
muito dos estágios nas empresas ou das empresas júnior e incubadoras das
universidades.
O
Brasil está travado exatamente nesse ponto.
Os
jovens brasileiros estão sendo os mais afetados pela deterioração do mercado de
trabalho. No último trimestre de 2019, 41,8% da população de 18 a 24 anos fazia parte do grupo dos
subutilizados — ou seja, estavam desempregados, desistiram de procurar emprego
ou tinham disponibilidade para trabalhar por mais horas na semana.
A
ABRES - Associação Brasileira de Estágio - vêm alertando para esse problema a
mais de uma década. De todos os alunos que estão no ensino médio hoje, só 22%
irão ingressar em uma Universidade.
A
evasão está em 64%, ou seja, apenas 8 alunos que estão no ensino médio irão se
graduar. O mercado de estágios só absorve 4 formandos, sendo que 2 seguirão
carreiras diferentes daquelas para as quais se formaram.
Em
vez de irem para a faculdade a fim de se habilitar a bom emprego, os alunos
vão, cada vez mais, a procura de emprego para obter diploma universitário.
O
que isso significa, exatamente?
O
caminho sempre foi assumido na ordem: primeiro, vá para a faculdade e depois
faça um bom trabalho.
Hoje,
a principal razão pela qual os brasileiros valorizam e buscam o ensino superior
é "conseguir um bom emprego".
Se
houvesse caminho para conseguir um bom emprego primeiro. Emprego que viria.
Essa
alternância de valores será problema para as universidades e faculdades no que
diz respeito à qualidade do ensino superior.
com
o diploma universitário. Num futuro próximo, um número substancial de
estudantes (incluindo muitos dos mais talentosos) trabalhariam diretamente para
empregadores que oferecessem um bom trabalho. Além do diploma universitário , o
estudante teria, também, o caminho para uma grande carreira.O ensino superior
não será eliminado do modelo; diplomas e outras credenciais permaneceram
valiosos e desejados. O mercado e as empresas, com suas exigências, serão os
grandes motivadores. Um número crescente de jovens conseguirão empregos indo
diretamente às empresas e ao mercado.
Veja
a opinião da Universidade de Harvard:
"Ainda
não surgiu uma alternativa clara para as universidades e, embora não exista um
caminho claro para interromper o ensino superior, existem pontos problemáticos
que aqueles de nós, no campo da educação e além, poderiam estar enfrentando.
Em
algum momento, uma alternativa viável provavelmente surgirá e vemos seis razões
que justificam a exigência de algo diferente:
Os empregadores
precisam de habilidades, não apenas conhecimento ou títulos;
Os
estudantes querem empregos, não conhecimento ou títulos;
Os
estudantes estão pagando cada vez mais para obter cada vez menos;
Os
alunos têm expectativas irreais (compreensivelmente) sobre a faculdade;
Muitas
universidades de elite priorizam a pesquisa, geralmente à custa do ensino;
Em
vez de aumentar a meritocracia, as universidades reforçam a desigualdade."
Habilidades
cognitivas
Esta
é a segunda habilidade mais importante, ficando atrás das habilidades
socioemocionais. Mas jovens, e profissionais, que desenvolverem suas
habilidades socioemocionais passarão a depender para o resto de suas vidas das
habilidades cognitivas.
A
realidade no mundo digital de hoje é que precisamos ensinar todas as gerações a
aprender, desaprender e reaprender - rapidamente - para que possam transformar
o futuro do trabalho, em vez de serem transformadas por ele.
Aparentemente,
as universidades são uma boa ideia. Você entra, escolhe um assunto que gosta,
aprende com os especialistas e não está preparado para o trabalho e o
futuro. É por isso que tantas pessoas
(cerca de 40% nos países ricos) decidem
fazer faculdade, mesmo que isso signifique fazer grandes sacrifícios financeiros
e pessoais.
No
entanto, apenas porque muitas pessoas estão fazendo isso não significa que é
necessariamente uma coisa boa a fazer. De fato, embora geralmente exista um
custo - em termos de perspectiva de emprego de não ter um diploma universitário,
nem sempre há vantagens competitivas claras em ter um diploma, especialmente se
quase metade da população tiver um.
Esta
habilidade significa sua capacidade de estudar e criar um contexto de
aprendizagem, ou a capacidade de aprender – desaprender – aprender novamente.
Ainda,
capacidade de pensar sistemicamente, em um mundo cada vez mais complexo o
pensamento sistêmico deveria ser introduzido já no ensino médio.
Existe
um estudo do psicólogo norte-americano Howard Gardner – Harvard – sobre as
cinco mentes que um profissional precisa desenvolver para sobreviver no século
XXI:
1.
Mente disciplinada: aquela que entendeu que precisa buscar conhecimento todos
os dias; uma mente apaixonada pelo aprender.
2.
Mente sintetizadora: com o volume de conteúdo dobrando a cada 48 horas, esta
mente complementa a primeira.
3.
Mente criativa: a mente que buscou o conhecimento (Mente disciplinada),
sintetizou a essência (Mente sintetizadora) e cria um novo contexto de
aprendizagem; pesquisas apontam que os maiores avanços e descobertas da
humanidade saíram de uma tentativa de síntese de um estudo de outra pessoa;
quando estamos tentando sintetizar um estudo abrimos nossa mente para novos
insights.
4.
Mente Ética e Mente Respeitosa: como trabalhamos que respeito é um dos
princípios pilares da ética, estas duas mentes poderão ser trabalhadas juntas;
podemos traduzir essas mentes como aprender a tomar decisões responsáveis,
pensando no bem comum e exercendo a excelência em todos os trabalhos que nos dispormos
a fazer.
Habilidades
socioemocionais
É o
que um programa de aprendizagem socioemocional (ASE) deve proporcionar aos seus
alunos.
Habilidades
socioemocionais representa uma ampla gama de habilidades não acadêmicas de que
os indivíduos precisam para estabelecer metas, gerenciar comportamentos,
construir relacionamentos e processar/lembrar informações.
Essas
habilidades e competências se desenvolvem ao longo de nossas vidas e são
essenciais para o sucesso na escola, no trabalho, no lar e na comunidade.
De
um modo geral, esse conjunto de habilidades pode ser organizado em três áreas
inter-relacionadas: cognitiva, social e emocional.
É
importante ressaltar que essas habilidades e competências se desenvolvem e
estão em interação dinâmica com atitudes, crenças e mentalidades, além de
caráter e valores, os quais estão fundamentalmente ligados às características
dos ambientes.
Há
um equívoco comum de que todos precisaremos desenvolver habilidades altamente
tecnológicas ou científicas para ter sucesso.
No
entanto, embora seja necessário que as pessoas trabalhem com a tecnologia,
também estamos vendo necessidades
crescente de desenvolver habilidades especializadas para com que elas se
interagem.
Atitudes
e Valores
Estes
dois quesitos de uma competência interagem diretamente com as habilidades
socioemocionais.
Não
tem como desenvolver plenamente as habilidades socioemocionais sem envolver
atitude e principalmente valores.
Atitude
e valores é a tradução para as cinco competências essenciais da aprendizagem
socioemocional (ASE): autoconsciência, autogestão, consciência social,
habilidades de relacionamento e tomada de decisões responsável.
Por
isto não tem como desassociar “Habilidades Socioemocionais” de “Atitudes e
Valores”.